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Ministra da Administração Interna demite-se, depois de Marcelo exigir "novo ciclo"
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O Presidente da República fez uma declaração ao país, esta terça-feira, e não poupou críticas ao Governo, deixando vários recados nas entrelinhas. Em direto de Oliveira do Hospital, um dos concelhos mais afetados pelos fogos, Marcelo foi peremptório: quer que o Executivo “retire todas, mas todas, as consequências” e pediu ao Parlamento que diga “se quer ou não manter o Governo”. Na sequência do discurso brutal de Marcelo, em que exigiu a abertura de “um novo ciclo”, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, apresentou a demissão

Marcelo deixou vários alertas e exigiu que o Governo assumisse todas as responsabilidades neste caso. Exigiu ainda responsabilidades a todos os partidos com assento parlamentar, pedindo que se "clarifique se quer ou não manter em funções o Governo". O Presidente considera que as tragédias relacionadas com incêndios pedem a abertura de um "novo ciclo", sendo que tudo isso passará, inevitavelmente, pela avaliação de "quem melhor serve esse ciclo".

Ministra justifica pedido de demissão

As palavras duras de Marcelo fizeram eco. Constança Urbano de Sousa, entretanto, já apresentou formalmente a sua demissão ao primeiro-ministro António Costa, que já aceitou e agradeceu a dedicação e empenho com que a ministra serviu o país, numa nota enviada à comunicação social.

"Pediu-me para me manter em funções, sempre com o argumento que não podemos ir pelo caminho mais fácil, mas sim enfrentar as adversidades, bem como preparar a reforma do modelo de prevenção e combate a incêndios florestais", disse a ministra demissionária numa carta ao primeiro-ministro.

"Tendo terminado o período crítico desta tragédia e estando já preparadas as propostas de medidas a discutir no Conselho de Ministros Extraordinário de dia 21 de outubro, considero que estão esgotadas todas as condições para me manter em funções, pelo que lhe apresento agora, formalmente, o meu pedido de demissão, que tem de aceitar, até para preservar a minha dignidade pessoal", lê-se no documento.

“O Presidente da República é antes de mais uma pessoa”

Foi assim que Marcelo se dirigiu aos portugueses, “primeiro como pessoa, uma pessoa que reterá para sempre na sua memória imagens de Pedrógão”. 

Ainda esta terça-feira, durante a visita de António Costa a Oliveira do Hospital, um jornalista perguntou ao primeiro-ministro se não achava que o Governo devia pedir desculpas às populações. A resposta foi: "Nós temos, neste momento, que concentrar-nos em fazer aquilo que é essencial". Para António Costa – que também esteve no Concelho –, “o essencial” não é pedir desculpa, mas para Marcelo é. E fez questão de o fazer.

“Pode e deve dizer que a melhor, se não única, forma de verdadeiramente pedir desculpa às vítimas de junho e de outubro, e de facto é justificável que se peça desculpa, é por um lado reconhecer com humildade que portugueses houve que não viram os poderes públicos como garante de segurança e de confiança”, sublinhou o Chefe de Estado.

“Quem não entenda isto — humildade cívica e rutura com o que não provou ou não convenceu — não entendeu nada do essencial que se passou no nosso país”, rematou.

Presidente garante estar atento e assume “exercício de todos os seus poderes”

O Presidente da República está disposto a usar os poderes que lhe são conferidos pela Constituição para garantir que as fragilidades na ação pública não voltem a colocar em causa a segurança dos portugueses. O Presidente "estará atento e exercerá todos os seus poderes para dizer que onde há fragilidade ela deixará de existir", assegurou.

“Por muito que a frieza destes tempos, cheios de números e chavões políticos, económicos e financeiros, nos convidem a minimizar ou banalizar estes mais de 100 mortos, não mais sairão do meu pensamento como um peso enorme da minha consciência tal como no meu mandato presidencial”, reiterou o chefe de Estado.

De recordar que os incêndios que deflagraram este domingo, o pior dia do ano em incêndios, provocaram 41 mortos e 71 desaparecidos, deixando inúmeras famílias desalojadas, empresas e negócios destruídos. 

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