Com a escalada da Euribor, há mais famílias a fixar os juros no crédito habitação. Mas as taxas fixas atingiram 4,1% em outubro.
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Taxa fixa no crédito habitação
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Quem pretende comprar casa com recurso a financiamento bancário depara-se com uma questão estrutural num momento em que a Euribor está a encarecer os empréstimos da casa de taxa variável: valerá a pena fixar os juros no crédito habitação? Apostar na taxa fixa dará mais tranquilidade financeira às famílias, já que as prestações da casa não variam do início ao fim do contrato. Mas esta estabilidade tem um preço: as taxas fixas para os novos créditos habitação também estão a subir, tendo chegado, em média, aos 4,1% em outubro, mais 2 pontos percentuais (p.p) do que em dezembro de 2021, revelam os dados do Banco de Portugal (BdP).

Mesmo não estando indexadas à Euribor, as taxas fixas nos novos créditos habitação em Portugal estão a subir ao mesmo ritmo das variáveis. É isso mesmo que mostram os dados do regulador português divulgados no início do mês:

  • Taxa variável no crédito habitação e indexada à Euribor: a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 0,6% para 2,6% entre dezembro de 2021 e outubro de 2022, revela o regulador. Ou seja, aumentou 2 p.p. neste período, tendo sido impulsionada pela subida da Euribor para todos os prazos. Em 80% dos créditos habitação de taxa variável contratualizados em outubro foi aplicada uma taxa de juro entre 1,5% e 3,4%. Já a taxa de juro média do stock de empréstimos da casa foi de 1% no final do outubro;
  • Taxa fixa no crédito habitação: a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 2,1% em dezembro do ano passado para 4,1% em outubro de 2022, aumentando também 2 p.p. entre estes dois momentos. De acordo com o regulador, cerca de 80% destes empréstimos a taxa fixa foram contratualizados a taxas entre 3,4% e 4,5% em outubro. E a taxa de juro média do stock era de 2,4% no final desse mesmo mês.

Mas porque é que as ofertas de taxa variável e fixa subiram na mesma proporção (2 p.p.)? A verdade é que as decisões do Banco Central Europeu (BCE), nomeadamente relativas à subida das taxas de juros diretoras, têm um efeito direto na Euribor, afetando os créditos de taxa variável assim que as prestações forem atualizadas. E também têm efeitos sobre a oferta das taxas fixas nos empréstimos da casa, já que os bancos acabam por ajustá-las ao preço do dinheiro.

Créditos habitação de taxa fixa pesam pouco - mas estão a crescer

Como os bancos estão a subir as taxas fixas na mesma medida em que a taxa variável evolui, as famílias não se sentem incentivadas por fixar os juros nos empréstimos da casa. E isso explica o facto da maioria dos portugueses continuar a escolher a taxa variável em detrimento da taxa fixa, mesmo que esta última lhes possa trazer maior estabilidade financeira num momento de incerteza e de subida da Euribor para todos os prazos.

Os dados do BdP revelam que, em outubro, foram concedidos 1.197 milhões de euros em novos créditos habitação, dos quais 88% foram destinados à aquisição ou construção de habitação própria e permanente. E cerca de 83% do montante dos novos empréstimos para habitação própria permanente foi concedido a taxa variável. Só 7% dos novos créditos habitação fixaram a taxa de juro. E 9% escolheu a taxa de juro mista (contratos de crédito que combinam um período em que a taxa é fixa e um período em que a taxa é variável), revela o regulador português.

Portanto, os dados mostram que o peso da taxa fixa contratada nos novos créditos habitação continua a ser residual no nosso país. Mas o BdP escreveu no Relatório de Estabilidade Financeira de junho de 2022 que “a proporção dos empréstimos com taxa fixa tem vindo gradualmente a aumentar desde 2016”, uma tendência que “permitirá mitigar parcialmente o impacto sobre o serviço de dívida dos mutuários e, consequentemente, o risco de crédito para os bancos”.

Embora ainda represente menos de 10% do total dos novos créditos habitações, as taxas fixas têm ganhado maior expressão no país, muito embora sejam 1,5 p.p. mais caras do que as taxas variáveis. Isto porque no final de 2021 as taxas fixas só representavam 1,4% na carteira de crédito habitação existente.

Alguns bancos portugueses confirmam que se tem sentido uma maior adesão às taxas fixas nos empréstimos da casa: desde o BPI dizem que “nos últimos três anos se verificou uma adesão crescente e significativa à taxa fixa, que não correspondeu, porém, à maioria dos contratos realizados”, cita o Expresso. Também desde o Bankinter revelam que o pedido dos clientes para transferência para taxa fixa “mais que duplicou” face a 2021. E “quando comparado com o primeiro semestre de 2022, o aumento é de 17%”, revela o banco citado pelo mesmo jornal.

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