Homens fortes do regime do anterior Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, constituídos arguidos num processo de contratos entre o Estado e a empresa CIF.
Comentários: 0
Generais Dino e Kopelipa entregam edifícios e empresas à PGR angolana
Anterior Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. GTRES
Lusa

A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola anunciou, esta quarta-feira, dia 15 de outubro de 2020, a entrega de vários bens ao Serviço Nacional de Recuperação de Ativos, incluindo empresas e edifícios, pelos generais Helder Vieira Dias "Kopelipa" e Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino".

Entre os bens entregues pelos generais, representantes das empresas China International Fund Angola - CIF e Cochan, S.A., constam fábricas de cerveja e cimento, uma rede de supermercados e edifícios de habitação que "passam a integrar, de forma definitiva, a esfera patrimonial do Estado".

Os dois generais, homens fortes do regime do anterior Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, foram constituídos arguidos no âmbito de um processo relacionado com contratos entre o Estado e a empresa China International Found (CIF), no âmbito do extinto Gabinete de Reconstrução Nacional e começaram a ser ouvidos na PGR na terça-feira.

A audição começou com o general “Dino”, que na terça-feira, foi interrogado ao longo de cerca de sete horas e prosseguiu hoje com “Kopelipa”.

Até ao momento não foi possível apurar qual o desfecho da audição de ontem e se foram aplicadas medidas de coação a algum dos generais, que são defendidos pelo escritório de advogados “Sérgio Raimundo e Associados”.

Segundo o comunicado da PGR angolana, relativo à entrega dos bens “constituídos com fundos públicos”, foram devolvidas ao Estado as fábricas de cerveja (CIF Lowenda Cervejas), de logística (CIF Logística), de cimento (CIF Cement) e de montagem de automóveis (CIF SGS Automóveis).

Foram também entregues a totalidade das ações que detinham na empresa BIOCOM – Companhia de Bioergia de Angola (que tem participações da Sionangol e Odebrecht), através da Cochan, a rede de supermercados Quero, através da cedência de 90% das participações sociais do grupo Zahara Comércio, S.A. e a empresa Damer Gráficas – Sociedade Industrial de Artes Gráficas.

Os representantes da empresa CIF fizeram também a transferência de titularidade para a esfera patrimonial dos bens que já tinham sido apreendidos nos dias 11 e 17 de fevereiro, designadamente 24 edifícios de habitação e outros equipamentos da centralidade do Zango 0 denominada “Vida Pacífica”, a centralidade do Kilamba KK5800, com 271 edifícios e 837 vivendas em diferentes níveis de construção e os edifícios Cif Luanda One e Cif Luanda Two.

O general “Kopelipa” foi chefe da Casa Militar da Presidência angolana na era do anterior chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, e o general “Dino”, chefe das comunicações no anterior regime, sendo considerados os homens mais poderosos do regime, a par de Manuel Vicente, ex-vice-presidente angolano e ex-presidente da Sonangol.

A CIF Limited é uma empresa privada chinesa com sede em Hong Kong e um escritório em Pequim, fundada em 2003 para financiar projetos de reconstrução nacional e desenvolvimento de infraestruturas nos países em desenvolvimento, principalmente em África.

Em Angola, participou na construção de vários empreendimentos sociais e estava ligada a várias empresas.

Segundo um relatório do centro de estudos britânico Chatham House, publicado em 2009, a CIF teria ligações à China Angola Oil Stock Holding Ltd, que negociaria com o petróleo angolano através da China Sonangol International Holding.

Entre os diretores da China Sonangol International Holding estaria Manuel Vicente, que foi investigado em Portugal por suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais, em 2017.

O Tribunal da Relação de Lisboa decidiu, em fevereiro desse ano, que o processo do ex-vice-Presidente angolano, arguido na Operação Fizz, devia ser enviado para Angola, respondendo favoravelmente a um recurso apresentado neste sentido pelos advogados de defesa do antigo patrão da Sonangol.

Mais de dois anos depois, Manuel Vicente continua sem ser visado pela justiça angolana, o que o procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, justificou, numa entrevista à Lusa em janeiro de 2020, com a imunidade do ex-vice-presidente.

“Tanto o ex-vice-presidente como o ex-presidente estão protegidos por uma lei que concede cinco anos em que não poderão responder pelos atos praticados e, portanto, vamos esperar que os cinco anos decorram para daí podermos tirar ilações se a justiça [angolana] está, ou não, a mando do senhor Manuel Vicente e em que termos”, disse na altura, Hélder Pitta Grós.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta

Publicidade