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Nuno Gomes (ao meio) e a sua equipa, a NG Team by Nuno Gomes.
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Nuno Gomes é um nome incontornável no setor imobiliário nacional. Foi eleito, entre 2008 e 2012, o vendedor número um em Portugal. E em 2009 e 2010 foi considerado também o melhor a nível europeu. Assinala este ano 10 anos de parceria com a Remax, tendo decidido abrir a sua própria agência (nova Remax Prestige, na Avenida de Roma), um projeto que nasceu com os parceiros da Equipa Nuno Gomes. "A crise trouxe aspetos muitos positivos para o mercado imobiliário, porque a partir daqui tudo mudou", conta, em entrevista ao idealista/news

Fala-se muito na dinamização do mercado de arrendamento, mas os portugueses são acima de tudo proprietários. Vai continuar a ser assim? 
Sim, há muito que existe uma cultura de posse, isto é algo muito cultural, muito nosso (português). Mas muitos não têm capacidade de ser proprietários se não forem alavancados pela banca. É bom que se aposte na reabilitação e no arrendamento. A reabilitação torna as cidades mais seguras, mais atrativas, o que as valoriza. É duro dizer, mas a crise teve um lado positivo, se pensarmos estritamente no mercado imobiliário: disciplinou e tocou as pessoas. A crise trouxe aspetos muitos positivos para o setor, porque a partir daqui tudo mudou. Com a expetativa de que um imóvel estava sempre a valorizar gerava-se mais-valias tremendas e isso tinha de acabar. E nós, portugueses, temos uma grande capacidade de adaptação.

A crise já acabou? Já se fala em retoma e em aumento de consumo...
Com a crise, o dinheiro não desapareceu, provavelmente “mudou de mãos”. Há muito dinheiro em Portugal. No ano passado, 98% dos meus negócios foram a pronto pagamento. Agora, o número de compradores baixou. O que aconteceu? Havia uma macrocefalia entre a oferta e a procura. Como não havia concessão de crédito, a procura era muito baixa, estando praticamente restrita aos investidores. Com o Golden Visa, isto é uma das coisas boas do Programa, os bancos foram obrigados a expurgar os “ativos tóxicos”, e isso foi despejado muitas vezes para o mercado internacional, pelo que deixou de haver tanta oferta. Agora a balança está mais equilibrada, daí a tal retoma.

"A crise trouxe aspetos muito positivos para o mercado imobiliário, porque a partir daqui tudo mudou"

As casas mais caras continuam a ser aquelas que têm mais possíveis compradores?
Sim, porque há uma maior garantia de investimento. Uma pessoa que compra uma casa no Chiado sabe que terá de fazer um investimento maior, mas tem a certeza que não vai quebrar. É a zona mais chique, mais “in” de Lisboa. E é uma zona consolidada. Por exemplo, a zona da Expo, antes da entrada massiva de cidadãos estrangeiros que procuraram Portugal através do Programa Golden Visa, era uma das mais acessíveis de Lisboa, isto no mercado de habitação nova. Como os asiáticos, por motivos culturais, preferem casas novas, começaram a absorver indiscriminadamente o que havia, e, de facto, onde havia mais construção nova era mesmo na zona da Expo. Foi a escolha possível, não a escolha ideal, diria eu. Agora há o fluxo inverso: temos assistido a muitos proprietários de raiz, isto é, portugueses, a querer sair da zona da Expo exatamente pelas diferenças culturais e porque a entrada foi massiva, indiscriminada não regulamentada. Existe outro problema: o nível de construção é, em alguns casos, deficitário. Há relatos de que em certos condomínios as pessoas estão proibidas de tomar banho depois das duas da manhã, para não incomodarem outros condóminos. Ainda assim, foi um projeto a meu ver bem conseguido, embora alicerçado numa construção débil.

Ainda há espaço para construção nova em Lisboa?
Ainda há, mas são situações pontuais. Por isso é que também é mais seguro investir no centro de Lisboa. Por exemplo, se comprar uma casa num bairro já consolidado, tenho a certeza que não vai nascer um bairro social ao lado, ou uma estrada... Uma das técnicas que usamos é vender sempre os benefícios que se tem com o imóvel em determinada localização, não são só as suas características. 

"Agora, a balança (entre oferta e procura) está mais equilibrada"

E depois Lisboa está na moda...
É uma cidade maravilhosa. Pela proximidade com a praia, com a floresta, com os parques, com muitos espaços verdes. Lisboa estar na moda é um efeito de marketing viral que se gera. Toda a gente tem curiosidade em conhecer Lisboa. Agora quase tudo acontece na Baixa de Lisboa, ao contrário de há dez anos, que era uma zona feia e pouco valorizada. Às vezes digo, em jeito de brincadeira, que há bairros que têm vida para além das casas… Vou para as zonas periféricas da cidade e tenho vida de tupperware, meto o carro na garagem e saio no apartamento. Quem entra num bairro como o de Alvalade, por exemplo, passa na frutaria, no café e fala com as pessoas, que se conhecem pelo nome. Isso faz toda a diferença. A crise não foi só económica: foi também de confiança, de valores. A retoma tem de ser económica, claro, mas não pode ser “só” económica. Devemos aproveitar esta oportunidade para readquirir os valores de confiança, de proximidade. Características que fazem de nós, portugueses, um dos povos mais simpáticos do mundo.

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