
O mercado de crédito habitação está a adaptar-se ao atual cenário marcado pela alta inflação, que tem esmagado os orçamentos familiares: as taxas de juro estão em máximos de 2012 e o montante concedido em novos empréstimos para comprar casa está a cair desde janeiro 2023. E são precisamente as famílias que têm rendimentos líquidos inferiores a 1.200 euros mensais as mais afetadas, já que têm vindo a pedir cada vez menos créditos habitação, segundo aponta o Banco de Portugal (BdP).
A inflação está a esmagar o poder de compra das famílias. Os créditos habitação cada vez mais caros. E os bancos estão a restringir os critérios de concessão de empréstimos, ainda que ligeiramente. Todos estes fatores, juntos, estão a levar a que haja menos famílias a recorrer ao crédito habitação, já que o montante está a descer desde janeiro de 2023.
O BdP revelou agora que são as famílias de menores rendimentos as mais afetadas. “Entre o terceiro trimestre de 2018 e o final de 2022, observou-se uma tendência de redução da percentagem de novas operações de crédito à habitação, que se acentuou em 2022, associadas a mutuários com rendimentos mensais líquidos inferiores a 1.200 euros”, lê-se no Relatório de Acompanhamento da Recomendação macroprudencial sobre novos créditos a consumidores do Banco de Portugal publicado na passada sexta-feira, dia 31 de março.
Por outro lado, quem está a pedir mais créditos habitação são as famílias com rendimentos mensais líquidos superiores a 2.400 euros, diz o regulador português, dando nota que o “crescimento mais expressivo” foi observado no escalão de mutuários com rendimento superior a 4.600 euros.
Portanto, em 2022 “as novas operações de crédito habitação estão concentradas em mutuários com rendimento mensal líquido superior a 1.200 euros”, conclui o BdP. Já o crédito ao consumo se encontra mais concentrado em mutuários com rendimento líquido mensal entre 600 e 2.400 euros. De recordar, que segundos os dados recolhidos pela PORDATA, o salário médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem foi de 1.082,8 euros em 2021.

Menos riscos nos empréstimos das famílias com menores rendimentos.
Uma das recomendações do BdP prende-se com a taxa de esforço - o Debt Service-to-Income ratio (DSTI) – que, em termos gerais, deverá ser igual ou inferior a 50%. E sobre este ponto há boas notícias: há cada vez menos famílias com rendimentos mais baixos com taxas de esforço superiores a 50%.
“De 2018 a 2021, observa-se uma diminuição da percentagem de novas operações concedidas a mutuários com um rácio DSTI superior a 50%, calculado de acordo com a recomendação, e com rendimentos líquidos mais baixos. Esta alteração de estrutura registou-se em todas as classes de rendimento líquido mensal dos mutuários, mas é mais visível nos níveis de rendimento mais baixos, e espelha, em larga medida, a diminuição do risco dos empréstimos concedidos”, explicou ainda o regulador liderado por Mário Centeno.
A tendência de redução dos níveis de risco no crédito habitação continuou: “Em 2022, para os níveis mais baixos de rendimento, observa-se uma ligeira redução da percentagem de novos contratos de crédito à habitação concedidos a mutuários com um rácio DSTI superior a 50%, calculado de acordo com a recomendação (de 0,31% em 2021 para 0,30% em 2022)”, concluem. A percentagem de novas operações de crédito habitação associadas a mutuários com rendimento mensal líquido igual ou inferior a 1.200 euros e um rácio DSTI superior a 50% foram diminutas em 2022, fixando-se em 1,9%.
Já para os escalões de rendimento mais elevados, nomeadamente para rendimentos líquidos a partir de 1.200 euros, observa-se um aumento das novas operações de crédito habitação com taxas de esforço superiores a 50%: de 4,2% em 2021 para 6,8% em 2022. Segundo o BdP, este crescimento reflete a maior utilização das exceções consideradas na recomendação, nomeadamente:
- até 10% do montante total de créditos pode apresentar um rácio DSTI até 60%;
- até 5% do montante total de créditos pode ultrapassar o limite ao rácio DSTI.
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