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"A crise ainda não passou", considera mais de metade dos portugueses
Levar "marmita" de casa para comer no trabalho é um dos hábitos que ficaram da crise Photo by Alfred Rowe on Unsplash

Lá fora fala-se de milagre português e aplaude-se, apontando como exemplo, a recuperação económica e financeira de Portugal desde o resgate da troika. Mas no país, o sentimento parece ser outro: mais de metade dos portugueses considera que a crise não passou, mantendo a desconfiança e insegurança - que condicionam depois os comportamentos de consumo e poupança. O desemprego é uma das maiores preocupações, mesmo depois de os níveis terem caído para metade dos valores de há quatro anos, de 14,3% para 7,4%.

Segundo o II Grande Inquérito de Sustentabilidade em Portugal, desenvolvido por investigadores do Instituto de Ciências Sociais (ICS), da Universidade de Lisboa (UL), 53,5% dos inquiridos consideram que a crise não passou e apenas menos de um terço (29,8%) diz que a crise está ultrapassada.

Depois do desemprego, o “abalo de confiança no Estado” é a segunda grande questão apontada pelos portugueses, seja a nível da “corrupção” (26%), como da falência funcional do Estado, por exemplo a nível do “sistema de saúde” (24,5%).

"As pessoas sentem que a crise ainda não terminou e isso deixou desconfiança e uma sensação de insegurança que permanece ativa e que é determinante de muitos comportamentos, até de comportamentos ligados ao consumo, com um perfil mais notório do ‘consumidor constrangido’, que faz contas a tudo”, explicou à agência Lusa a investigadora do ICS Luísa Schmidt, uma das coordenadoras do estudo.

Como exemplos de comportamentos que mudaram com a crise e se mantiveram, a responsável destaca o uso de espaços públicos gratuitos - como os jardins e parques, sobretudo as famílias com crianças - em detrimento dos centros comerciais, bem como da marmita pelos trabalhadores na hora de almoço.

“Investir na melhoria da habitação” é o desejo de entre 20% e 30% dos portugueses

Comparando com o inquérito anterior, desenvolvido em 2016, a Lusa escreve ainda que há diferenças na forma como os portugueses investiam qualquer rendimento extra disponível. Se há quatro anos colocavam em primeiro lugar a “poupança” (46,3%), depois “fazer férias” (43,1%) e a seguir os “cuidados de saúde” (40,5%), no inquérito de 2018 as prioridades mantém-se, mas os cuidados de saúde sobem ao primeiro lugar (50,5%), sobretudo para quem tem mais de 64 anos e menos escolaridade e rendimento.

A poupança (47,8%) passa para o segundo lugar nas prioridades de investimento em caso de rendimento disponível, “o que indica que, para os portugueses, a experiência da crise económica ainda está muito presente e, sobretudo, teve impactos estruturantes no que respeita à necessidade de segurança económica fundamental”, refere o estudo, citado pela agência de notícias.

Em terceiro lugar surgem as “férias” (38%), como válvula de escape e sonho compensatório, e já com percentagens um pouco mais baixas (a rondar entre os 20% e os 30%) aparece o desejo de “investir na melhoria da habitação”.

O estudo analisou 1.600 inquéritos a residentes em Portugal, maiores de 18 anos, estratificado por região, género e idade e tem 95% de intervalo de confiança. Decorreu entre 7 de novembro e 13 de dezembro de 2018.

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