Segundo a AdC, “os controlos de preços distorcem os sinais de preços no mercado e podem conduzir à escassez de oferta".
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Lusa
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A Autoridade da Concorrência (AdC) alertou para os “riscos” da fixação de preços administrativos pelos governos em contexto de aumento de inflação, indicando que podem funcionar como “ponto focal de conluio”.

Num relatório publicado esta segunda-feira, 16 de agosto de 2022, sobre concorrência e poder de compra em tempos de inflação, a AdC indicou que “os governos são mais propensos a implementar controlos administrativos de preços quando a inflação aumenta”, mas que “tais medidas podem, no entanto, trazer riscos para a concorrência”.

“O limite de preços pode funcionar como um ponto focal de conluio se for fixado demasiado alto em relação aos custos de produção das empresas e ao nível de preços que prevaleceria numa situação de concorrência”, avisou a AdC.

Além disso, destacou, “a imposição de um limite a um nível artificialmente baixo, que não permita às empresas recuperarem os seus custos, pode desencadear a saída de empresas, particularmente as de menor dimensão”, bem como “enfraquecer os incentivos para a entrada e expansão de concorrentes no mercado”.

Controlo de preços pode provocar ruturas na cadeia de valor

De acordo com a AdC, “os controlos de preços distorcem os sinais de preços no mercado e podem conduzir involuntariamente à escassez de oferta e a ruturas na cadeia de valor”.

“No desenho de medidas destinadas a controlar os níveis de preços, é também fundamental evitar a divulgação pública de informações, tais como, preços de referência ou custos, que possam fomentar as condições de conluio”, referiu, destacando que "a divulgação de tais informações não fornece qualquer informação direta aos consumidores que possa baixar os custos de pesquisa, podendo auxiliar as empresas a chegar a um equilíbrio colusivo”.

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A AdC referiu ainda que “os controlos de preços também têm sido apontados como não tendo um impacto significativo na inflação” e que “os efeitos dos controlos de preços sobre a inflação agregada são temporários, por natureza”. A AdC sublinhou também que “as empresas podem procurar contornar os controlos de preços, introduzindo novas variedades de produtos a preços mais elevados”.

Por isso, é “importante avaliar os potenciais riscos da imposição de um preço máximo em termos de impacto na concorrência e avaliar políticas alternativas que possam alcançar o mesmo objetivo”.

O Governo tem fixado alguns preços, nomeadamente na área da energia, para tentar controlar os aumentos. Na sexta-feira passada, por exemplo, o Executivo voltou a fixar preços máximos para o gás engarrafado, tal como já tinha acontecido durante a pandemia.

"Concorrência é importante para manter os preços baixos"

No relatório, a AdC ressalvou que “a política de concorrência não tem como objetivo dar resposta à inflação a curto prazo, nem o poder de mercado é suscetível de ser o principal motor da atual inflação”, mas “numa visão de 360 graus, a concorrência pode ter um papel importante na proteção do poder de compra das famílias – como contribuintes, como consumidores, como trabalhadores – e das empresas, favorecendo a sua competitividade”.

Segundo a AdC, “a concorrência é importante para manter os preços baixos para os consumidores” através “da pressão descendente nas margens de lucro e nos custos”. Além disso, evita “operações de concentração que possam prejudicar a concorrência e dissuadir o comportamento das empresas que, de outro modo, poderiam agravar a inflação”.

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