Cidade-epicentro da Alemanha de Hitler vai reabilitar estruturas em risco de derrocada. Projeto envolto em polémica.
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Nuremberga investe 85 milhões de euros para restaurar o cenário dos comícios nazis
Photo by Kadir Celep on Unsplash

Nuremberga, cidade-epicentro da Alemanha nazi que procurou reinventar-se depois de intensamente bombardeada em 1945, vai agora ser alvo de um investimento na ordem dos 85 milhões de euros. Em causa estão projetos de conservação dos espaços ligados ao nazismo, o complexo do Parque do Zeppelin e o Centro de Congressos do Partido Nacional-Socialista. Em particular o local onde, entre 1933 e 1938, Hitler fez os seus discursos racistas perante centenas de milhares de pessoas.

Hitler, chanceler entre 1933 e 1945, tal como recorda o Público, escolheu Nuremberga como a Cidade dos Congressos do Partido Nacional-Socialista, tendo planeado ali construir um imenso complexo, cujo desenho entregou ao principal arquiteto do III Reich, Albert Speer, capaz de transmitir os ideais de grandeza da sua Alemanha. 

Desse complexo, cuja construção não ficou completa, o diário destaca o Centro de Congressos, inacabado, onde está hoje um centro de documentação que tem em permanência desde 1984 Fascínio e Violência, uma exposição sobre os horrores do nazismo e de outros totalitarismos, e a tristemente célebre tribuna do Parque Zeppelin, palco das grandes paradas militares anuais — registadas em filmes que refletem uma estética muito própria, com a assinatura de Leni Riefenstahl, há décadas objeto de estudo —, instrumentos de encenação do regime que tinham como ponto alto o discurso do Führer, feito a partir deste “púlpito” inspirado numa das jóias do mundo clássico, o altar de Pérgamo. 

Intervir neste cenário de paradas nazis, entretanto aberto à prática desportiva e a outras atividades de lazer, mas também a eventos musicais (lembra o Figaro que até Bob Dylan tocou ali em 1978), não é, naturalmente consensual, mas tornou-se necessário, argumenta o executivo que governa esta cidade da Baviera, citado pelas imprensas alemã e francesa.

Depois de 20 anos de debate, e contestada por aqueles que preferiam que este recinto com 11km2 se degradasse de forma controlada e por outros que gostariam de ver os 85 milhões de euros alocados ao projeto de restauro investidos na construção de habitação, mas contando com o apoio da comunidade judaica local, a reabilitação vai avançar em breve, sendo os custos partilhados pela cidade, o estado da Baviera e o governo federal. 

O dinheiro será aplicado, sobretudo, na consolidação das estruturas, mas também no centro de documentação, que poderá vir a acolher estúdios para artistas, e em novos painéis capazes de elucidar o visitante sobre o que ali se passava e o que significava cada construção.

Apesar de haver o risco de aproveitamento deste espaço monumental por neonazis e outros grupos de extrema-direita numa Alemanha em que eles parecem vir a ganhar força, assim como o anti-semitismo, as autoridades consideram que é urgente travar a degradação daquelas estruturas, em parte já fechadas por perigo de derrocada, para que as pedras falem e a história não se repita, tal como escreve o Público.

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