Convenção de Haia de 1954 definiu o protocolo para a proteção de bens culturais em caso de conflito armado. Rússia não cumpre.
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Património Mundial UNESCO
Catedral de Santa Sofia de Kiev Rbrechko, CC BY-SA 4.0, Wikimedia Commons

À luz da escalada devastadora de violência na Ucrânia, na sequência da invasão russa, a UNESCO mostra-se “profundamente preocupada” com os acontecimentos neste país e diz estar a trabalhar para avaliar os danos nas esferas da sua competência, nomeadamente educação, cultura, património e informação, e implementar ações de apoio de emergência. Em comunicado, a organização exige às autoridades russas o cumprimento da Convenção de Haia de 1954, pela qual ficou definida a proteção de bens culturais em caso de conflito armado.

Citada no documento, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, pede a “proteção do património cultural ucraniano, que presta testemunho da rica história do país, e que inclui sete locais Património Mundial – especialmente localizados em Lviv e Kiev; as cidades de Odessa e Kharkiv, membros da Rede UNESCO de Cidades Criativas; os seus arquivos nacionais, alguns dos quais figuram no Livro UNESCO da Memória do Mundo; e os locais que assinalam a tragédia do Holocausto”.

“Devemos salvaguardar este património cultural, como testemunho do passado mas também como vetor de paz para o futuro, que a comunidade internacional tem o dever de proteger e preservar para as gerações futuras. É também para proteger o futuro que as instituições de ensino devem ser consideradas santuários”, frisa a responsável.

UNESCO
Centro histórico de Lviv © Silvan Rehfeld

A UNESCO exige, por isso, a cessação imediata dos ataques a instalações civis, como escolas, universidades, memoriais, infraestruturas culturais e de comunicação, e “lamenta as baixas civis, incluindo estudantes, professores, artistas, cientistas e jornalistas”.

A fim de prevenir ataques, a UNESCO, em estreita coordenação com as autoridades ucranianas, está a trabalhar para marcar o mais rápido possível monumentos e locais históricos importantes em toda a Ucrânia com o emblema distintivo da Convenção de Haia de 1954, um sinal internacionalmente reconhecido para a proteção do património cultural em caso de conflito armado. Além disso, a UNESCO abordou as autoridades ucranianas com o objetivo de organizar uma reunião com diretores de museus em todo o país para ajudá-los a responder às necessidades urgentes de salvaguardar coleções e bens culturais.

Quais os monumentos e zonas naturais da Ucrânia na lista de Património Mundial da UNESCO?

A preocupação expressa há dias pela UNESCO não se limita, portanto, aos monumentos que constam oficialmente da sua lista neste momento e que agora apresentamos, a partir de um artigo publicado pelo Expresso:

  • Catedral de Santa Sofia, um edifício que data originalmente do século XI e foi o primeiro da Ucrânia a ser inscrito na lista de Património Mundial, juntamente com o mosteiro de Kiev-Petchersk, que fica ao lado – a UNESCO considerou tratar-se de um único complexo.
  • Cidade velha de Lviv. O centro antigo conserva a topografia medieval e tem edifícios de sucessivas épocas, incluindo renascimento e barroco
  • Residência dos Metropolitas da Bucovina e da Dalmácia, em Chernivtsi, na parte ocidental do país. Um conjunto de majestosos edifícios dispostos em torno de uma larga praça e construídos no século XIX.
  • Tserkvas de madeira da região dos Cárpatos na Polônia e Ucrânia, um conjunto de igrejas de confissão ortodoxa e greco-católica que, segundo a descrição oficial, “testemunham de uma tradição de construção distintiva com raízes no design eclesiástico ortodoxo entrelaçados com elementos de tradição local e referências simbólicas à cosmogonia das suas comunidades”.
  • Quersoneso, na Crimeia (a península anexada pela Rússia em 2014, mas que a comunidade internacional continua a reconhecer como fazendo parte da Ucrânia). Parque arqueológico de uma colónia grega fundada no século V antes de Cristo, onde a influência grega se mistura com a romana e a bizantina.
  • Florestas primárias e antigas de faias dos Cárpatos e de outras regiões da Europa. Outra herança distribuída por vários países.
  • Arco geodésico de Struve. Uma cadeia de triangulações assinaladas por marcos que atravessam mais de 2800 quilómetros e dez países, da Noruega até à Ucrânia, junto ao mar Negro.
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