
Com a nova onda de calor, nada melhor para refrescar do que dar um mergulho na piscina ou no mar. E qualquer pessoa já deve ter ouvido em algum momento da vida que seria perigoso entrar na água após uma refeição. Mas será mesmo assim? É realmente arriscado tomar banho depois de comer e há que esperar até se fazer a digestão? E podemos afogar-nos? Afinal, parece que não é mais do que um mito urbano. Especialistas dizem que o perigo não está na “paragem de digestão” perpetuada pela sabedoria popular, mas sim no choque térmico. O importante, garantem, é evitar mudanças bruscas de temperatura.
“É um pouco uma lenda urbana, porque tem pouco a ver com a digestão”, diz Jesús Sueiro, porta-voz da Associação Galega de Medicina de Família e Comunidade (AGAMFEC), em entrevista ao El País. “Tem mais a ver com o choque térmico, entrar em água muito fria de repente. É um colapso circulatório, ocorre hipotensão ou queda da pressão arterial, uma espécie de síncope. Podem ocorrer tonturas, até vómitos, e, se alguém estiver na água nesse momento, pode causar afogamento por perda de consciência”, explica. Entrar com cuidado, devagar e progressivamente, deixando o corpo acostumar-se, elimina o risco.
Alberto García Sanz, da Escola Espanhola de Resgate e Primeiros Socorros, indica que qualquer atividade física com o estômago cheio, seja nadar ou correr, pode causar distúrbios gastrointestinais, náuseas, vómitos ou tonturas. Ou seja, a água, ou dar o mergulho não é o problema. A hidrocussão (ou “paragem de digestão”) é, esclarece, um choque termodiferencial, e pode acontecer sem sequer termos comido nada.

“Se mergulhamos de repente, no momento do contacto com a água há uma mudança de temperatura, um choque termodiferencial. Pode haver uma perda de consciência e com isso nos afogamos. Mas poderíamos sequer nem ter comido”, alerta. O perigo está, portanto, nas mudanças bruscas de temperatura. Ao entrarmos em água gelada, depois de muito tempo ou sol ou depois de exercício físico, o choque térmico é maior e pode causar a síncope.
Luis Miguel Pascual, chefe de investigação da ahogamientos.com, garante, portanto, que se entramos na água logo após a refeição, mas não houver muita diferença de temperatura entre a água e o corpo ou se fizermos isso progressivamente, não haverá risco.
O especialista insiste que devemos parar de falar sobre paragens de digestão, já que não há evidências científicas de que tomar banho depois de comer seja perigoso. O que é potencialmente perigoso é esse choque termodiferencial e é aí que a prevenção deve estar focada para evitar riscos desinformados.
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