
“Em 2021, as iBuyers, que existem há quase dez anos, cresceram mais do dobro em número de transações no mercado imobiliário mais desenvolvido no mundo (EUA), e começam agora a entrar em força em Portugal", dizia-nos Massimo Forte, num artigo publicado em fevereiro, antes do eclodir da guerra na Ucrânia. Muita coisa mudou desde então na economia mundial, nomeadamente no setor imobiliário. Mas o cenário confirmou-se, havendo agora várias iBuyers a operar no país. A primeira destas empresas tecnológicas a “abrir portas” em Portugal foi a Sell and Go, cujo negócio saiu do papel em setembro de 2020, em plena pandemia. “Fechar negócio em pouco mais de uma semana é muitas vezes o objetivo de todos aqueles que se encontram em situações de urgência”, começa por explicar ao idealista/news Francisco Belard, diretor comercial da Sell and Go.
O responsável considera que o facto de a inflação estar em máximos históricos, das taxas de juro estarem a subir e dos custos de construção continuarem a aumentar, entre outros aspetos, terão impacto na mediação imobiliária. “São fatores a ter em conta para quem quer comprar casa, mas também para quem já adquiriu um imóvel”, aponta.
Paralelamente, analisa Francisco Belard, vive-se uma realidade nova, sendo que as necessidades das pessoas ao nível da habitação mudaram. “Acreditamos que existam pessoas que queiram mudar de estilo de vida, como, por exemplo, ir viver para o interior, onde o custo da habitação é mais barato ou, mesmo, trocar a casa por uma mais pequena. Em qualquer uma destas hipóteses, a rapidez com que se consegue vender a casa é fundamental. Por isso, acreditamos que a Sell and Go pode ser um aliado de muitos portugueses também nesta fase”, explica.
Estes são alguns dos temas abordados na entrevista concedida por escrito por Francisco Belard ao idealista/news, que pode ser lida em baixo na íntegra.

A Sell and Go foi fundada em 2020, em plena pandemia. Como é que tudo começou? Como nasceu esta ideia?
A Sell and Go foi a primeira empresa do género a ser lançada em Portugal. É uma alternativa para todos os portugueses que querem poupar meses de espera na venda da sua casa. A criação da empresa foi inspirada em modelos adotados em outros países por empresas proptech – instant buyer, tendo sido lançada em setembro de 2020. Acreditamos ser uma solução de mercado para proporcionar um processo simples, rápido, seguro e transparente, através da conjugação de modelos sofisticados de avaliação com uma robusta base de dados de transações efetivamente realizadas para determinar, com precisão, o valor de mercado de cada casa.
Fechar negócio em pouco mais de uma semana é muitas vezes o objetivo de todos aqueles que se encontram em situações de urgência. O nosso objetivo é sermos um facilitador de vida num processo que tipicamente desgasta o consumidor - a venda de um imóvel.
"Fechar negócio em pouco mais de uma semana é muitas vezes o objetivo de todos aqueles que se encontram em situações de urgência"
O que faz em concreto a Sell and Go? Qual é o modelo de negócio da empresa?
Compramos imóveis para mais tarde os revender. A nossa oferta garante ao cliente rapidez na venda do seu imóvel e sem custos adicionais. O nosso modelo de negócio é uma antítese dos negócios feitos através de outros players do ramo imobiliário, já que permite evitar um conjunto de incertezas e de outros processos, como por exemplo: incerteza em relação ao valor final de venda; inúmeras visitas até a venda ser concretizada; comissões de venda associadas; venda não garantida; ou, entre outros, incerteza em relação aos prazos de venda.
Nesta medida, vender a casa à Sell and Go é um processo simples, rápido e sem custos para o cliente. O processo está dividido em 5 etapas principais:
- O nosso site é a porta de entrada de todos os pedidos de proposta;
- Analisamos o imóvel e, em 48 horas, apresentamos um valor indicativo pelo qual estamos dispostos a adquirir o imóvel;
- Agendamos uma única visita ao imóvel para confirmar o estado de conservação;
- Depois da visita, apresentamos a proposta final de aquisição para o imóvel;
- Caso o cliente aceite a proposta final, marcamos a escritura para um prazo máximo de 10 dias úteis.
É importante referir ainda que caso o cliente não queira prosseguir com a proposta apresentada, após pedido de avaliação, não existe qualquer penalização.
Que balanço faz da operação em Portugal? Está a corresponder como esperado?
Fazemos, até ao momento, um balanço muito positivo destes dois primeiros anos de atividade. Esta fase foi de um investimento claro na afirmação da marca Sell and Go no mercado. Fomos pioneiros num mercado que ainda está a dar os primeiros passos em Portugal, mas que é já muito exigente e obriga a um foco na necessidade do cliente e manter níveis serviço de qualidade. A dinâmica e dimensão do mesmo é variável pelo que exige da nossa parte uma constante atuação na satisfação das necessidades de quem procura vender a sua casa de forma rápida, simples e segura.

