Sente-se no ar o perfume salgado da ria, o estalar do peixe na grelha e o doce do açúcar queimado. Em Aveiro, comer é mergulhar na alma da cidade, uma fusão entre o mar, a tradição e o engenho conventual.
Dos peixes frescos às enguias, sem esquecer os famosos ovos moles, cada prato conta um pedaço da história desta “Veneza portuguesa”. Mas afinal, quais são os pratos típicos de Aveiro?
Caldeirada de Enguias
A caldeirada de enguias à moda de Aveiro é um ex-libris da gastronomia local, traço identitário da Ria de Aveiro. Tradicionalmente feita em camadas — alternando batatas, cebolas e pedaços de enguia —, é regada com azeite, vinho branco, temperada com alho, louro e uma pitada de “pó de enguias” (uma mistura típica de açafrão‑das‑Índias e gengibre), que confere ao prato a sua cor dourada e sabor terroso.
A gordura, ou "unto de pão", acrescenta uma textura única, enquanto a “moira” — um molho feito com caldo da própria caldeirada, vinagre e sal — é generosamente vertida sobre o prato antes de servir, elevando-o a uma experiência sensorial memorável.
As enguias da Ria de Aveiro são uma marca alimentar da região, símbolo das gentes ribeirinhas e do património piscatório que aí floresceu. Esta espécie migratória, que se forma no Mar dos Sargaços e cresce na ria, deu origem a múltiplas tradições culinárias locais.
Embora a captura tradicional tenha sido substituída em parte por viveiros, continuam a realizar-se festivais gastronómicos — como o da Murtosa — e mantêm-se indústrias de conserva que espalham o sabor da enguia de Aveiro por todo o mundo.
Bacalhau de Ílhavo
O Bacalhau de Ílhavo é uma autêntica instituição no distrito de Aveiro, fruto de séculos de ligação ao mar e às longas fainas no Atlântico Norte. Ílhavo, apelidada de “Capital Portuguesa do Bacalhau”, ergueu-se no séc. XV como referência na pesca de bacalhau na Terra Nova e na Gronelândia, tornando-se destino privilegiado de marinheiros e capitães portugueses. Este património marítimo ainda hoje ecoa nas ementas locais — do bacalhau assado lascado ao arroz de espinhas, passando pelas “caras”, línguas e pataniscas.
A tradição é celebrada anualmente no famoso Festival do Bacalhau de Ílhavo, que decorre no Jardim Oudinot durante cinco dias em agosto e atrai dezenas de milhares de visitantes. Este ano, decorre de 13 a 17 de agosto, e é organizado pela Câmara e pela Confraria Gastronómica do Bacalhau. O festival exalta o peixe em todas as suas variantes e acompanhamentos — pão de Vale de Ílhavo, vinho da Bairrada e showcookings.
Vitela Assada
Em Sever do Vouga, concelho do distrito de Aveiro, a Vitela Assada em forno de lenha assume-se como prato tradicional, valorizado tanto pelo sabor como pela tradição comunitária. É a protagonista da "Rota da Vitela", evento gastronómico que, durante vários dias, transforma restaurantes locais em templos de carne suculenta, geralmente acompanhada de arroz de forno, e elevando o produto a símbolo identitário da região.
A carne, proveniente muitas vezes de bovinos criados em pasto, é temperada com elementos simples — sal, alho, louro e azeite — e assada com batatas ou arroz no mesmo forno, possibilitando que o molho da carne se misture no acompanhamento.
Ostras da Ria
As ostras da Ria de Aveiro destacam‑se pela sua qualidade superior, fruto de águas frias e ricas em fitoplâncton que aceleram o seu crescimento — em cerca de metade do tempo dos seus concorrentes franceses —, resultando numa carne carnuda e um sabor leve a marisco. Existem duas espécies principais cultivadas: a nativa Ostrea edulis e a introduzida Crassostrea gigas, esta última mais resistente e dominante no mercado nacional.
Além da importância económica, as ostras estão profundamente enraizadas na cultura local. O projeto Ostraveiro, instalado numa antiga marinha de sal perto do centro de Aveiro, combina viveiros, visitas guiadas e experiências gastronómicas — incluindo degustações acompanhadas por gin, em locais com vista para a ria.
Outras especialidades do distrito de Aveiro
O distrito de Aveiro é celebre pela sua doçaria conventual e produtos artesanais únicos, como os Ovos Moles, distinguidos com Indicação Geográfica Protegida. Elaborados a partir de gemas e açúcar, colocados em finas hóstias moldadas nas formas da ria — conchas, peixes, búzios — permanecem como símbolo da herança conventual local. Não menos famosos são as Tripas de Aveiro, massa leve, cozida e muitas vezes recheadas com ovos-moles ou chocolate, vendidas quentes nas tradicionais barraquinhas de Costa Nova e pelos cafés da cidade.
Entre outras iguarias, as Raivas, biscoitos crocantes servidos com chá ou café, e os Bilharacos de Abóbora, fritos e polvilhados com açúcar e canela, especialmente no Natal, acrescentam à identidade gastronómica da região.
A regueifa — um pão em forma de rosca, enriquecido com ovos, açúcar, manteiga e aromatizado com canela ou vinho do Porto — é uma tradição que cruza gerações desde o Minho até à zona de Aveiro, especialmente presente em romarias e celebrações comunitárias. Já o Pão de Ló de Ovar é o ex‑libris da doçaria conventual da região de Aveiro, distinguido com Indicação Geográfica Protegida em 2016.
No que toca à produção vínica, o distrito de Aveiro beneficia de duas importantes demarcações: a DOP Bairrada e o subzona Paiva dos Vinhos Verdes. Nos tintos da Bairrada predominam castas como Baga e Touriga-Nacional, resultando em vinhos encorpados e de grande capacidade de envelhecimento, enquanto o Alvarinho, Loureiro, Arinto e Avesso — cultivados em Águeda, Castelo de Paiva e Vale de Cambra — dão origem a vinhos verdes mais frescos, aromáticos e com boa acidez. Se estás a pensar visitar ou viver no distrito de Aveiro, espreita os anúncios mais recentes no idealista:
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