Esta é uma medida para travar a inflação na Zona Euro. BCE admitiu que vai continuar a subir os juros nas próximas reuniões.
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Subida das taxas de juro na Europa
Christine Lagarde, presidente do BCE wikimedia_commons

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira, dia 21 de julho, que decidiu proceder a um aumento de 50 pontos base das suas três taxas de juro diretoras, o primeiro aumento em 11 anos.

As alterações nas três taxas de juro diretoras são as seguinte:

  • a taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 0% para 0,50%;
  • a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica agora em 0,75%
  • a taxa de depósito que estava em terreno negativo (-0,50%) sobe para 0%. Esta subida terá efeitos a partir de 27 de julho.

"O Conselho do BCE considerou apropriado dar um primeiro passo maior, na sua trajetória de normalização das taxas de juro diretoras, do que o sinalizado na reunião anterior", refere em comunicado o banco central, que optou por uma subida de 50 pontos base em vez dos 25 pontos base indicados inicialmente.

Foi em junho que o BCE indicou que tencionava subir as taxas de juro em 25 pontos base na sua próxima reunião. Mas, desde então, alguns membros do Conselho da instituição mostraram-se a favor de uma subida mais agressiva, da ordem dos 50 pontos base, que acabou por acontecer esta quinta-feira.

E o BCE admitiu ainda que nas próximas reuniões continuará a subir as taxas de juro. Até porque esta é uma medida para travar a inflação que se faz sentir na Zona Euro, que atingiu nível recorde em junho de 8,6%, segundo os dados do Eurostat.

Nas próximas reuniões do Conselho do BCE, será apropriada uma nova normalização das taxas de juro", indica o comunicado divulgado no final da reunião, acrescentando que a antecipação, esta quinta-feora decidida, de "saída de taxas de juro negativas permite ao Conselho do BCE efetuar a transição para uma abordagem reunião a reunião nas decisões sobre as taxas de juro".

Segundo o BCE, a futura trajetória das taxas de juro diretoras "continuará a depender dos dados e ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo".

Taxa de juros sobe na Europa
Pixabay

Instrumento de Proteção da Transmissão já aprovado - para que serve?

Na reunião, o BCE aprovou também a criação do Instrumento de Proteção da Transmissão (IPT), que considerou "necessária para apoiar a transmissão eficaz da política monetária". Trata-se de um novo instrumento para proteger os países mais frágeis de ataques especulativos às suas dívidas soberanas.

"O IPT será uma adição ao conjunto de instrumentos do Conselho do BCE e pode ser ativado a fim de contrariar dinâmicas de mercado desordenadas, injustificadas e passíveis de representar uma ameaça grave para a transmissão da política monetária na área do euro. As aquisições não estão sujeitas a restrições prévias. Ao salvaguardar o mecanismo de transmissão, o IPT permitirá ao Conselho do BCE cumprir mais eficazmente o seu mandato de manutenção da estabilidade de preços", explicam em comunicado.

Com as finanças públicas nacionais sob forte pressão desde a pandemia da Covid-19 e agora com o impacto da guerra na Ucrânia, os juros das dívidas começaram a divergir entre os países da zona euro, com os países mais endividados a serem penalizados. 

Este mecanismo anti-fragmentação foi desenhado para evitar nova crise de dívidas soberanas como a de 2012. Este instrumentoprevê compras de dívida potencialmente ilimitadas para combater os ataques especulativos.

O IPT foi desenhado "para todos os países da zona euro" e que será o Conselho do BCE a decidir se se aplica a um país. Trata-se de uma ferramenta para usar "num momento excecional", embora tenha também salientado que o BCE "não hesitará" em recorrer a ele.

BCE sobe juros
Christine Lagarde, presidente do BCE GTRES

Subida dos juros em 50 pontos base já era esperada

"O Banco Central Europeu está muito atrasado na normalização da sua política monetária e não pode esperar mais para aumentar as taxas de juro. Christine Lagarde a sua presidente, deve, portanto adotar um tom agressivo e agir finalmente com uma subida inicial de 50 pontos base, contrariando os 25 pontos base antecipados pelos mercados", referiu Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, numa nota enviada à Lusa.

"A queda do euro face ao dólar - que aumenta o preço das matérias-primas - é mais um argumento para o BCE demonstrar a sua determinação", acrescenta.

Nos últimos dois anos, o banco central optou por uma política monetária acomodatícia, com taxas de juro muito baixas e elevadas compras de ativos, para ajudar a economia a ultrapassar a crise causada pela pandemia da Covid-19.

Desde há alguns meses, o BCE começou a preparar o terreno para pôr fim à era do dinheiro barato, tendo começado por reduzir as compras líquidas de dívida, que terminaram este mês. A instituição liderada por Christine Lagarde junta-se assim a outros bancos centrais, como a Reserva Federal norte-americana, que têm estado mais ativos na luta para conter a subida de preços.

Política monetária na UE
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*Com Lusa

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