
Tornar as cidades cosmopolitas em espaços mais verdes, seguros e saudáveis. Com mais atividades de lazer e cultura. Pensados para as pessoas. Este é o objetivo do arquitecto catalão Ton Salvadó, que foi o responsável pela implementação da primeira super-ilha em Barcelona, um conceito pioneiro, introduzido em 2016, no bairro de Poblenou. Na cidade espanhola, onde antes circulavam carros, agora há este modelo de organização do espaço urbano que visa tornar a cidade mais humana. O objetivo da capital catalã é chegar às 500 super-ilhas.
Em Portugal, a associação Lisboa Possível, numa parceria com a Zero, lançou uma campanha que é um espaço aberto para qualquer munícipe apresentar propostas no sentido de transformar o seu bairro no primeiro super-bairro (o mesmo que super-ilha) de Lisboa, conta o Público.
Para servir de inspiração, a associação convidou o arquiteto Ton Salvadó para a antestreia da animação que o jardineiro digital Jan Kamensky criou para Lisboa, com o objetivo de mostrar como é possível criar uma super-ilha no coração da cidade. O designer gráfico alemão começou durante a pandemia a imaginar cidades sem carros, com mais pessoas e verde nas ruas e criou uma “utopia visual” para a capital portuguesa.
Neste contexto, Ton Salvadó está convencido que as super-ilhas são uma ferramenta neste sentido, para “romper a cidade”, que, pouco a pouco, foi negligenciando o espaço público.
O conceito não é de agora. Já em 1987, o atual diretor da Agência de Ecologia Urbana de Barcelona, Salvador Rueda, pretendia diminuir o número de automóveis individuais que transitavam dentro dos quarteirões da cidade espanhola, de forma a reduzir os níveis de ruído com origem no tráfego de carros. Mas, segundo escreve o diário, a ideia só foi implementada quando Ton Salvadó foi eleito diretor do Modelo Urbano do município de Barcelona, durante o primeiro mandato de Ada Colau como presidente da autarquia.
E o que são as super-ilhas?

São áreas constituídas por nove quarteirões onde a circulação de automóveis é limitada às ruas principais, devolvendo as ruas interiores aos peões, com o objetivo de melhorar a saúde física e mental dos seus habitantes. Só que, inicialmente, em Barcelona houve resistências por parte de vizinhos e comerciantes de Poblenou, no centro histórico da cidade, que temiam ver os seus negócios e qualidade de vida afetados negativamente e levaram os planos urbanísticos do arquiteto para tribunal.
Porém, após a implementação do projeto-piloto, Ton Salvadó foi verificando que muitos dos opositores foram mudando de opinião. “Com o tempo repararam nos benefícios desta transformação”, sublinha o arquiteto, acreditando que “é tudo uma questão de pedagogia”.
A seu favor falaram os resultados da implementação da super-ilha: afinal, as ruas pedonais ajudaram a estimular o comércio e possibilitaram o usufruto do espaço público de forma diferente.

“Os espaços devem ser utilizados pelas pessoas para que possam sair à rua e as crianças tenham possibilidade de brincar, tal como os nossos avós e pais faziam. É preciso recuperar este espaço de máximo conforto”, argumenta, defendendo ainda a implementação de mais vegetação, para minimizar o impacto das altas temperaturas e tornar os espaços mais confortáveis. “Há que repensar como se vive na cidade e reduzir o carro individual, mas também melhorar o transporte público, que tem de ser impecável”, acrescenta.
Pensando no exemplo de Lisboa, o arquiteto admite que a capital portuguesa “tem uma topográfica complexa, o que torna mais difícil deslocar-se a pé”, mas considera que o elétrico poderia ser um método que ajudaria na deslocação dos habitantes, especialmente dos idosos. “A ideia é que as pessoas tenham a escola e o supermercado perto de casa.”
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