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Mais de 80% dos portugueses consideram que o Estado sofre influências indevidas de pessoas com grande poder económico. Esta é uma das conclusões do Barómetro Global da Corrupção, publicado esta quarta-feira (16 de novembro) pela Transparency International, rede global de Organizações Não Governamentais (ONG) anticorrupção que é representada em Portugal pela Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC).

O inquérito, conduzido pela Transparency International em 42 países da Europa e Ásia Central, revela que o Parlamento, as autarquias e o setor empresarial são as áreas que os portugueses consideram estar mais expostas à corrupção.

Segundo a Lusa, que se apoia no documento, um em cada dois portugueses (51%) vê a corrupção como o principal problema a merecer a atenção dos responsáveis políticos, imediatamente abaixo da economia e emprego (apontados como prioritários para 74% dos portugueses) e da saúde (71%).

O barómetro concluiu que “48% dos portugueses consideram que a corrupção piorou em Portugal no último ano e que 39% não veem melhorias nos níveis de corrupção”.

O Parlamento é a instituição mais negativamente afetada, com 34% dos portugueses a acreditarem que todos ou a maioria dos deputados estão envolvidos em corrupção. Segue-se o setor empresarial (32%) e as autarquias (31%). A Presidência da República foi também uma das instituições com piores perceções, com 32% dos portugueses a responderem que a maioria ou totalidade dos membros do gabinete do Presidente estão envolvidos em corrupção, escreve a Lusa, salientando que a recolha de dados para o barómetro decorreu em paralelo com a campanha eleitoral para a Presidência, em janeiro de 2016, pelo que as perceções medidas coincidem com o final do mandato de Cavaco Silva.

“É uma corrupção mais grave”

“Os dados do estudo mostram claramente que a corrupção que os portugueses identificam não está ao nível de funcionários e do pagamento de luvas. É uma corrupção mais grave, sistémica, que tem a ver com a captura das instituições públicas por grupos de interesses organizados, que têm um poder desmesurado para moldar as leis e as decisões regulatórias à sua conveniência, em detrimento do interesse público”, explicou o porta-voz do TIAC, João Paulo Batalha.

O inquérito revela ainda que uma das principais causas para a falta de eficácia no combate à corrupção em Portugal é o medo de represálias, com 56% dos portugueses a admitirem tratar-se da principal razão pela qual os cidadãos não denunciam suspeitas de corrupção às autoridades.

“A experiência mostra que as denúncias que surgem de dentro das organizações são as que originam casos mais bem documentados e com maiores chances de levarem a condenações”, disse o responsável, adiantando que a proteção dos denunciantes é um elemento crucial do combate à corrupção, mas um elemento que continua a falhar em Portugal.

“Os portugueses não são indiferentes nem coniventes com a corrupção. Cabe ao Estado garantir-lhes proteção e segurança para que possam dar o alarme e fazer-se ouvir no combate a este fenómeno”, concluiu João Paulo Batalha.

A sondagem inquiriu perto de 60.000 pessoas na UE, nos países candidatos à UE e na Comunidade de Estados Independentes. Em Portugal foram entrevistadas 1.008 pessoas, entre 4 e 26 de janeiro.

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