
As famílias que pretendem comprar casa em 2023, com recurso a financiamento bancário, vão deparar-se com um mercado hipotecário bem mais caro. As taxas de juro do crédito habitação – quer fixas, quer variáveis - estão a subir em flecha à medida que o Banco Central Europeu (BCE) decide aumentar os juros diretores para travar a inflação na Zona Euro. E estas subidas refletem-se nos clientes, uma vez que estão a encarecer as prestações da casa, e em várias centenas de euros. Explicamos.
Depois de passarem anos estabilizadas, as taxas de juro diretoras subiram 250 pontos base entre julho e dezembro de 2022 por decisão do regulador europeu liderado por Christine Lagarde – e um novo aumento de 50 pontos base é esperado esta quinta-feira, dia 2 de fevereiro. Esta evolução dos juros diretores tem dado gás subida das taxas Euribor que já estão entre os 2% e os 3,5%. E é precisamente este cenário que está a subir as prestações da casa em centenas de euros, tal como mostram as simulações do idealista/créditohabitação.
Agora, quem contratar um crédito habitação de taxa variável para comprar casa vai a pagar prestações bem mais elevadas. Isto porque, as médias da Euribor continuaram a escalar para os seguintes valores:
- Euribor a 12 meses (foi durante vários meses a mais utilizada nos novos contratos de crédito habitação em Portugal, mas a tendência está a mudar): atingiu os 3,337% em janeiro de 2023, uma taxa superior à registada em dezembro (3,005%);
- Euribor a 6 meses (a mais utilizada em Portugal no total de créditos habitação): fixou-se em 2,858% em janeiro de 2023, contra 2,560% em dezembro;
- Euribor a 3 meses (começa a ganhar nova expressão com a subida dos juros): fixou-se em 2,345% em janeiro, mais cerca de 0,282 pontos do que em dezembro do ano passado (2,063%).
Novos créditos habitação: qual é a prestação da casa em fevereiro?
Quem avançar para comprar casa em 2023 terá vários desafios. Desde logo, porque o custo do financiamento está bem mais caro do que no passado. À medida que o BCE sobe os juros diretores, as taxas Euribor têm vindo a aumentar. E os bancos em Portugal têm também ajustado as ofertas de taxas fixas ao preço do dinheiro. Portanto, quem contratar pedir um empréstimo para comprar casa, seja de taxa fixa ou variável, pagará uma prestação da casa bem mais elevada do que no passado.
No caso dos empréstimos de taxa variável, as prestações da casa vão subir ou descer consoante o comportamento da taxa Euribor contratada, a 3, 6 ou 12 meses. Para perceber qual o reflexo das subidas das Euribor no valor do empréstimo a pagar ao banco todos os meses, os especialistas do idealista/créditohabitação apresentam simulações com base nestas condições:
- Novo empréstimo habitação de 150.000 euros;
- Spread de 1%;
- Prazo de 30 anos.
Tendo em conta que um crédito habitação contratado em fevereiro de 2023 usa a média da Euribor de janeiro, podemos concluir:
- Crédito habitação com Euribor a 12 meses: esta taxa aproximou-se de 3,5% em janeiro, algo que já não acontecia desde o final de 2008. Quem contratar um empréstimo para comprar casa em fevereiro vai pagar 745 euros por mês no primeiro ano, mais 29 euros do que quem assinou o contrato em janeiro;
- Crédito habitação com Euribor a 6 meses: esta taxa também voltou a subir e aproxima-se do patamar dos 3%. E esta evolução encareceu ainda mais as prestações. Quem assinar um crédito habitação em fevereiro (que usa a média da Euribor de janeiro) pagará mais 26 euros nos primeiros seis meses do que quem contratou o empréstimo em janeiro (que usa a taxa média de dezembro). Em concreto, a prestação da casa será de 704 euros no primeiro semestre do contrato;
- Crédito habitação com Euribor a 3 meses: a prestação da casa subiu 24 euros nesta taxa, fixando-se em 661 euros em fevereiro de 2023. Já quem pediu um crédito habitação em janeiro com esta taxa vai pagar uma prestação de 637 euros nos três meses seguintes.

