
Há dois anos, o universo do crédito habitação era bem diferente. As taxas de juro estavam nos níveis mais baixos de que há registo. E as famílias tinham maior poder de compra, uma vez que não estava pressionado pela alta inflação que se instalou a partir de 2022. Mas nem por isso deixou de haver famílias em dificuldades. Fazendo um retrato ao país, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que já em 2021, 20% dos mutuários com taxas de esforço mais elevadas utilizavam mais de um quinto do rendimento para fazer face às prestações da casa. E, na altura, as famílias mais jovens já apresentavam taxas de esforço superiores à dos mutuários dos restantes escalões etários.
Este retrato ao mercado de crédito habitação foi desenhado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que divulgou as suas conclusões esta terça-feira, dia 5 de dezembro. Desde logo, revela que “em 2021, o valor mediano da taxa de esforço com o crédito para habitação permanente dos mutuários foi de 12,78%”. Isto quer dizer que as prestações da casa pesavam cerca de 12,78% nos rendimentos mensais das famílias há dois anos – hoje é bem superior devido à subida dos juros, com o Banco de Portugal a registar uma taxa de esforço média de 21,6% em agosto de 2023.
Houve também 130 municípios (42% do total), localizados sobretudo nas regiões Norte, Centro e Algarve, que apresentaram valores medianos das taxas de esforço superiores à referência nacional (de 12,78%). Entre eles, o município de Albufeira (16,45%) foi o que registou a taxa de esforço mais elevada do país em 2021.
O que também salta à vista é que, há dois anos, “os 20% dos mutuários com taxas de esforço mais elevadas utilizavam mais de um quinto (20,99%) do rendimento para fazer face às prestações de crédito para habitação”. Analisando o país à lupa, verificou-se ainda que 13 municípios apresentaram taxas de esforço acima de 25%, tendo Albufeira (29,23%) registado o maior valor. A nível nacional, se considerarmos apenas os 10% dos mutuários com mais dificuldades em pagar a prestação, a taxa de esforço sobe para 28,51%.

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Jovens têm maiores taxas de esforço do que gerações anteriores
Numa analise às características sociodemográficas dos mutuários com crédito habitação, o INE concluiu ainda que as famílias mais jovens apresentavam taxas de esforço superiores às dos mutuários dos restantes escalões etários. E esta é uma realidade visível em 21 das 25 sub-regiões, com o Algarve, Alto Tâmega e a Região Autónoma da Madeira a registaram taxas de esforço para os mutuários mais jovens superiores a 15%.
“O valor mediano da taxa de esforço com o crédito para habitação permanente, em 2021, era mais elevado para os mutuários com 34 ou menos anos (14,15%), face aos mutuários com 65 ou mais anos (13,03%) e aos mutuários com idades entre os 35 e os 64 anos (12,56%)”, explicam. Isto poderá ser explicado pelo facto de os jovens em início de carreira tenderem a ter salários mais baixos.
Considerando apenas os mutuários com 34 ou menos anos com rendimentos mais baixos (até 844 euros mensais), o instituto revela que “em 2021 o valor mediano da taxa de esforço do crédito para habitação ascendia a 19,40% ao nível nacional”. E nas sub-regiões do Algarve (24,07%), Grande Lisboa (22,54%) e Madeira (20,74%), as prestações de crédito para habitação permanente ultrapassavam um quinto do rendimento.

Mulheres que contratam crédito habitação sozinhas têm taxas de esforço superiores às dos homens
O que também salta à vista – como seria de esperar – é que quem resolve avançar sozinho com um financiamento bancário para comprar uma casa própria enfrenta uma maior taxa de esforço, uma vez que a prestação da casa vai pesar apenas sobre um rendimento. “A mediana da taxa de esforço dos mutuários com contratos de crédito à habitação envolvendo 2 ou mais mutuários era de 12,21%, sendo 15,14% para aqueles com um único mutuário”, destaca o gabinete de estatística português.
E como as mulheres continuam a ter salários inferiores aos dos homens, as suas taxas de esforço quando compram casa sozinhas também são superiores. “A segmentação por sexo dos mutuários em contratos de um único mutuário evidenciou taxas de esforço da habitação superiores para as mulheres (15,39%) face aos homens (14,84%)”, conclui.
Este padrão foi observado em 17 das 25 sub-regiões, sendo o Algarve a sub-região com as maiores taxas de esforço da habitação dos mutuários singulares em ambos os sexos.
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