Nem suspeitosamente altos, nem excessivamente baixos: os preços da habitação na Zona Euro estão atualmente no ponto certo, segundo o Banco Central Europeu (BCE), que afasta assim as especulações à volta de uma nova bolha imobiliária. Portugal está entre os países europeus onde, desde a última crise, se tem vindo a registar a maior subida do custo da habitação e pertence ao grupo de maior risco, devido à debilidade económica do país e ao crescimento em flecha do crédito à habitação.
A máxima autoridade monetária da Zona Euro assegura no mais recente Boletim Económico que as subidas que se estão a registar no mercado residencial da região da moeda única crescem em linha com a média histórica (1999-2016), pelo que os preços estão longe de gerar uma nova bolha imobiliária como a que se viveu em 2007, em muitos mercados europeus, em pleno pico do ciclo de subida da economia e da construção.
"As medidas de valorização aplicadas aos dados agregados para a Zona Euro sugerem que, atualmente, os preços estão conformes com os fundamentos económicos e não mostram sinais do excesso observado em 2007, quando terminou a grande fase de expansão anterior", aponta.
Segundo o indicador agregado dos preços dos imóveis residenciais que trabalha o BCE, a taxa de crescimento interanual do valor das casas na Zona Euro foi de 3% no segundo trimestre de 2016, face aos 2,7% do trimestre anterior e aos 2,2% do último trimestre de 2015.
O Banco de Portugal, a par de outros organismos e especialistas, tem explicado o crescimento do setor imobiliário com alguma melhoria económica, as condições financeiras mais favoráveis por parte da banca na hora de dar crédito à habitação e as baixas taxas de juro (que reduzem o custo da prestação, bem como a atratividade de produtos de poupança, como os depósitos).
Portugal entre países onde preços mais subiram
"A evolução dos preços dos imóveis residenciais na Zona Euro continua a ser heterogénea entre países, mas as diferenças vão-se atenuando". Ainda assim, há diferentes velocidades, uma vez que nem todos os países estão no mesmo ponto do ciclo económico e de recuperação do mercado imobiliário.
"Os países que, desde o início de 2014, se situaram no extremo superior do leque de taxas médias de crescimento interanual dos preços nominais da habitação são a Alemanha, Estónia, Irlanda, Luxemburgo, Áustria e Portugal. Em conjunto, esta recuperação vê-se sustentado atualmente pelo forte crescimento registado em países cujo mercado habitacional não caiu com a crise financeira (como Alemanha e Áustria), assim como em países que sofreram a referida quebra, mas que desde então têm registado correções que facilitam o avanço da recuperação (como Irlanda, Espanha, Letónia e Lituânia). No entanto, na Grécia, Itália e Chipre, o crescimento médio manteve-se em valores negativos, inclusivamente desde 2014", explica o BCE.
BCE continua vigilante
O organismo alerta, porém, que o crescimento atual poderá esconder vulnerabilidades ou valorizações excessivas em alguns países ou regiões sobretudo quando a retoma dos preços vem acompanhada de um forte crescimento do crédito à habitação e um elevado nível de endividamento. Além disso, a recuperação está em marcha há cerca de dois anos, sendo que historicamente são necessários nove anos para confirmar um ciclo de expansão.
"As fases de subida dos ciclos de preços das casas rebentaram rapidamente porque as expansões terminaram em intensos "booms" com valorizações insustentáveis. No contexto como o que se vive atualmente, com baixos rendimentos e uma procura continua de rentabilidade, as possíveis vulnerabilidades deveriam ser objeto de uma atenta vigilância, conclui o organismo.
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