A Sell and Go foi a primeira iBuyer a ser lançada e a operar em Portugal, certo? Foi uma decisão de certa forma arriscada, tendo em conta que era novidade, ou pelo contrário foi antes uma oportunidade? A pandemia ajudou, de certa forma, a acelerar o início da operação? Que desafios têm encontrado ao longo do percurso?
Sim, a Sell and Go é a primeira iBuyer do mercado português. Nos últimos anos, tem-se assistido a uma acentuada transformação no mercado imobiliário. Se antes a procura/venda de casa tinha por base essencialmente as agências imobiliárias e os anúncios físicos de venda de imóveis, nos tempos mais recentes o digital tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos. Por isso, há um conjunto de oportunidades neste mercado e o nosso modelo de negócio visa aproveitar isso mesmo. Nesta nova era, creio que existe espaço para vários modelos. A nossa solução em específico tem sido muito bem acolhida pelo mercado português, sobretudo devido à resposta rápida e simples que conseguimos garantir aos consumidores que nos procuram. Tendo em conta que não somos uma agência imobiliária, e este ainda é um modelo de negócio desconhecido de muitos portugueses, estamos satisfeitos com os números alcançados.
"(...) Há um conjunto de oportunidades neste mercado e o nosso modelo de negócio visa aproveitar isso mesmo. Nesta nova era, creio que existe espaço para vários modelos. (...) Tendo em conta que não somos uma agência imobiliária, e este ainda é um modelo de negócio desconhecido de muitos portugueses, estamos satisfeitos com os números alcançados"
Há (agora) outras iBuyers a operar em Portugal, nomeadamente várias de origem espanhola. O que distingue a Sell and Go da concorrência?
A existência de concorrência é um dado positivo. Por um lado, ajuda a difundir o modelo de negócio a mais portugueses e, por outro, é um indicador de que existem oportunidades no mercado. A Sell and Go nasce dentro do Grupo FS Capital, que possui mais de 15 anos de experiência no mercado imobiliário em Portugal com uma presença muito alargada em todo o território nacional. Apesar de utilizarmos todos os modelos avançados de análise, para nós é muito importante o conhecimento local e o fator humano com a utilização dos meios que dispomos dentro do Grupo FS.
“A Sell and Go nasceu dentro de um grupo empresarial que conta com mais de 15 anos de experiência na gestão de créditos e de imóveis. O Grupo FS Capital Partners está presente em Lisboa, Porto e Madrid (…)”, lê-se no site da empresa. Que importância tem o facto da empresa estar inserida (e ter o apoio) do Grupo FS Capital Partners? Porquê?
A Sell and Go nasceu dentro de um grupo empresarial que conta com mais de 15 anos de experiência na gestão de créditos e de imóveis. Portanto, beneficiamos de uma longa experiência, da robustez de pertencer a um grupo credível e, muito importante, de uma equipa especializada e experiente.
A Sell and Go tem escritórios em Lisboa e Porto, certo? Está prevista a chegada a outras cidades portuguesas? Quais? Quando? E estrangeiras?
Para já estamos focados no mercado nacional. Temos escritórios nessas duas cidades, já que atualmente analisamos e compramos imóveis na Grande Lisboa (Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira), Grande Porto (Gondomar, Maia, Matosinhos, Paredes, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa e Valongo, Vila Nova de Gaia) e Setúbal (Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal).
Que investimento foi necessário fazer para arrancar com a operação? Quanto é que a Sell and Go já investiu em Portugal e quanto prevê investir até final do ano e nos próximos anos?
Os dois primeiros anos foram de investimento claro na afirmação da marca Sell and Go. Apostámos no estabelecimento de parcerias estratégicas, na criação de uma estrutura robusta e no desenvolvimento da operação. Estas são apostas para continuar a reforçar.
Quantas casas é que a Sell and Go já vendeu e comprou em Portugal e quantas espera vender e comprar até final do ano?
Já fizemos mais de 2.000 avaliações de imóveis. Todos os meses avaliamos cerca de 100 imóveis. Queremos ganhar novos clientes e ser um parceiro de referência para vender a casa de cada vez mais portugueses. Nessa medida, o ano de 2022 tem sido marcado pela consolidação da marca no mercado, bem como por desenvolver e fazer crescer a operação num modelo de negócio que ainda é recente no nosso país. A nossa taxa de conversão de avaliações ronda os 10%, mas acreditamos num rápido crescimento no futuro.

Qual é o perfil dos vossos clientes nos dois lados do negócio? Particulares, agências de mediação imobiliária, fundos, etc.?
Entre os nossos clientes temos vários perfis, nomeadamente:
- Pessoas que estão num processo de mudança de trabalho, de cidade ou de país (deslocalização; pessoas que precisam de uma casa maior ou, em alguns casos, mais pequena) e que precisam de vender a sua habitação rapidamente para ter liquidez que lhes permita concretizar o negócio, evitando por exemplo que possam perder o sinal que já adiantaram (troca de habitação);
- Pessoas mais velhas que deixam de viver nas suas casas (vão viver com os filhos ou em instituições que lhes proporcionem diversos cuidados ou acompanhamento), ou seja, os mais seniores;
- Pessoas em processo de partilhas (heranças).
