Para o primeiro-ministro “é perigoso que se forme um precedente que abra a porta de a prática parlamentar ser de constante desfiguração do Orçamento”.
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Governo vai enviar diplomas sobre apoios sociais para o TC - Costa diz que violam “a lei suprema”
GTRES
Lusa

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o Governo vai suscitar a fiscalização sucessiva dos diplomas sobre apoios sociais aprovados pelo Parlamento e promulgados pelo Presidente da República junto do Tribunal Constitucional (TC). Segundo Costa, os diplomas violam a "lei suprema" da Constituição ao aumentarem a despesa prevista no Orçamento.

Esta decisão sobre esse conjunto de diplomas foi anunciada pelo primeiro-ministro numa comunicação a partir de São Bento, em que alegou estar perante "um precedente perigoso" de a prática parlamentar passar a "desfigurar" os orçamentos do Estado e em que considerou estar perante um caso de "incerteza jurídica que gera insegurança e mina a confiança nas instituições".

"Entendo ser meu dever solicitar ao TC a apreciação das normas aprovadas pela Assembleia da República que considero inconstitucionais. Trata-se do exercício normal das minhas competências, no quadro do princípio da separação e interdependência de poderes consagrado na Constituição, ou seja, como muito bem sintetizou o senhor Presidente da República: É a Democracia e o Estado de Direito a funcionarem", alegou António Costa.

Na sua comunicação, António Costa apontou quatro razões para suscitar o pedido de fiscalização sucessiva desses diplomas, começando por observar que "o senhor Presidente da República procurou limitar os danos constitucionais destas leis ao propor uma interpretação que esvazia o seu efeito prático, e até reforça os poderes do Governo”.

Em primeiro lugar, segundo o primeiro-ministro, "o Governo não pode deixar de cumprir uma lei da Assembleia da República enquanto esta vigorar, mesmo que a entenda inconstitucional e só o TC pode declarar com força obrigatória geral a inconstitucionalidade de uma Lei".

"Segundo, os cidadãos beneficiários têm o direito de saber com o que podem contar, se com o que Assembleia da República aprovou, se com o que o Governo viesse a limitar na sua interpretação. Terceiro, não se alcança forma justa de reconduzir estas leis parlamentares aos limites orçamentais", disse.

Depois, António Costa, colocou uma série de questões. "Como iríamos aplicar esse limite? Dando apoios a uns e não a outros? Dando apenas aos que fossem mais rápidos a pedir, até se esgotar o plafond disponível, e recusando todos os pedidos posteriores? Reduzindo o montante do apoio pago a todos, violando o disposto na lei? ", interrogou-se.

Por fim, em quarto lugar, no entender do primeiro-ministro, "é perigoso que se forme um precedente que abre a porta para o receio expresso pelo Presidente da República de a prática parlamentar passar a ser de constante desfiguração do Orçamento de Estado". "A incerteza jurídica gera insegurança e mina a confiança nas instituições", acrescentou.

Marcelo encerra polémica e vira atenções para plano de recuperação

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quer encerrar a polémica sobre os diplomas gerada à volta do conflito que o opôs ao primeiro-ministro. Em declarações ao Expresso, e apesar de estar convicto que “é o Direito que serve a política, não é a política que serve o Direito”, quer agora virar as atenções para o Plano de Recuperação (PRR).

“É muito importante que os partidos criem condições para levar o Plano de Recuperação sem sobressaltos até 2023, o que implica garantir a aprovação de dois Orçamentos do Estado, o do próximo ano e o seguinte. É o que eu penso e é o que os portugueses pensam”, afirmou o Presidente, referindo-se às contas do Estado até final da legislatura.

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