O bunker no Ártico que protege a alimentação das gerações futuras

A cerca de 1.300 quilómetros do Polo Norte, na remota ilha de Spitsbergen, no arquipélago norueguês de Svalbard, encontra-se uma estrutura subterrânea resistente a sismos até 10 graus na escala de Richter. Trata-se de um bunker, mas não serve de refúgio para magnatas em caso de ataque nuclear — é, na verdade, o local onde se guarda o maior banco de sementes do mundo.

O Svalbard Global Seed Vault foi inaugurado em 2008 para armazenar milhões de sementes de culturas agrícolas provenientes de todo o mundo. O seu objetivo é funcionar como um “refúgio de sementes”, um local seguro em caso de perda de colheitas provocada por catástrofes naturais, crises políticas ou epidemias que coloquem em risco os recursos alimentares globais.

Svalbard Global Seed Vault

Atualmente, alberga mais de 1.300.000 amostras de sementes, pertencentes a 6.300 variedades diferentes de culturas de todo o mundo — desde cereais e leguminosas até plantas medicinais. Estes números fazem dela a maior e mais importante reserva de sementes do planeta. Um verdadeiro “backup” da vida vegetal para tempos incertos.

A conservação das sementes neste cofre é feita em condições extremas. São guardadas em três câmaras refrigeradas a uma temperatura constante de -18 °C, o que garante a sua viabilidade durante milhares de anos. O acesso é feito através de um túnel de 100 metros de comprimento. O permafrost que envolve a estrutura ajuda a manter essa temperatura e, em caso de falha do sistema de refrigeração, assegura a conservação natural das sementes.

Einar Jørgen Haraldseid

Alcalá de Henares: um centro de referência

O que muitos desconhecem é que Espanha, através do Centro de Recursos Fitogenéticos e Agricultura Sustentável de Alcalá de Henares, afiliado ao CSIC, é um dos países que mais contribui para esta iniciativa global. Este centro espanhol, que acolhe uma das mais importantes coleções de sementes da Europa, envia regularmente amostras para o Svalbard Vault.

Dag Endresen

Com cerca de 44.000 amostras de sementes autóctones, muitas delas pertencentes a espécies endémicas ou em vias de extinção, o centro tornou-se um referência na conservação da biodiversidade agrícola. A sua missão inclui a gestão e reprodução de variedades agrícolas adaptadas às condições climáticas espanholas, incluindo aquelas resistentes a pragas ou com elevado valor nutricional.

Os cientistas do centro seguem um rigoroso processo de preparação das sementes destinadas à conservação. Estas são mantidas em condições controladas, com temperaturas entre -20 °C e -30 °C, consoante as exigências de cada espécie. Cada amostra é cuidadosamente selecionada, registada e congelada antes de ser enviada para o cofre global.

Svalbard Global Seed Vault

Sementes sem fronteiras

Para além da sua importância para a segurança alimentar, a colaboração entre instituições como Alcalá de Henares e o Svalbard Vault espelha a natureza pacífica e cooperativa da ciência. A conservação de sementes não conhece fronteiras, e as amostras enviadas por Espanha e outros países estão ao serviço de toda a humanidade. É um espaço onde cientistas, agricultores e governos de todo o mundo trabalham juntos para o bem comum.

Um exemplo recente desse espírito de serviço à humanidade aconteceu durante o conflito na Síria. Durante a guerra, o banco de sementes do ICARDA (Centro Internacional de Investigação Agrícola em Zonas Áridas) foi severamente afetado. Foi o cofre de Svalbard que permitiu a recuperação de centenas de amostras de culturas que, de outra forma, teriam desaparecido.

How It Works

Num futuro incerto, em que a humanidade terá de enfrentar alterações climáticas imprevisíveis ou conflitos geopolíticos, a conservação de sementes tornou-se num pilar essencial para garantir a segurança alimentar das gerações futuras. Nesse sentido, o Svalbard Global Seed Vault é muito mais do que uma instalação científica — é um símbolo de esperança, de cooperação internacional e de resiliência face às ameaças à biodiversidade global.