Governo vai bonificar juros em 50% dos créditos habitação até 200 mil euros. E há isenções de mais-valias para amortizar dívida.
Comentários: 0
Novos apoios ao crédito habitação
Foto de Mikhail Nilov no Pexels

O pacote "Mais habitação", que obteve luz verde esta quinta-feira pelo Conselho de Ministros, trouxe novos apoios às famílias que estão a pagar créditos habitação. Em concreto, o Governo vai bonificar em 50% os juros dos créditos habitação até 200 mil euros, de famílias que recebam até 38.632 euros anuais e cujo aumento dos juros supere o teste de stress. E vai prever a isenção de mais-valias para quem venda casas para amortizar créditos habitação. Além disso, os bancos passam a ser obrigados a apresentar oferta de taxas fixas.

Estas novas medidas de apoio às famílias com crédito habitação integra o pacote "Mais habitação", que foi aprovado esta quinta-feira, dia 16 de fevereiro, pelo Conselho de Ministros. Em concreto, foram apresentadas três medidas para proteger as famílias da subida dos juros nos empréstimos:

Bancos passam a ser obrigados a oferecer taxa fixa no crédito habitação

Em Portugal, a maioria dos créditos habitação são de taxa variável e indexada à Euribor, motivo pelo qual grande parte dos portugueses está a sentir as prestações da casa a aumentar por via da subida dos juros. Acontece que, hoje, há bancos que não têm ofertas de crédito habitação a taxa fixa, empurrando, assim, ainda mais famílias para contratar empréstimos a taxa variável.

Com esta medida, os bancos passam a ser obrigados a “oferecer no seu portfólio de ofertas comerciais crédito a taxa fixa”, destacou António Costa, deixando a percentagem ao critério de cada um.

Segundo o chefe do executivo, a concorrência entre os vários bancos quanto ao valor da taxa fixa pode funcionar a favor dos clientes, que poderão optar pelas soluções mais favoráveis. E defendeu mesmo que "é do interesse comercial da banca" disponibilizar uma taxa fixa competitiva e "ganhar clientes" com isso, indicando que já há uma instituição financeira a fazê-lo.

Para o ministro das Finanças, Fernando Medina, haver ofertas de taxas fixas no crédito habitação é “importante” , porque “se traduz em condições financeiras mais adequadas e de maior segurança e estabilidade para as famílias na projeção de custos futuros”.

"Se olharmos para o mercado acho que podemos ter confiança que ao longo dos próximos meses vamos ver aparecer ofertas de interesse relevante para aqueles clientes que procurem estabilizar durante muitos anos as suas prestações de crédito", referiu.

Fernando Medina disse ainda que, perante o atual contexto de subida acelerada das taxas de curto prazo, este é "o momento certo" para se dar corpo em Portugal a esta oferta de taxa fixa que "é uma oferta bastante mais natural e usual" em contratos de crédito habitação de países que antes do euro já tinham historicamente taxas de inflação mais baixas.

Oferta de taxa fixa obrigatória
Foto de Sora Shimazaki no Pexels

Proteção das famílias com crédito habitação com bonificação dos juros

O Governo vai bonificar os juros dos empréstimos das famílias que que cumpram os seguintes critérios:

  • créditos habitação até 200 mil euros;
  • agregados tributados até ao 6º escalão do IRS, ou seja, com rendimentos coletáveis até 38.632 euros;

Em concreto, o Estado “bonificará os juros em 50% do valor que esteja acima da taxa máxima a que foi sujeito o agregado no teste de stress que realizou aquando da contratação”, explicou o primeiro-ministro.

No momento da celebração dos contratos de crédito habitação, os bancos avaliam a solvabilidade das famílias e testam a sua taxa de esforço, mediante a realização de simulações de subidas dos juros. Aqui são avaliados os impactos nas prestações da casa, no caso das taxas de juro subirem, e são analisados também as respetivas taxas de esforço.

Portanto, sempre que a taxa de juro suba acima desse valor máximo a que foi sujeito o teste de stress, entende-se que há um “esforço imprevisto da família” relativamente àquilo que era a sua taxa de esforço e o Estado “bonificará esse aumento dos juros em 50%”.

Segundo Fernando Medina, ministro das Finanças, a bonificação dos juros será “temporária” e irá suportar 50% do aumento da prestação da casa criada pela subida das taxas de juro (face à prestação que teria com a aplicação da taxa de juro “stressada” pelos bancos) até 1,5 IAS (Indexante dos Apoios Sociais).

Ou seja, haverá uma "bonificação temporária do encargo com juros nos créditos hipotecários, para famílias com rendimentos até ao 6º escalão e créditos até 200 mil euros, através da compensação de metade do excesso do indexante de referência face a 3% até um limite anual de 1,5 IAS (cerca de 720 euros)", indica a proposta detalhada do Governo.

De notar que só a partir de 1 de julho de 2018 é que o Banco de Portugal passou a obrigar os bancos a concederem crédito em função da aplicação de um teste de stress, que é calculado pelos bancos tendo por base a taxa Euribor contratada, à qual se somam 3 pontos percentuais, simulando assim um aumento das taxas de juro desta dimensão.

Bonificação dos juros no crédito habitação
Foto de Ketut Subiyanto no Pexels

Isenção de mais-valias para quem venda casas para pagar amortizar empréstimos

Para ajudar reduzir o endividamento das famílias, o Governo introduziu uma medida que prevê “a isenção do imposto de mais valias da venda de um imóvel para amortização do crédito habitação pelo próprio ou do crédito habitação de um seu descendente”.

De notar que, hoje, só existe isenção do imposto de mais valias no caso de a mais valia ser aplicada, num prazo de dois anos, na aquisição de casa própria e permanente. Com esta medida, alarga-se o espetro de isenção deste imposto, permitindo que também se aplique para efeitos de amortização de um crédito do próprio ou para abater no crédito de um descendente.

Para Fernando Medina, esta medida vem alargar a isenção de mais-valias da venda de imóveis a "uma situação muito específica, mas muito importante", já que a vertente fiscal acaba por retrair a venda de imóveis herdados, por exemplo, por parte das pessoas com empréstimo da casa de primeira habitação.

Esta é uma forma, segundo o ministro das Finanças, de “criar novas condições para que famílias possam reduzir a dívida”, frisando que as novas regras de renegociação dos empréstimos estão a ter um “impacto positivo”, estando a “incentivar credores e devedores a criar melhores condições para evitar situações de incumprimento”.

Esta medida soma-se, portanto, à suspensão temporária da comissão de amortização do crédito habitação de taxa variável, de 0,5%, que estará em vigor até ao final de 2023.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta

Publicidade