
Artigo escrito por joao.raposo@reorganiza.pt, partner da Reorganiza, para o idealista News Portugal, no âmbito da rubrica "Trocado por Miúdos".
Nunca as eleições gregas tiveram tanto destaque como o que ocorreu no passado domingo. A cobertura mediática foi tão grande que havia jornalistas a “fazer diretos” para todos os cantos do mundo. Foram atribuídas 497 credenciais para jornalistas estrangeiros fazerem a cobertura deste momento. Todos os canais portugueses estavam lá e grande parte dos telejornais de domingo foi dedicada ao tema. Qual o interesse tão grande nestas eleições? E porque é que isto é importante também para ti?
A Grécia tem atravessado por longos períodos de crise económica que têm obrigado este país a recorrer à ajuda externa. E isto não é um pormenor da questão. Isto é o tema central: a Grécia precisou de ser ajudada!
Quando alguém pede ajuda é porque não consegue viver sem ela. Se os credores internacionais não tivessem entregue dinheiro às finanças gregas, o país já há muito tempo que não teria tido dinheiro para pagar os salários aos funcionários públicos, os subsídios sociais, ou há muito tempo que já teria colapsado o sistema de saúde ou de ensino público.
O facto de a Grécia viver tão dependente do dinheiro de terceiros tira-lhe obrigatoriamente soberania. Pois têm de prestar contas para além deles próprios.
O interesse destas eleições estava na expectativa (que se confirmou) de vir a ganhar um partido que assumia um caminho contrário à tentativa de ajustamento da dívida grega. Um partido para quem a dívida a terceiros não tem importância e que até ameaçou querer abandonar a União Europeia.
Esta postura é preocupante para todos nós! Não deves pensar que é preocupante para os Estados, como se estes fossem umas entidades teóricas. O Estado (também) és tu! Se deixam de pagar ao teu país, és tu quem está a ser prejudicado. Por isso, é tão esquisito ver políticos portugueses congratularem-se com esta vitória. Se a Grécia deixa de cumprir com as suas obrigações todos vão ser prejudicados.
Como te pode afetar esta vitória do Syriza na Grécia?
A importância das eleições do passado domingo está para além do efeito da Grécia pagar ou não pagar a dívida. Está também para além da preocupação legítima do efeito sistémico destas eleições. Esta atitude da Grécia é uma chamada de atenção para refletirmos sobre a forma como encaramos as responsabilidades assumidas.
Pode ser que sejas daquelas pessoas com a postura do tempo resolver todos os teus problemas, mas não te esqueças que por vezes é o contrário, ou seja o tempo agrava muitos dos teus problemas. As responsabilidades que assumiste no passado são obrigações do presente e do futuro.
Procura sempre uma atitude responsável no recurso ao crédito. O que é mesmo importante é que se precisares de apoio de terceiros, se precisares de um crédito, assumas toda a responsabilidade pelo que estás a contratar. Não vale a pena dizeres que não sabias que ias ter de pagar tanto e durante tanto tempo.
Tudo está (ou deveria estar) escrito nas “papeladas” que assinas no banco. Mesmo que seja em letras pequeninas! Por isso, acima de tudo, o que se exige a alguém que recorre a apoios de terceiros é que tenha a capacidade de assumir a sua parte responsável pelo contrato que assinou num momento de maior aflição.
Claro que a dimensão do problema de cada um de nós não é comparável ao Estado grego, mas é seguramente uma oportunidade de refletires sobre as consequências e as responsabilidades que estão em causa cada vez que recorres ao crédito nas suas mais variadas formas: crédito habitação, pessoal, conta ordenado, cartão de crédito.
Muitas circunstâncias na vida podem servir de lições para crescimento pessoal e de crescimento de toda uma sociedade.

1 Comentários:
"As responsabilidades que assumiste no passado são obrigações do presente e do futuro."
Que fácil é dar lições de morarilidade, quando todo o mundo sabe que estamos a falar de política de um paĩs como Grécia que parece que está numa situação pós-guerra, de grandes financeiras selvagens que estão por detrás e de corrupção. Pois se há que pagar a dívida que pague todo o mundo, e não haver perdão fiscal ou pagar menos impostos as grandes fortunas, levando o dinheiro para paraisos fiscais. Porque sempre são os mesmos o "povo" que têm que pagar !!! Não é de estranhar que o povo grego se tenha revoltado pela miséria que está passando. Seria bom que os portugueses aprendessem o mesmo e deixar de ser tão "bons alunos" como diz a Alemanha. Porque eles já se esqueceram que depois da segunda guerra mundial também lhes perdoaram a dívida!!
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