Subida dos preços da energia e dos alimentos têm dado gás à inflação. Aumento dos juros pelo BCE ainda não surtiu efeito no país.
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Inflação em Portugal a subir
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Apesar dos esforços do Banco Central Europeu (BCE) para travar o consumo e o investimento, por via da subida das taxas de juro diretoras – voltou a aumentar os juros esta quinta-feira em 75 pontos base –, a inflação em Portugal continua a subir. Segundo a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgada esta sexta-feira, dia 28 de outubro, a inflação no nosso país deu o salto para 10,2%, uma taxa superior em 0,9 pontos percentuais (p.p.) à observada no mês anterior, sendo a mais elevada desde maio de 1992.

“Tendo por base a informação já apurada, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) terá aumentado para 10,2% em outubro, taxa superior em 0,9 pontos percentuais (p.p.) à observada no mês anterior e a mais elevada desde maio de 1992”, revela o INE no boletim publicado esta sexta-feira.

A subida dos preços nas carteiras das famílias tem-se sentido, sobretudo, na energia e no supermercado, embora já tenha contagiado todos os setores da economia portuguesa. Olhando para a inflação de outubro face ao mesmo mês do ano passado, verifica-se que os preços dos produtos energéticos deram um salto maior do que os preços dos alimentos:

  • preços dos produtos energéticos terão aumentado para 27,6% (taxa superior em 5,4 p.p. face ao mês precedente). E neste setor, o INE destaca “os aumentos de preços do gás natural”, consequência dos cortes gerais do abastecimento de gás com a Rússia;
  • preços dos produtos alimentares não transformados terá apresentado uma variação homóloga de 18,9% (16,9% em setembro), taxa mais elevada desde junho de 1990.

Mas mesmo excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos, o gabinete nacional de estatística dá conta que o indicador de inflação subjacente terá registado uma variação de 7,1% (6,9% no mês anterior), taxa mais elevada desde janeiro de 1994.

Já comparando com o mês anterior (setembro), a inflação em Portugal terá sido de 1,3% (1,2% em setembro e 0,5% em outubro de 2021). “Estima-se uma variação média nos últimos doze meses de 6,7% (6,0% no mês anterior)”, refere ainda o INE na mesma publicação.

Os dados definitivos referentes à inflação em Portugal do mês de outubro de 2022 serão publicados no próximo dia 11 de novembro.

Inflação na Europa: quais os efeitos das decisões do BCE?

Hoje, o principal desafio do BCE passa por baixar a inflação na Zona Euro, que atingiu os 9,9% em setembro – a estimativa do Eurostat para outubro será divulgada na segunda-feira, dia 31 de outubro. E para o fazer já subiu as taxas de juro diretoras três vezes em 2022. O aumento mais recente foi decidiu esta quinta-feira, dia 27 de outubro, em 75 pontos base, elevando a taxa de refinanciamento para os 2%, a mais alta da última década.

Mas, para já, os efeitos da subida dos juros diretores para travar a inflação na Europa ainda não se estão a sentir vários países, como é o caso de Portugal. O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) em Portugal - que é utilizado para comparar a inflação entre os diferentes países da Zona Euro- registou uma variação homóloga de 10,7% em outubro (9,8% no mês anterior). Ou seja, mesmo com a subida das taxas de juro diretoras pelo BCE, a inflação em Portugal continua a subir e a bater recordes.

Também em Itália e em França a inflação tem continuado a subir em outubro. A taxa de inflação homóloga em Itália subiu para 11,9% em outubro, mais três pontos percentuais face à subida dos preços no mês passado. E a inflação na França também subiu oito pontos, fixando-se 6,2% no décimo mês do ano. Estes aumentos são justificados, sobretudo, pela aceleração da subida dos preços dos produtos energéticos e alimentares em ambos os países.

Por outro lado, há países em que a inflação já está a abrandar em outubro. Espanha é um exemplo. No país vizinho, a inflação está a dar sinais de moderar o crescimento, passando de 8,9% em setembro para 7,3% em outubro (menos 1,6 p.p), segundo os dados estimados pelo instituto nacional de estatística espanhol divulgados esta quinta-feira, dia 28 de outubro. Por detrás do abrandamento da subida da inflação em Espanha está, sobretudo, a queda dos preços da eletricidade e, em menor medida, aos preços mais baixos do gás.

Com a moderação registada em outubro – e que será confirmada em meados do próximo mês -, a inflação em Espanha soma três meses consecutivos de quedas na taxa interanual depois de ter caído três décimas em agosto, para 10,5%, e em setembro ter recuado 1,6 pontos, para 8,9%.

Inflação a aumentar na Europa
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Inflação na Zona Euro revista em alta até 2024 - crescimento económico está em causa

Apesar dos esforços do BCE para travar o aumento generalizado de preços, os próprios analistas económicos do regulador europeu reviram em alta as previsões para a inflação na Zona Euro até 2024. A taxa inflação homóloga no espaço europeu deverá atingir os seguintes valores, de acordo com os peritos:

  • 8,3% em 2022 (contra 7,3% no inquérito anterior);
  • 5,8% em 2023 (contra 3,6%);
  • 2,4% em 2024 (contra 2,1%).

Os 59 analistas de instituições financeiras e não financeiras da União Europeia (UE), consultados pelo BCE entre 30 de setembro e 6 de outubro deste ano, também antecipam uma inflação média a longo prazo em 2027 de 2,1% (contra 2,2% no inquérito anterior do terceiro trimestre). 

Esta revisão em alta reflete, principalmente, preços mais elevados da energia e dos alimentos, mas também um encarecimento de outros produtos para os quais foram transferidos o aumento destes preços e que se espera que conduzam a um crescimento mais elevado dos salários.

Já no que diz respeito ao crescimento económico da Zona Euro, os mesmos peritos reviram em baixa as previsões para 2023, 2024 e a longo prazo, antecipando uma estagnação económica em 2023.Mas esperam que o crescimento da economia europeia seja um pouco mais elevado este ano.

  • Estagnação do crescimento económico à espreita em 2023

Em concreto, segundo os analistas consultados pelo BCE, a economia da Zona Euro vai crescer:

  • 3% em 2022 (contra 2,8% no inquérito anterior);
  • 0,1% em 2023 (contra 1,5%) - aqui reflete-se a estagnação dos mercados.
  • 1,6% em 2024 (contra 1,8%)
  • 1,4% em 2027 (contra 1,5% no inquérito anterior);
  • 1,4% a longo prazo (contra 1,5% no inquérito anterior).

Os inquiridos preveem uma contração económica entre o terceiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023, com uma queda acumulada de 0,7%, devido aos elevados preços da energia, perda do poder de compra das famílias devido à inflação, uma economia global mais fraca e o aumento das taxas de juro.

A ajudar os mercados económicos está ainda a taxa de desemprego, que deverá aumentar até 2027 na área do euro, admitem os peritos, para:

  • 6,8% em 2022 (contra 6,7% no inquérito anterior);
  • 7,1% em 2023 (contra 6,7%);
  • 7% em 2024 (contra 6,6%);
  • 6,6% em 2027 (contra 6,4%).

*Com Lusa

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