
De megalómano a miserável. Este foi o salto vertiginoso que o setor da construção deu em menos de um ano na Arábia Saudita, empurrado pela queda do preço do petróleo para o colapso. O crude que fazia correr o dinheiro, de forma massiva no reino do ouro negro, está agora a tirar o fôlego às empresas, com o Estado a cortar todos os pagamentos. E quem está a pagar com o corpo, literalmente, são os milhares de trabalhadores da construção, onde estão incluídos também portugueses.
A situação é como a de um pesadelo: as construtoras não pagam há vários meses e mantêm os trabalhadores em "campos" no deserto ardente com 50 graus, onde falta água, alimentação e medicamentos. E não podem sair sem um visto. Estão presos na emboscada da bolha que rebentou no setor da construção na Arábia Saudita, tal como denuncia a Bloomberg, numa grande reportagem citada pelo Jornal de Negócios.

O inferno de milhares de trabalhadores enganados
E as condições em que estes trabalhadores se encontram são miseráveis, reporta ainda a Bloomberg, aludindo a um cheiro fétido e a um espaço muito apertado e desconfortável. Em cada exíguo quarto de cimento, dormem oito trabalhadores que lutam pelo uso da casa-de-banho.
Os trabalhadores "abandonados", como lhes chama a Bloomberg, não vêem um cheque há cerca de oito meses. Destes, cerca de 16.000 provêm da Índia e do Paquistão, segundo os dados disponibilizados pelos seus governos. Há ainda muitos outros nesta situação, oriundos do Sri Lanka, Bangladesh e Filipinas.
Portugueses presos na "armadilha" do ouro negro
Há menos de uma semana, havia ainda pelo menos cerca de 80 portugueses presos na armadilha. Em causa estão trabalhadores da construtora saudita Saudi Oger, há nove meses sem receber salários e subsídios de alojamento, e sem dinheiro para voltar. Uns vivem em apartamentos partilhados, outros em campos de trabalho “onde falta tudo”. O caso, noticiado pela SIC Notícias, é relatado ao Dinheiro Vivo por trabalhadores nestas condições.
O cenário relatado pelos portugueses tem início no final do ano passado, quando os preços do petróleo começam a afundar drasticamente, pressionados pelo excesso de oferta face à procura, para, já em janeiro deste ano, baterem no fundo e baixarem da fasquia dos 30 dólares por barril. Isto, tal como recorda o jornal, num contexto em que nenhum dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) se mostrava (ou mostra, ainda hoje) aberto a cortar na produção para, dessa forma, aliviar as quedas dos preços.
Os casos, de acordo com a imprensa nacional, já foram denunciados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que “tem vindo a acompanhar de muito perto, nomeadamente por meio da Embaixada de Portugal em Riade, a situação em que se encontram os trabalhadores portugueses na Arábia Saudita, assalariados da empresa Saudi Oger”.
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