
Os dados do Banco Central Europeu (BCE) não deixam margem para dúvidas: Portugal registou a maior redução no volume de depósitos bancários das famílias em toda a Zona Euro entre janeiro e maio de 2023. Esta queda nos depósitos a prazo acontece num momento em que já se sente uma “guerra entre os bancos” para atrair famílias, mediante a subida das remunerações das poupanças.
O regulador europeu liderado por Christine Lagarde já subiu a taxa de juro diretora relativa aos depósitos em 350 pontos base – e tudo indica que deverá voltar a fazê-lo na reunião agendada para quinta-feira, dia 27 de julho. Mas as remunerações nos depósitos aplicada em cada país tem sido bem diferente, colocando Portugal na cauda da Europa. Só em abril é que os juros nos depósitos a prazo no nosso país chegaram superaram 1%, o maior valor registado em oito anos.
Com as remunerações modestas dadas pelos bancos residentes em Portugal, as remunerações atrativas dos certificados de Aforro e as amortizações crescentes nos empréstimos habitação gerada pela subida dos juros, o stock de depósitos de particulares está a cair há cinco meses, tendo registado em maio a maior descida homóloga em 43 anos (-2,7%), segundo apontou o Banco de Portugal.
Fazendo um balanço entre janeiro e maio de 2023, observa-se que os depósitos em Portugal caíram 4,7%, o que se traduz na saída dos cofres da banca de quase 9.000 milhões de euros. Portugal foi mesmo o país da Zona Euro que registou a maior redução no volume de depósitos desde o início do ano, seguido por Espanha (-2,4%) e por Itália (-2,3%). Já na Estónia, Malta, Irlanda e Países Baixos, os depósitos aumentaram, mostram os dados do BCE citados pelo Público.
Bancos em guerra por depósitos das famílias
A queda do volume de depósitos tem gerado mudanças na banca portuguesa, criando formas de atrair as famílias. “Nos juros de depósitos há claramente uma guerra entre bancos, uma disputa enorme”, disse Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Isto quer dizer, que os bancos já estão a subir as remunerações dos depósitos dos particulares.
Sobre os depósitos, o banco público tem vindo a subir a remuneração, estando já em 2,75%. “Relativamente à remuneração que a Caixa está a dar nos seus depósitos entendemos que cada vez há menor desajustamento e houve no passado porque havia grande excesso de liquidez”, afirmou Paulo Macedo.
E, talvez, por isso, já se comece a observar um movimento contrário. Por exemplo, os depósitos na CGD eram de 68,8 mil milhões de euros em junho, menos 5,2% face a dezembro de 2022. Contudo, já no mês de junho houve uma “inversão desta tendência”, disse ainda o presidente do banco público.
Por detrás da saída de capital dos depósitos a prazo esteve, sobretudo, o investimento nos certificados de aforro, que davam juros mais vantajosos. Mas, no início de junho, o Governo baixou a remuneração dos certificados de aforro, o que foi alvo de críticas e entendido como uma cedência à pressão da banca, que o executivo recusou.
Hoje, Macedo disse que a CGD encarou os certificados de aforro como um “instrumento concorrente" aos depósitos e que coube ao banco fazer "novas ofertas e que não passaram só pelo aumento dos depósitos" para captar a poupança dos clientes.
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