A decisão do governo britânico de fazer um corte de impostos massivo, nomeadamente no setor imobiliário, com a redução do imposto sobre as aquisições – é o maior corte do último meio século –, abalou a economia e os mercados financeiros do Reino Unido. O anúncio do novo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, juntamente com o comunicado do Banco de Inglaterra, que antecipa novas subidas das taxas de juro, suscitou preocupação na agência de notação Moody's e no Fundo Monetário Internacional (FMI), que alertou o novo governo britânico para a necessidade de reavaliar o seu plano anti-crise, que causou o colapso da libra esterlina.
Estima-se que nos cofres públicos britânicos deixem de entrar mais de 50.000 milhões de euros, devido à eliminação de vários impostos, como a taxa máxima de 45% do IRC para os rendimentos mais elevados ou a redução da taxa básica de 20% para 19%, escreve a Bloomberg.
Bancos retiram ofertas, sobretudo de taxa fixa
O Lloyds, o banco que mais créditos habitação concede no Reino Unido, anunciou que começaria a retirar do mercado as ofertas de taxas fixas tendo em conta o momento que se vive na economia do país. Outros grandes bancos, como o HSBC e Santander, também decidiram estudar a situação económica para conseguir novas ofertas de hipotecas. A Nationwide Building Society anunciou, por sua vez, que aumentaria as taxas de todos os seus produtos a partir desta quarta-feira (29 de setembro de 2022).
De recordar que a taxa de juros diretora no Reino Unido está atualmente em 2,25%, mas os analistas já antecipam que pode chegar a 6% no próximo ano, sendo que há apenas um ano estava em 0,1%. As estimativas apontam para que mais de 1,8 milhões de detentores de empréstimos para a compra de casa passem a pagar uma prestação mais elevada.
O Banco de Inglaterra voltou a emitir um comunicado no qual anuncia que “fará o que for necessário” para manter o valor da libra esterlina nos mercados, com a compra de obrigações de longo prazo, de cinco e 10 anos.
Preços das casas a cair
Entretanto, os analistas do Credit Suisse estimam que os preços das casas poderiam cair entre 10% e 15%, apesar do anúncio do ministro Kwasi Kwarteng de fazer cortes no Imposto do Selo, o equivalente ao Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) em Portugal.
O Property Log, que acompanha as mudanças nos preços das casas no site Rightmove, constatou que no início desta semana os valores anunciados baixaram bastante, sofrendo a maior queda dos últimos quatro anos.
Pânico devido à redução da oferta de crédito habitação
Entretanto, e segundo escreve o The Guardian, está instalado o pânico no setor residencial do Reino Unido, tendo sido retirados do mercado quase mil pacotes de hipotecas, o que significa que a oferta de crédito habitação está a recuar.
De acordo com a publicação, a Moneyfacts, que monitoriza o setor, concluiu que 935 dos 3.596 produtos hipotecários desapareceram entre terça e quarta-feira, o dobro do recorde anterior: 462 no início dos confinamentos em plena pandemia.
O The Guardian escreve que esta mudança repentina ameaça paralisar o mercado imobiliário, com os mutuários a dizer que não conseguirão garantir empréstimos ou que tiveram ofertas provisórias retiradas. Outros alegam estar a pagar enormes penalizações para quebrar os acordos existentes e para manter taxas fixas durante mais tempo.
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