Especialistas apontam o material sintético da fachada como a causa mais provável da rápida propagação. Peritos forenses vão investigar.
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incêndio em Valência
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O poderoso incêndio que destruiu esta quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024, um prédio de 14 andares em Valência (Espanha), começou num apartamento, mas as chamas espalharam-se rapidamente por todo o complexo. Especialistas apontam o material sintético da fachada como a causa mais provável da rápida propagação. A missão dos peritos forenses será, entretanto, determinar o ponto de partida, a causa do incêndio, para que as seguradoras possam compensar os afetados. 

Segundo as imagens transmitidas pelas televisões, a torre de 138 apartamentos, de construção recente, foi destruída pelo fogo, tanto a fachada como o interior, restando quase só a estrutura do “esqueleto” do prédio.

Testemunhas no local ouvidas pelos meios de comunicação e vídeos divulgados nas redes sociais, apontaram que o incêndio começou no 4.º andar, num momento de vento forte em Valência, e alastrou-se a todo o prédio em menos de meia hora, aparentemente, pela fachada, de onde saltaram placas metálicas por trás das quais parecia haver um material rapidamente inflamável.

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Material inflamável na fachada

A vice-presidente do Colégio de Engenheiros Técnicos Industriais de Valência (Cogitival), Esther Puchades, disse na quinta-feira à televisão pública valenciana À Punt que a presença de poliuterano poderá ter sido a principal causa do incêndio.

De acordo com o El Mundo, os promotores do complexo (entregue em 2008) projetaram os blocos de apartamentos seis anos antes, de acordo com o Código Técnico de Edificações de 1991, que não é o que está em vigor atualmente (2006) e que tinha exigências menos rigorosas em termos de inflamabilidade. Segundo o jornal, o revestimento de qualquer edifício projetado após 2006 tem materiais mais resistentes ao fogo e preparados para impedir a propagação das chamas.

Manuel Montesdeoca Calderín, diretor do Departamento de Construção Arquitetónica da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, ouvido pela mesma publicação, explica que o edifício danificado tinha uma fachada ventilada com seis camadas, e que o poliuretano e polietileno terão contribuído, portanto, para a rápida propagação das chamas. “De dentro para fora, essa fachada era composta por uma camada provavelmente feita de tijolo, uma camada de poliuretano, que tinha a função de isolar termicamente o interior das casas, uma câmara de ar e um revestimento de dupla camada de alumínio composto. Entre essas duas camadas, feitas de alumínio, havia um enchimento de polietileno que dava rigidez ao revestimento”, lê-se.

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O El País conta que o edifício foi inspecionado quando a obra foi concluída em 2008, altura em que um arquiteto certificou que o que foi construído respondia ao projeto apresentado para o pedido de licença de construção. No entanto, na altura em que o edifício foi construído, o novo código de construção, que é mais restritivo do que o anterior no que diz respeito ao uso de materiais, ainda não tinha entrado em vigor e, por isso, uso deste material teria passado por qualquer controlo por ser legal.

Diz o mesmo jornal espanhol que a empresa promotora do projeto, a Fbex, que faliu, declarou insolvência em 2010, com 640 milhões de euros em dívidas. À data da promoção do empreendimento, a empresa garantia, diz o El País, que os acabamentos e equipamentos passaram por "rigorosos controlos de qualidade durante o processo de construção", tendo sido as fachadas "revestidas com um inovador material de alumínio do tipo alucobond".

Origem do incêndio em investigação

Nos próximos dias, avança o El País, esta segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024, chegarão à área peritos especializados, contratados pelas seguradoras, cujo objetivo é esclarecer o caso para que, por um lado, se possa articular a correspondente indemnização e, por outro, aumentar o conhecimento sobre este tipo de eventos e implementar possíveis medidas e regulamentos para maior segurança.

Eduardo Sainz, investigador especializado em incêndios com mais de 30 anos de experiência, explica ao jornal que a primeira coisa que os peritos forenses fazem é recolher informações preliminares para delimitar as possíveis áreas de início do incêndio. Nessa busca, diz o investigador, é dada atenção, por exemplo, às marcas que o fumo deixa nas paredes, desprendimento dos materiais de revestimento e possíveis falhas elétricas, que estão na origem de 65% a 80% dos casos. Se a magnitude do incêndio devastar a maioria dos elementos e não permitir a realização de uma investigação no terreno, será necessário realizar simulações computorizadas.

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A indemnização que as seguradoras concedem aos lesados ​​depende das conclusões da perícia. Este engenheiro forense, que investigou pelo menos cinquenta incêndios, explica que se, por exemplo, a culpa for de um carregador defeituoso, será o fabricante quem assumirá a indemnização. A responsabilidade poderá recair sobre a comunidade se, por outro lado, o incêndio começar numa zona comum, pelo que será o seguro do prédio a atuar. O especialista detalha que todo o processo pode levar de alguns dias a vários meses, dependendo do caso. Também é essencial que os especialistas entendam como o fogo se espalhou tão rapidamente para os andares superiores ou adjacentes.

De acordo com a agência EFE, o complexo de 138 apartamentos tinha um seguro de 26.511.540,32 euros para o edifício e outros 31.266,71 euros para mobiliário comunitário. De acordo com a apólice imobiliária, o contrato de seguro predial e residencial foi celebrado entre a comunidade de proprietários e a empresa Mapfre e tem validade até 1 de fevereiro de 2025. Especifica ainda que o seguro inclui cobertura contra incêndios.

*Notícia atualizada dia 26 de fereveiro, às 9h28, com informação atualizada

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