Artigo escrito por Rita Seabra Gomes, colaboradora do idealista/news em Londres.
O problema do acesso à habitação foi um dos temas quentes da campanha eleitoral no Reino Unido. O país foi ontem a votos e deu a vitória ao partido conservador de David Cameron, que renova assim o seu mandato até 2020. A construção de casas novas e descontos na compra de casa própria foram algumas das promessas deixadas pelos candidatos.
O primeiro-ministro que ficará pelo número 10 de Downing Street por mais cinco anos prometeu a construção de 200 mil casas novas, por ano, até 2020, e que serão vendidas com 20% de desconto (do preço de mercado) a compradores com menos de 40 anos que estejam a comprar casa pela primeira vez.
O desconto será possível devido à dispensa no pagamento das taxas que as construtoras teriam de pagar às autoridades locais. No entanto, os compradores não poderão vender essas casas no prazo de cinco anos, sob pena de terem de reembolsar o montante correspondente ao desconto de que beneficiaram.
Os conservadores prometeram ainda gastar mil milhões de libras (mais de 1.300 mil milhões de euros) na recuperação e disponibilização de terrenos outrora ocupados com equipamento industrial ou comercial, para a construção de 400 mil novas casas.
Este volume de construção é considerado essencial para abrandar o ritmo da subida dos preços na habitação e a escassa oferta de casas a preços mais acessíveis no país. Mas chegar a este número não vai ser fácil com as estatísticas a provar que nos últimos anos a construção de casas novas no Reino Unido ficou abaixo das 150 mil por ano.
Mas se há procura, financiamento e vontade política porque é tão difícil construir?
Segundo o site da BBC, principal canal de notícias britânico, um inquérito feito a construtores no início do ano indicava que os mesmos consideram o “modesto” objetivo de construir 200 mil casas por ano, já em 2016, “inatingível”. Os profissionais apontam o dedo ao sistema “burocrático, lento e dispendioso” de todo o processo de licenciamento, bem como à “resistência local” que alguns municípios fazem à nova construção.
O preço a que estas novas casas vão ser postas no mercado ainda está por definir mas claramente as notícias são animadoras para o setor que terá, nos próximos anos, muito trabalho com os novos empreendimentos.
Nesta matéria, as promessas do principal adversário de Cameron, o trabalhista Ed Miliband, que ficou em segundo lugar nas eleições desta quinta-feira, eram bastante semelhantes: 200 mil casas a construir por ano e apoiar quem compra casa pela primeira vez eram medidas que estavam também na lista de Miliband que prometia ainda dar prioridade ao investimento proposto para a construção de casas a preços mais acessíveis.
Miliband propunha ainda dar às autoridades locais poderes para reduzir o número de casas vazias abrindo a porta à aplicação de um imposto municipal mais pesado a habitações vazias há muito tempo.
Já o SNP (Partido Nacional Escocês) liderado por Nicola Sturgeon, e que ficou em terceiro lugar nas eleições, tinha uma proposta mais modesta, prometendo apenas apoiar o investimento à construção de 100 mil casas a preços acessíveis no Reino Unido. Sturgeon defendia ainda que os benefícios concedidos na compra de casa não deviam ser apenas para jovens entre os 18 e os 21 anos.
Rendas só até 80% do valor de mercado
No arrendamento Cameron deverá continuar com algumas iniciativas já em curso como o “Affordable Rent product”, modelo que não permite a agências e proprietários cobrar de renda mais de 80% do valor de mercado em casas novas, construídas no âmbito do programa lançado em 2012, que visa, segundo o governo britânico, pôr também no mercado de arrendamento casas a preços mais baixos, e que já resultou em parcerias de longo prazo entre o setor público e privado.
Ed Miliband propunha, por sua vez, contratos de arrendamento que garantissem ao inquilino pelo menos três anos de permanência na casa arrendada, sem que fosse possível ao proprietário revogar esse contrato, e um teto máximo no aumento das rendas.
Cameron prometeu ainda acabar com o imposto sucessório em propriedades com valor inferior a um milhão de libras.
Londres foi a cidade onde os preços da habitação mais subiram nos últimos anos mas os últimos relatórios do setor revelam que em março se registou uma subida de “apenas" 5,6% no valor das casas (em termos anuais) e que esta foi a mais baixa taxa de aumento nos preços das casas desde novembro de 2013.
Novas infraestruturas
A linha de comboios de alta velocidade entre Londres e Birmingham é atualmente o projeto britânico mais caro no setor dos transportes, com um investimento estimado em 50 mil milhões de libras. A nova infraestrutura não reúne consenso entre os britânicos mas, de acordo com o The Guardian, foi apoiada pelos vários partidos e, por isso, deverá continuar a avançar.
Já a renovação e expansão de um dos principais aeroportos da capital britânica, Heathrow ou Gatwick, continua “no ar”, tendo os partidos optado pelo silêncio sobre este assunto durante a campanha. Esta posição justifica-se com o facto de o relatório da comissão – que está a analisar em qual dos aeroportos é mais urgente aumentar a capacidade – só ser apresentado em julho, diz o The Guardian.
Outro projeto que está a provocar menos polémica e mais entusiasmo, sobretudo na capital britânica, é a construção de uma mega ciclovia de duas faixas que atravessa a cidade de este a oeste, levando os ciclista de uma forma “mais segura” ao centro da cidade. Este projeto vai custar aos cofres britânicos 900 milhões de libras (mais de mil milhões de euros).
Vê em baixo o vídeo da mega ciclovia que o governo britânico prevê estar pronta no verão de 2016.
1 Comentários:
é outro campeonato..... ainda bem que os conservadores continuam á frente do país! assim vamos continuar a crescer por aqui sem aumentar as dividas
Para poder comentar deves entrar na tua conta