
A guerra na Ucrânia está a ecoar em todos os mercados. E o mercado das criptomoedas não é exeção. Logo depois do conflito ter eclodido em território ucraniano pela mão da Rússia, o mercado sentiu os seus efeitos imediados: o bitcoin caiu para abaixo dos 35.000 dólares (cerca de 34.431 euros), enquanto o ether caiu abaixo dos 2.302 dólares. A verdade é que esta queda no mercado das moedas virtuais não surpreendeu os investidores e analistas, dada a sua natureza volátil. Mas, afinal, o que é que pode mudar no mercado das criptomoedas com a guerra na Ucrânia? E como vão ser influenciados os investimentos? Poderá a Rússia beneficiar deste mercado cripto? Respondemos a estas e outras questões neste artigo preparado pelo idealista/news.
As reações nos mercados financeiros após a invasão russa à Ucrânia não demoraram muito. E entre os tipos de ativos de investimento que mais sentiram o seu impacto imediato foram mesmo as criptomoedas, algo que não surpreendeu quem aposta neste mercado. Isto porque as cotações do bitcoin e outras criptomoedas podem mudar não só do dia para a noite, como até de minuto para minuto. É por isso mesmo que investir em bitcoin e noutras moedas virtuais é adequado para os players que querem explorar estas flutuações de valor e fazer investimentos de alto risco.

Porque é que a Rússia pode beneficiar da bitcoin?
As criptomoedas - como a bitcoin (a mais popular), o ether e as Litecoins - são moedas virtuais que não estão sob o controlo de instituições financeiras ou governos, sendo por isso definidas como moedas descentralizadas. A tecnologia por trás do desenvolvimento de criptomoedas é a chamada blockchain. Portanto, nestes sistemas, é possível haver a transferência de moedas virtuais de forma anónima e sem a interferência de terceiros, como um banco ou governo.
Depois de o Ocidente ter aplicado duras sanções financeiras à Rússia excluindo-a do sistema financeiro internacional e de se assistir a uma desvalorização do rublo em 62,1% do seu valor desde o início da invasão, o mercado das criptomoedas mostrou-se atrativo ao investimento russo, até porque as grandes corretoras cripto (como a Binance) não dão sinais de querer acompanhar as sanções impostas pelos EUA e pela UE.
As moedas virtuais tornaram-se, por isso, numa forma de contornar as sanções económicas impostas pelo Ocidente. E, segundo os dados da Crytocompare, a compra de bitcoins com rublos disparou logo após a evasão russa: no dia 24 de fevereiro - o dia em que começou a invasão militar - o volume de aquisição de bitcoin através da divisa russa totalizou 1,33 mil milhões de rublos (cerca de 11,2 mihões de euros), registando uma subida de 267% face às transações registadas no dia anterior, escreve o Expresso.
Este movimento de criptomoedas já está a fazer-se sentir na sua valorização: entre segunda e quarta-feira, o bitcoin valorizou 15%, atingido os 44 mil dólares (cerca de 39 mil euros) e o ether viu o seu valor subir 14% no mesmo período para 2.982 dólares (2.670 euros), escreve o mesmo jornal.

Como é investir em bitcoin?
Para melhor compreender o mundo das criptomoedas e como são realizados os investimentos neste mercado, o idealista/news Itália falou com Danielo Zanni, fundador e diretor da Ioinvesto SCF, uma consultora financeira independente.
"Investir em bitcoin ou noutras criptomoedas é caracterizado por um nível muito alto de um risco específico", começa por explicar Danielo Zanni. Embora o bitcoin seja a criptomoeda mais popular, não é descartado o facto de ser ultrapassada por outra moeda virtual. "Agora, há muita discussão agora sobre a definição de um marco legal para regular essa questão, mas ainda estamos longe de entender o que vai acontecer e quais decisões poderiam ser tomadas. Só podemos fazer suposições", esclarece o especialista.
E, afinal, o que é o blockchain? "Estamos a falar de investimentos numa infraestrutura que pode ter muitas aplicações. (...) Por detrás do blockchain há de facto uma tecnologia que pode ser explorada em grande escala, da saúde a outros setores. O potencial é, portanto, enorme", explica ainda.

Como é que se deve investir nas criptomoedas?
"Como consultor financeiro independente, aconselho sempre os meus clientes a diversificar para eliminar o risco específico associado a apenas um tipo de investimento", começa por explicar Danielo Zanni. É por isso que a primeira sugestão que dá passa mesmo por evitar focar o investimento só e apenas nos grandes lucros que a aplicação em cripo poderá trazer.
"A melhor maneira passa por investir não só em blockchain, mas também noutros tipo de ativos, como é o caso dos ETFs (Exchange-traded fund), para diversificar o investimento", refere ainda. Os ETFs são, portanto, fundos que investem em diferentes ações e acompanham um índice. "Neste momento, há cerca de seis que podem ser comprados, estando listados em diferentes bolsas de valores europeias. Mas cuidado que os ETFs podem dar retornos muito diferentes precisamente porque os títulos subjacentes são diferentes. Entre os que mantenho em observação, há alguns que obtiveram um retorno de 4% desde o início do ano e um que perdeu mais de 30%", explica ainda.

Quais são os riscos do investimento em criptomoedas?
"Quando falamos de inovação, como no caso da tecnologia blockchain, devemos ter em conta o fato de que nem tudo o que será desenvolvido poderia ter uma aplicação concreta ou em larga escala. Esse raciocínio aplica-se a todas as tecnologias", começa por explicar.
Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2000 com o boom da internet. "Muitas empresas pequenas e altamente inovadoras nasceram, mas só 10% ainda estão hoje ativas. Muitas deflacionaram gradualmente, reduzindo os números que os caracterizaram no início de sua história, como o italiano Tiscali", aponta o diretor da Ioinvesto SCF.
E como se pode acautelar tudo isto? "Mesmo quando queremos investir num ativo que nos parece interessante, devemos sempre analisar o nosso perfil de risco e o nosso horizonte temporal de investimento e a partir daqui escolher entre as alternativas disponíveis", aconselha.

Quais os perfis de risco que devem apostar nas criptomoedas?
O investimento no mercado de criptomoedas deve ser realizado consoante os objetivos, tipo de risco que se predente correr e tempo de aplicação do investimento. Tal como explica o especialista, os principais perfis de risco são:
- Investidores mais prudentes: têm um nível de risco baixo e portanto devem ficar longe do investimento em blockchain ou criptomoedas;
- Investimento no médio prazo e risco médio: se um player tiver horizontede investimento de menos de 5 anos, pode limitar-se a incluir este tipo de ativo no seu portfólio para diversificar através de uma pequena parte de um fundo de ações global;
- Perfil de risco elevado: aqueles que estão dispostos a correr mais riscos ou aplicar capital num horizonte de investimento de longo prazo, podem investir uma parte um pouco maior de seu portfólio em blockchain, mas sempre diversificando de modo a reduzir o risco;
- Perfil de risco "equilibrado" ou "dinâmico": pode considerar comprar "com desconto" hoje, a um preço acessível e manter o investimento na carteira por um período de 10 a 20 anos, aconselha ainda.
Há que ter em conta que os mercados não valorizam logo no imediado os setores inovadores e mais promissores, podendo o investimento demorar 5 ou 6 anos até ver os primeiros lucros. Por exemplo, no caso das empresas que integram o setor da "energia limpa", até 2020 não tiveram variações expressivas e só nos últimos meses é que o mercado 'explodiu'. "Quando se trata de investimentos setoriais, o fator "tempo" faz a diferença", conclui o especilista em consultoria financeira.

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