Um templo de juta e cânhamo inspirado na arquitetura tribal

Uma parte importante da arquitetura tribal é conhecida pelo uso de materiais naturais que os habitantes podiam encontrar ao seu redor. Com eles, foram construídas casas e templos, dos quais os seus alicerces e bases mal chegaram aos dias de hoje, apenas no caso de terem sido feitos de pedra. Portanto, foram principalmente arquiteturas efémeras ou, ao contrário, tiveram que ser reparadas e restauradas de forma recorrente para preservar o espaço em boas condições. Como essência de um projeto apresentado na Trienal de Arquitetura de Sharjah, o arquiteto Yussef Agbo-Ola criou um templo de juta e cânhamo.

Um lugar para reflexão

Na renomada Trienal de Arquitetura de Sharjah (Emirados Árabes Unidos), o arquiteto Yussef Agbo-Ola, do estúdio de design ambiental Olaniyi Studio, com sede em Londres, projetou um modelo intrigante, inspirado na arquitetura dos povos indígenas que é feita com materiais locais, como juta e cânhamo, que se referem à topografia e biodiversidade de Sharjah.

Edmund Sumner

O templo foi batizado de Jabal: 9 Ash Cleansing Temple e é apresentado pelo próprio arquiteto como "uma entidade arquitetónica viva para homenagear a vida não humana e espécies ameaçadas de extinção na barriga de uma montanha assustada". Assim, é uma homenagem aos rituais que englobam as comunidades beduínas, iorubás e cherokee, que respeitam o mundo natural nas suas manifestações arquitetónicas, artísticas e espirituais.

Nesse sentido, a estrutura sagrada é um espaço para rituais aromáticos coletivos de bakhoor (queimadores de incenso) e convida os visitantes da trienal a participar de cerimónias de respiração nos altares localizados dentro do templo. Da mesma forma, os materiais naturais utilizados aludem a incentivar a reflexão sobre o impacto das mudanças climáticas na biodiversidade da região.

Edmund Sumner

Inspiração para a montanha

A estrutura da tenda é feita de juta e cânhamo unida por fios de algodão trançados e a envolvente cercada por lama seca. Um dos destaques é a sua forma e cor, que evocam a montanha de Jebel Jais, localizada no emirado de Ras al-Khaimah, na fronteira com Sharjah.

Edmund Sumner

Diante dessa imagem espiritual, as cores dos tecidos no templo Jabal 9 procuram uma fonte de inspiração na paleta cromática das formações montanhosas da paisagem circundante e os seus padrões de luz, que representam microcrustáceos fractais fossilizados. A representação simbólica desses organismos nos tecidos do templo forma um novo ecossistema visual como essência da dependência mútua e do equilíbrio ecológico.

Por outro lado, o templo também foi projetado para celebrar a fertilidade e o processo natural de transformação que são, de acordo com Agbo-Ola, "as coisas às quais não podemos apegar-nos, que não podemos possuir ou reivindicar, que fazem sentido e mantêm em nós uma essência de admiração ou reverência".

Jabal: 9 Ash Cleansing Temple é, nesse sentido, projetado de maneira semelhante. Nele, cada pele do tecido deve ser observada sob a perspetiva do fio primordial que o mantém unido. O templo convida a experimentar a aparência e a beleza de entidades não humanas, enquanto as montanhas sagradas influenciam a marcha, desaceleradas pela sua reverência. Tudo isso induzido pela queima de bakhoor que organiza o templo como um espaço ritual coletivo.

A Voz do Templo

Finalmente, o templo também tem uma conexão sonora que atua como a voz do templo. É um trabalho que é o resultado de uma investigação inspirada nos rituais, xamanismo e práticas dos curandeiros, o que permite novos vínculos, mais profundos se possível, com os nossos ambientes ecológicos.

Edmund Sumner

De acordo com Agbo-Ola, "a composição experimental de gradientes orquestrais e espaciais visa imitar as conversas acústicas atmosféricas multicamadas entre elementos botânicos, geológicos e ambientais invisíveis".