Ameaça de contágio gera onda de quebras na bolsa. Fundador e família tentam salvar a gigante do imobiliário.
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Evergrande: gigante imobiliária chinesa à beira do colapso está a agitar os mercados globais
GTRES

As ações de várias empresas imobiliárias da China e Hong Kong estão a cair à medida que se aproxima o prazo para que a gigante do setor de construção e imobiliário Evergrande cumpra os prazos de pagamento da sua dívida milionária, que chega a mais de 300 mil milhões de dólares, cerca de 255 mil milhões de euros ao câmbio atual. O medo de uma reação em cadeia mantém as bolsas internacionais em alerta, com quedas já registadas em Hong Kong, mas também na Alemanha ou França. O “efeito contágio” é um dos principais receios dos investidores.

O mercado de ações de Hong Kong caiu 3,5% esta segunda-feira, dia 20 de setembro de 2021, uma quebra que se alastrou para outras bolsas europeias. Já as ações da Evergrande cotadas em Hong Kong caíram até 18,9%. Os grupos imobiliários da China e de Hong Kong concentraram as principais quebras do mercado, caindo para os níveis mais baixos dos últimos cinco anos, face à crescente angústia sobre o destino da Evergrande, a promotora imobiliária mais endividada do mundo. O Hang Seng Property Index, que acompanha o desempenho das empresas de imobiliário, caiu quase 7%, tocando em mínimos de 2016.

O possível incumprimento da empresa pode acarretar um risco mais amplo para o sistema financeiro do país e para o mercado de dívida internacional. Alguns já apelidam o grupo do "Lehman Brothers" da China, numa alusão ao estalar da crise financeira global em 2008. Embora não se saiba se vai chegar a tanto – e os especialistas acreditam que não – , o certo é que a dívida da gigante da construção Evergrande está a preocupar os mercados. A falência da gigante chinesa significaria não apenas a destruição de milhões de empregos diretos e indiretos, mas uma catástrofe económica.

Evergrande: gigante imobiliária chinesa à beira do colapso está a agitar os mercados globais
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O grupo enfrenta obrigações por uma dívida de mais de 300 mil milhões de dólares, cerca de 255 mil milhões de euros. A próxima quinta-feira, 23 de setembro de 2021, é apresentada como um dia chave para o seu futuro, quando termina o prazo para o pagamento de juros da dívida, segundo a Bloomberg. Este momento será fundamental para determinar se o gigante imobiliário continuará a cumprir suas obrigações com a maioria dos detentores de títulos, apesar de já ter anunciado um atraso nos pagamentos a bancos, fornecedores, etc..

De acordo com o Financial Times, o índice geral Hang Seng de Hong Kong caiu 3,5%. Os mercados europeus também caíram, como o Stoxx 600 (-2,2%), e os mercados da Alemanha e França (-2,6%). O FTSE 100 de Londres perdeu 1,7%. Já na semana passada, a Evergrande sofreu dois cortes na classificação da sua dívida, pelas agências Fitch e Moody's, provocando receios de falência da empresa.

Evergrande: gigante imobiliária chinesa à beira do colapso está a agitar os mercados globais
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"É muito cedo para falar de um contágio da Evergrande para o resto do mercado, mas é apenas mais um ponto a acrescentar sobre o que se está a ver na China, e que está a afetar o sentimento de risco", refere Anthony Collard, diretor de investimentos para o Reino Unido e Irlanda no banco privado do JPMorgan, citado pelo Financial Times.

O preço das ações da Evergrande tem caído desde que o grupo alertou sobre o risco de incumprimento no final de agosto. Enquanto isso, crescem os temores no mercado de Hong Kong, nomeadamente de que o setor imobiliário possa prejudicar outras empresas e instituições financeiras. "O Evergrande é apenas a ponta do iceberg", diz Louis Tse, managing diretor da Wealthy Securities.

As ações da Ping An, a maior seguradora da China, caíram até 8,4% esta segunda-feira, depois de uma queda de 5% na sexta-feira, por exemplo. Os sinais de desaceleração no setor imobiliário da China também estão a afetar os preços das matérias-primas como o ferro, que atingiu um recorde este ano, mas que começou a cair desde a semana passada, depois dos mercados terem sofrido o choque das restrições governamentais à produção de aço.

Fundador da Evergrande e família tentam salvar a gigante do imobiliário

O futuro da chinesa Evergrande continua incerto. Enquanto isso, Ding Yumei, esposa de Hui Ka Yan, o presidente e fundador desta gigante da construção e imobiliário, desembolsou 20 milhões de yuans, cerca de 2,6 milhões de euros, para mitigar problemas de liquidez e tentar apaziguar protestos de alguns investidores, que exigem o dinheiro de volta.

Ding Yumei, esposa do bilionário Hui Ka Yan, teria adquirido vários produtos de investimento da Evergrande, para tentar acalmar a preocupação dos pequenos investidores na promotora sobre a crise de liquidez da empresa. Centenas de pequenos acionistas foram à sede do grupo em Shenzhen para exigir a devolução do dinheiro num raro protesto no gigante asiático.

De acordo com dados da própria empresa, Evergrande Wealth Management, esta tem cerca de 80.000 investidores, enquanto Hui Ka Yan e a família detêm 70% das ações da empresa.

Evergrande: gigante imobiliária chinesa à beira do colapso está a agitar os mercados globais
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De acordo com especialistas e investidores consultados pelo Financial Times, este passo do fundador e principal acionista não supõe um compromisso com o grupo, e representa uma "gota de água" diante da riqueza que Ka Yan conseguiu acumular desde a fundação da empresa em 1996. "Hui arrecadou bilhões de dólares em dividendos e agora está a tentar fazer com que a sua esposa nos faça acreditar que ele está no mesmo barco que nós”, lê-se no jornal.

Os executivos do grupo esclareceram que estão a tentar minimizar as perdas. Por um lado, estão a tentar convencer os investidores a aceitar propriedades com grandes descontos em vez de reembolsos efetivos, incluindo descontos de 28% em apartamentos residenciais. Nesse plano de pagamento, pretendem oferecer um reembolso inicial de 10% do dinheiro para setembro e o reembolso total em 27 meses.

Os principais acionistas expressaram dúvidas sobre o plano de pagamento, temendo que a empresa entre em colapso. A empresa tem muitas lacunas de financiamento, e ainda tem de pagar aos fornecedores para concluir os projetos e devolver o dinheiro aos investidores. Atualmente, a Evergrande estava a trabalhar em 778 empreendimentos em mais de 200 cidades na China no final de junho.

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