PIB é revisto em alta (6,7%), tal como a inflação para 7,8%. Já o rendimento disponível deverá estagnar e as poupanças cair.
Comentários: 0
Crescimento da economia
Pexels

Este ano está a ser marcado pela subida generalizada dos preços, reduzindo o poder de compra das famílias. Começou logo a sentir-se nos produtos energéticos e no supermercado, e rapidamente contagiou toda a economia portuguesa. Contas feitas, o Banco de Portugal (BdP) estima que a inflação aumente 7,8% em 2022. E este contexto não só estagna o rendimento disponível, como reduz a poupança das famílias. Mas, ainda assim, o crescimento da economia foi revisto em alta em outubro para 6,7%, afastando um cenário de recessão económica em 2022.

Desde o início de 2022, os portugueses têm sentido o ritmo da subida de preços, refletida na taxa de inflação mês após mês. Subiu tanto que atingiu os 9,3% em setembro, o valor mais elevado em 30 anos, segundo os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE).

E, agora, o regulador liderado por Mário Centeno, reviu em alta as projeções para a inflação em 2022 no Boletim Económico de outubro – em junho a inflação estimada era de 5,9%. “Em 2022, a inflação aumenta para 7,8%, refletindo as crescentes pressões externas sobre os preços”, lê-se no documento publicado esta quinta-feira, dia 6 de outubro. Isto quer dizer que a inflação média em 2022 poderá vir a ser seis vezes superior à registada em 2021 (de 1,3%).

E há vários motivos que explicam esta subida da inflação em Portugal, bem como no espaço europeu, segundo o BdP:

  • “O enquadramento externo e financeiro tem vindo a deteriorar-se devido aos choques gerados pela invasão da Ucrânia, que resultaram no aumento da inflação e das taxas de juro”, referem.
  • “A forte procura dos bens e serviços, cujo consumo foi condicionado durante a pandemia, também contribui para a trajetória ascendente da inflação, esperando-se uma inflexão no final do ano”, lê-se no boletim.
Inflação a subir preços
Pexels

Rendimento real das famílias estagna e poupança desce

O regulador português admite que o “bom desempenho do mercado de trabalho”, a poupança acumulada durante a pandemia e as medidas de apoio têm atenuado os “choques adversos” decorrentes da guerra da Ucrânia . Mas a verdade é que a alta inflação estagnou o rendimento real disponível das famílias. “O rendimento disponível real estagna em 2022 (0,2%, após 2,2% em 2021), condicionado pelo perfil marcado da inflação”, refere o documento.

Já a taxa de poupança das famílias deverá descer em 2022 de 9,8% para 4,9%. Esta queda “para valores inferiores à média histórica” aconteceu devido à “aceleração do consumo num contexto de elevada inflação e estagnação do rendimento disponível real”, explicam.

Por outro lado, espera-se um aumento da poupança das famílias nos próximos meses. “A deterioração das expectativas económicas a curto prazo e o aumento da incerteza deverá justificar um aumento da poupança por motivo de precaução, que será facilitado pelas medidas públicas de apoio ao rendimento das famílias”, justificam.

Para contornar a perda de poder de compra e de rendimentos das famílias, o Conselho Económico e Social (CES) defende que as metas do Governo para a evolução do salário mínimo nacional nos próximos anos devem ser revisitadas. Recorde-se que o Governo pretende subir o salário mínimo dos atuais 705 euros para 750 euros, mas já colocou em cima da mesa avançar com um adicional salarial para fazer face à inflação

Rendimento das famílias
Pexels

Economia portuguesa vai crescer 6,7% em 2022 - recessão fora de vista

Apesar do clima económico estar a reduzir o poder de compra e a estagnar os rendimentos das famílias, o BdP governado por Mário Centeno revê em alta as projeções para o PIB. Segundo o documento, “a economia portuguesa cresce 6,7% em 2022, continuando a beneficiar da recuperação do turismo e do consumo privado".

Isto quer dizer que o regulador português afasta – pelo menos para já – um cenário de recessão económica em Portugal este ano. Esta quarta-feira, dia 5 de outubro, António Costa sublinhou que “este ano somos o país da União Europeia que teve um crescimento mais alto”, mesmo num contexto em que vários países europeu já deram sinais de recessão económica, como é o caso da Alemanha.

Recessão em Portugal
Pexels
  • Crescimento económico deverá abrandar em 2023 e é “urgente” seguir com reformas do PRR

Para o próximo ano, o regulador europeu admite que o crescimento económico português deverá abrandar, repercutindo as consequências da guerra na Ucrânia. “O impacto dos choques adversos que ocorreram ao longo do ano será mais notório em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa da atividade económica face a 2022”, referem.

Também o primeiro-ministro adiantou que, em 2023, “Portugal vai crescer menos do que cresceu este ano, mas não vamos ter nenhum cenário de não crescimento e menos ainda de recessão". A sua atual projeção do PIB para 2023 é de 1,9%, ou seja, um cenário de recessão económica é afastado até para o próximo ano.

Para que isso não acontece e tendo em conta um cenário externo e financeiro “mais desfavorável”, o BdP defende que “é urgente acelerar a prossecução das reformas no âmbito do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] e promover uma utilização efetiva e eficaz dos respetivos fundos, para sustentar o crescimento económico no curto e médio prazo”.

“O choque negativo sobre os termos de troca implica uma perda de rendimento real da economia que deve ser partilhada por todos os agentes, evitando-se aumentos das margens das empresas e de salários que possam gerar pressões persistentes sobre os preços”, admite o regulador. E já tem em mente possíveis medidas para atenuar estas diferenças: “O efeito diferenciado do aumento da inflação sobre as famílias e empresas pode justificar a adoção de medidas temporárias e específicas, que permitam amortecer o impacto sobre os segmentos mais vulneráveis”, referem.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta