A qualidade do ar interior afirma-se, cada vez mais, como um fator determinante para a saúde, o bem-estar e a produtividade das pessoas. E, desde a pandemia, o cuidado é outro, tornando evidente a importância dos sistemas de ventilação e climatização na prevenção de riscos e na criação de ambientes interiores mais seguros e confortáveis. Tudo isto está a levar o mercado a repensar a forma como os edifícios são projetados, geridos e valorizados.
É também neste cenário que o selo “Ar Saudável” da APIRAC tem vindo a ganhar destaque, ao oferecer ao setor do imobiliário e da construção uma garantia de confiança, transparência e diferenciação competitiva. A certificação atesta a conformidade das instalações AVAC com as normas de qualidade do ar interior, reconhecidas pela Direção-Geral de Saúde, promovendo espaços mais sustentáveis e saudáveis.
Para compreender melhor o impacto deste selo no mercado de escritórios, os critérios de certificação envolvidos e o papel da qualidade do ar na valorização dos ativos imobiliários, conversámos com Nuno Roque, Diretor Executivo da APIRAC, que partilha a visão da associação sobre os desafios e as oportunidades de um ar interior verdadeiramente saudável.
O selo "Ar Saudável" da APIRAC foi criado para responder a que lacunas ou desafios específicos no mercado imobiliário e de construção?
A má Qualidade do Ar Interior (QAI) representa riscos sérios para a saúde, especialmente para crianças e idosos. Também acarreta custos diretos e indiretos, como o aumento das despesas com cuidados de saúde e a redução da produtividade. A APIRAC criou o selo “Ar Saudável” para conferir o reconhecimento de competência e confiança na utilização de espaços interiores beneficiados pelo funcionamento de sistemas de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC) que demonstrem acompanhar as regras de saúde adequadas para evitar a contaminação dos espaços climatizados.
Os sistemas AVAC, quando bem mantidos, reduzem a transmissão de agentes patogénicos e garantem conforto térmico e qualidade do ar. O selo “Ar Saudável” confere confiança e comprova que as instalações cumprem boas práticas e normas de saúde, valorizando o edifício e garantindo segurança e bem-estar aos ocupantes.
Quais são os principais critérios de certificação do selo "Ar Saudável”?
Este é um projeto integrado na certificação de instalações AVAC pelo CENTERM, organismo de certificação, inspeção e auditoria da APIRAC. Os operadores que pretendam obter o selo “Ar Saudável” deverão cumprir o conjunto de requisitos para a obtenção da “Declaração de Conformidade das Instalações AVAC”, emitida pelo CENTERM. A declaração assenta em requisitos aprovados pela Direção-Geral de Saúde (DGS). Após a emissão da declaração, as instalações poderão usufruir do selo “Ar Saudável”, desde que acompanhadas por uma empresa certificada de manutenção e cumpram os critérios da APIRAC.
De que forma a APIRAC define e mede a "qualidade do ar interior" para o mercado de escritórios?
A QAI em edifícios de comércio e serviços é regulada por legislação portuguesa e europeia, nomeadamente pelo Decreto-Lei n.º 101-D/2020 e pela Portaria n.º 138-G/2021. Estes diplomas definem condições de referência e requisitos de monitorização, incluindo metodologias de medição de poluentes. Também estabelecem a obrigatoriedade de Avaliações Simplificadas Anuais (ASA). A medição é feita com sensores de CO₂, partículas, análises laboratoriais e auditorias ambientais e técnicas que avaliam a adequação dos sistemas de ventilação e climatização.
Qual a importância de um selo de certificação independente como o da APIRAC para os proprietários e gestores de edifícios? Que benefícios tangíveis podem esperar?
Os sistemas AVAC, quando bem mantidos, reduzem a transmissão de agentes patogénicos e garantem conforto térmico e qualidade do ar. O selo “Ar Saudável” confere confiança e comprova que as instalações cumprem boas práticas e normas de saúde, valorizando o edifício e garantindo segurança e bem-estar aos ocupantes.
A qualidade do ar é um fator decisivo para a produtividade. Pode aprofundar a relação entre um ambiente de ar mais limpo e o desempenho dos trabalhadores?
Um ar mais limpo melhora a concentração e o bem-estar, reduzindo sonolência e doenças respiratórias. Estudos da Universidade de Cornell indicam ganhos de produtividade até 15%. A ASHRAE aponta redução de queixas de saúde em até 40%, e a Harvard Business Review refere que trabalhadores saudáveis são 31% mais produtivos.
Como pode o selo "Ar Saudável" influenciar o valor de um ativo imobiliário? Os investidores e compradores já estão a valorizar este tipo de certificação?
Poder pode e deve, mas ainda não há dados concretos que quantifiquem esse impacto.
Quais são os principais desafios que a APIRAC enfrenta na sensibilização do mercado para a importância da qualidade do ar interior?
Os principais desafios são assegurar uma ventilação eficiente, manter os sistemas AVAC limpos, reduzir fontes internas de poluição e substituir materiais tóxicos por opções sustentáveis.
Além dos escritórios, o selo "Ar Saudável" pode ser aplicado a outros tipos de edifícios, como escolas, hospitais ou espaços comerciais?
Sim. Não existem impedimentos, desde que exista um serviço de manutenção por empresa certificada que garanta a continuidade das rotinas adequadas.
Um ar mais limpo melhora a concentração e o bem-estar, reduzindo sonolência e doenças respiratórias. Estudos da Universidade de Cornell indicam ganhos de produtividade até 15%. A ASHRAE aponta redução de queixas de saúde em até 40%, e a Harvard Business Review refere que trabalhadores saudáveis são 31% mais produtivos.
Pode partilhar alguns exemplos de edifícios que já obtiveram o selo "Ar Saudável"? Que impacto notaram após a certificação?
Entre os espaços certificados destacam-se o Centro Cultural de Belém (CCB), clínicas, centros terapêuticos, farmácias e restaurantes. A certificação transmite confiança aos utilizadores e comprova a qualidade dos sistemas AVAC.
Como o selo "Ar Saudável" se integra com outras certificações de sustentabilidade e eficiência energética?
O CENTERM realiza auditorias energéticas e certificações de edifícios de comércio e serviços. Está acreditado pelo IPAC e reconhecido pela APA para medições de radão e outras inspeções obrigatórias. Mais de 1.500 edifícios já foram certificados, incluindo hospitais e edifícios emblemáticos como as Torres das Amoreiras e o Edifício da Bolsa.
De que forma a APIRAC acompanha as inovações em tecnologia de monitorização e purificação do ar?
A APIRAC atua como Organismo de Normalização Setorial (ONS) junto do IPQ, reunindo especialistas nacionais das áreas de AVAC&R e promovendo normas que acompanham a evolução tecnológica. O setor representa cerca de 40% do consumo energético europeu e é essencial na transição para edifícios sustentáveis.
Quais as principais barreiras financeiras ou técnicas que impedem mais edifícios de investir em soluções de melhoria da qualidade do ar interior?
As limitações variam conforme a idade e conceção do edifício. A ventilação natural é limitada por condições climáticas e falta de filtragem. Já a ventilação mecânica requer investimento em tecnologia, mas garante maior controlo da qualidade do ar e eficiência energética.
Qual a visão da APIRAC para a qualidade do ar em ambientes de trabalho nos próximos 5 a 10 anos?
Considera-se válido e consensual que a ventilação é apenas um elemento que permite que um edifício tenha um bom desempenho. A ventilação deve ser considerada a par do consumo de energia, das alterações climáticas, da poluição urbana, do ruído, do conforto e da segurança nos edifícios.
Ao projetar edifícios para o futuro e ao modernizar os edifícios existentes para que sejam sustentáveis, saudáveis e seguros, há compromissos complexos a conciliar. A APIRAC continuará a promover o princípio da eficiência energética, sem prejuízo do bem comum: a Qualidade do Ar Interior.
A APIRAC atua como Organismo de Normalização Setorial (ONS) junto do IPQ, reunindo especialistas nacionais das áreas de AVAC&R e promovendo normas que acompanham a evolução tecnológica. O setor representa cerca de 40% do consumo energético europeu e é essencial na transição para edifícios sustentáveis.
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