Prestações da casa ficaram 250 euros mais caras num ano
A era dos empréstimos mais baratos de sempre terminou no início de 2022. Agora quem quiser avançar com a compra de uma casa mediante financiamento bancário terá de se preparar para pagar uma prestação centenas de euros mais elevada do que pagaria se tivesse assinado o contrato meses antes. A diferenças podem chegar mesmo aos 250 euros mensais.
Olhando para os juros e as prestações da casa dos empréstimos habitação concedidos em março e comparando-os com os créditos assinados em fevereiro, verifica-se que as despesas com a casa dispararam:
- Crédito habitação com Euribor a 12 meses: de março a janeiro a taxa Euribor passou de -0,335% para 3,337%. Esta evolução aumentou as prestações da casa em 285 euros. Isto significa que quem contratou o empréstimo da casa em março paga de prestação 460 euros no primeiro ano (ou seja, até março de 2023). Já quem for pedir um empréstimo com as mesmas condições em fevereiro de 2023 pagará uma prestação de 745 euros até fevereiro de 2024;
- Crédito habitação com Euribor a 6 meses: quem pediu um crédito para comprar casa em março, com uma taxa de -0,476%, pagou 450 euros de prestação até agosto (6 meses). Em fevereiro, quem pedir um empréstimo habitação nas mesmas condições vai pagar mais 254 euros no semestre seguinte, desembolsando 704 euros por mês até junho de 2023.
Importa recordar que mais de 90% dos empréstimos habitação existentes em Portugal são de taxa variável e indexada à Euribor. E embora as taxas de juro estejam mais altas, a grande parte das famílias (cerca de 80%) continua a optar pelas taxas variáveis, uma vez que, em Portugal, são mais baixas no curto prazo do que as fixas.
Quem já está a pagar o crédito habitação há algum tempo o cenário é um pouco diferente. As prestações da casa só vão refletir o aumento da Euribor quando forem atualizadas, a 3,6 ou a 12 meses. E a dimensão desta subida vai depender de vários fatores, como o ano do contrato, o capital em dívida e do spread, uma vez que o sistema de amortização francês dá cada vez menos peso aos juros na prestação da casa à medida que os anos passam. Por esse mesmo motivo, as famílias que pediram créditos habitação há pouco tempo e de elevado valor são as que vão sentir mais o efeito da subida dos juros nas prestações da casa.
A verdade é que milhares de famílias pediram os empréstimos habitação quando as taxas Euribor ainda estavam no negativo e havia desconto no spread. E como os juros entram para o cálculo das taxas de esforço, muitas conseguiram pedir empréstimos de valores mais elevados. Mas com as recentes subidas dos juros, muitas famílias estão agora em dificuldades em pagar os créditos habitação.

Apoios para pagar a prestação da casa em 2023
Sejam créditos habitação novos ou existentes, o que é certo é que as prestações da casa estão a subir há cerca de um ano. E muitas famílias estão mesmo com dificuldades em pagar as prestações da casa, dada a dimensão da subida dos juros ao longo de 2022. Foi por isso mesmo que o Governo de António Costa decidiu colocar em marcha várias medidas para ajudar as famílias a mitigar os efeitos das prestações da casa nos orçamentos, num momento em que a inflação está ainda bem elevada, embora esteja a dar sinais de descida (o INE estima que ter-se-á fixado em 8,3% em janeiro).
Foi neste sentido que o Executivo socialista lançou estas medidas que estão em vigor até ao final de 2023:
- Novas regras para renegociar o crédito habitação: esta medida está inserida no Decreto-Lei n.º 80-A/2022, de 25 de novembro, proíbe o aumento dos juros e elimina custos associados à redução da prestação, por exemplo, a comissão por alargamento do prazo do contrato. Explicamos tudo aqui.
- Amortização antecipada sem custos: além de renegociar o empréstimo, o diploma permite amortizar total ou parcialmente o crédito habitação de qualquer valor e sem quaisquer custos, já que é eliminada a comissão de 0,5%. Quem tem planos de Poupança Reforma poderá resgatá-los, sem penalização fiscal, para pagar as prestações;
- Desconto no IRS para quem paga empréstimos habitação: esta medida inserida no Orçamento do Estado para 2023 permite aos trabalhadores que auferem um salário bruto de até 2.700 euros/mês e que estão a pagar um crédito habitação própria e permanente, de baixar um patamar na retenção de IRS.
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