As iBuyers são concorrentes, clientes ou parceiras das mediadoras?
O objetivo dos iBuyers é revolucionar o mercado imobiliário. Comprar e vender um imóvel é, por norma, um dos processos mais morosos e, por isso, é importante haver diferentes ofertas e modelos de negócio para quem está neste processo. Acreditamos que o nosso modelo tem vantagem em relação a outros, nomeadamente aos mais tradicionais, já que tentamos incorporar a mais-valia da rapidez e segurança na realização da venda, procurando, ao mesmo tempo, encontrar com o vendedor um equilíbrio para a realização do negócio. Em todo este processo, podemos inclusivamente ser um parceiro das imobiliárias já que, por vezes, têm na sua carteira imóveis para os quais, por diversas razões, não conseguem encontrar comprador.
"O objetivo dos iBuyers é revolucionar o mercado imobiliário. Comprar e vender um imóvel é, por norma, um dos processos mais morosos e, por isso, é importante haver diferentes ofertas e modelos de negócio para quem está neste processo"
Só se interessam por casas (segmento residencial) ou também outro tipo de imóveis? Se sim, quais e porquê?
A Sell and Go compra apenas imóveis residenciais - apartamentos e moradias -, em qualquer estado de conservação, mesmo que seja necessário realizar pequenas obras de melhoramento. Nesse caso, nós mesmos assumimos essa responsabilidade antes de vender o imóvel.
Por quantas pessoas é composta a Sell and Go? Está prevista a contratação de mais profissionais?
A nossa equipa dedicada é especialista e está focalizada principalmente no processo de compra. Aproveitamos muito as sinergias do Grupo FS Capital para garantir todos os restantes processos associados ao negócio. O nosso crescimento estará diretamente associado à dinâmica que este segmento de negócio nos proporcionar.
A Sell and Go arrancou em plena pandemia e o mundo enfrenta agora uma guerra. O conflito armado está a ter algum impacto, positivo ou negativo, no negócio da empresa? E no setor imobiliário em Portugal em geral?
Atuamos nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto onde identificamos potencial de negócio, quer pelo número de transações quer pela tipologia dos imóveis transacionados. A conjuntura tem sempre o seu impacto mais ou menos duradouro. Estamos certos que temos uma proposta de valor inovadora e que se ajustará às necessidades de todos os portugueses que quiserem vender a sua casa de uma forma simples, rápida e segura.
"(...) Acredito que vamos assistir a uma desaceleração do ritmo de aumento dos preços, mas que os preços das casas permanecerão elevados. Em alguns segmentos de mercado, nomeadamente das franjas de menor rendimento, poderemos assistir a uma maior pressão na venda"
Os preços das casas continuam a aumentar em Portugal, mas continuam a vender-se muitas casas. Acredita que esta tendência se vai manter? Porquê?
A elevada procura aliada à escassez da oferta, nomeadamente nos segmentos médio e médio baixo, tem impulsionado o aumento dos preços das casas. Por outro lado, o aumento dos custos de construção e a demora nos prazos de licenciamento são outros fatores que também influenciam esta tendência. Não obstante, acredito que vamos assistir a uma desaceleração do ritmo de aumento dos preços, mas que os preços das casas permanecerão elevados. Em alguns segmentos de mercado, nomeadamente das franjas de menor rendimento, poderemos assistir a uma maior pressão na venda.

Portugal continua e continuará a ser um destino interessante e apelativo para investimento em imobiliário, nomeadamente no segmento residencial e por parte de cidadãos estrangeiros, mesmo agora tendo em conta o atual contexto de guerra? Porquê?
Existem várias razões que ajudam a explicar esse fenómeno. Fatores como a segurança, o clima e, até, os benefícios fiscais são bastante atrativos. Por outro lado, o nosso país apresenta um mercado turístico bastante atraente e tem custos imobiliários mais baixos quando comparados com outros países.
"Portugal apresenta um mercado turístico bastante atraente e tem custos imobiliários mais baixos quando comparados com outros países"
Inflação em máximos históricos, taxas de juro a subir, custos de construção a aumentar, escassez de materiais, novos limites ao crédito habitação… Que impacto terão estes e outros fatores no negócio da Sell and Go em Portugal e na atividade imobiliária no país?
Estes são fatores a ter em conta para quem quer comprar casa, mas também para quem já adquiriu um imóvel. A realidade que se vive atualmente é uma fonte de preocupação para muitas famílias que poderão ter de adotar diversas medidas para fazer face à perda de poder de compra, às restrições ao crédito (limites de crédito mais curtos para quem tem mais de 30 anos) ou às subidas da Euribor ou, entre outros fatores, ao impacto do conflito militar.
Acreditamos por isso que existam pessoas que queiram mudar de estilo de vida, como, por exemplo, ir viver para o interior, onde o custo da habitação é mais barato ou, mesmo, trocar a casa por uma mais pequena. Em qualquer uma destas hipóteses, a rapidez com que se vende a casa é fundamental. Por isso, acreditamos que a Sell and Go pode ser um aliado de muitos portugueses também nesta fase.
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