A inflação na Zona Euro voltou a descer em setembro, situando-se nos 4,3%, menos 0,9 pontos percentuais (p.p.) face à registada em agosto e a mais baixa desde outubro de 2021, estima o Eurostat. E as boas notícias não ficam por aqui: a inflação subjacente no espaço europeu também caiu para 4,5%, a subida menos acentuada de 2023. Ao que tudo indica estes dados apoiam as expectativas de que o Banco Central Europeu (BCE) deverá manter as taxas de juro inalteradas na próxima reunião que se realizará no dia 26 de outubro.
“A inflação anual da Zona Euro deverá ser de 4,3% em setembro de 2023, abaixo dos 5,2% em agosto”, de acordo com a estimativa rápida do Eurostat divulgada na sexta-feira (dia 29 de setembro). Esta é mesmo a taxa de inflação na Zona Euro mais baixa registada desde outubro de 2021, revelam os dados. Note-se ainda a inflação está muito abaixo da verificada há um ano (9,9%).
Também a inflação subjacente - que exclui os agregados mais voláteis como energia, bens alimentares, álcool e tabaco – fixou-se, em setembro, nos 4,5%, um valor mais baixo do que a taxa de 5,3% apurada em agosto.
BCE poderá fazer pausa na subida dos juros com queda da inflação
A redução da inflação no espaço europeu em setembro– sobretudo da inflação subjacente – vai influenciar a decisão do BCE quanto ao rumo da política monetária a adotar a partir do final de outubro. Isto porque a evolução das taxas de juro diretoras é decidida reunião a reunião tendo em conta os dados e as projeções macroeconómicas mais recentes.
O que é certo é que Cristine Lagarde, presidente do BCE, deixou a porta aberta para que haja uma pausa na subida dos juros em outubro, muito embora tenha admitido que "é demasiado cedo para dizer se as taxas de juro do BCE atingiram o seu pico”. Ou seja, o regulador europeu poderá avançar com uma pausa na subida dos juros diretores em outubro, mas poderá voltar a subi-los mais à frente.
“O BCE deu a entender, após o seu último aumento das taxas, que este pode ter sido o último deste ciclo – a queda maior do que o esperado na inflação em setembro deverá aumentar a confiança do Conselho do BCE de que não é necessário mais apertos”, acredita Maeva Cousin , economista sénior da área do euro na Bloomberg Economics. Também Christoph Weil , economista sénior do Commerzbank AG, diz que “é pouco provável que o BCE aumente ainda mais as taxas”, cita a Bloomberg.
Mas descer as taxas de juro diretoras poderá ainda estar longe de vista. O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse esta segunda-feira (dia 2 de outubro) ser "prematuro" falar de cortes das taxas de juro, alertando há obstáculos para trazer a inflação na Zona Euro de volta à meta de 2%, o nível em que é assegurada a estabilização dos preços.
"A inflação vai no bom caminho, [mas] a situação de muitas famílias, por causa dos juros, continua no mau caminho”, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República
"Estamos no caminho em direção aos 2%. Isso é claro, mas temos de monitorizar de perto, porque a 'última milha' não vai ser fácil (...) os elementos que podem torpedar o processo de desinflação são poderosos", sublinhou Luis de Guindos ao Financial Times, referindo-se à recente subida dos preços do petróleo, ao rápido crescimento dos salários, ao euro enfraquecido e à resilinte procura de serviços.
Já o Presidente da República considera que a inflação na Europa vai no "bom caminho”. "Há uma tendência” de descida da inflação, apontou Marcelo Rebelo de Sousa, esperando que “à medida que a tendência seja mais visível”, haja mais abertura dos economistas, numa referência à possível redução das taxas de juro.
Por seu turno, os consumidores europeus estão confiantes de que o BCE será capaz de controlar a subida da inflação num prazo de três anos, segundo conclui um inquérito realizado pelo regulador europeu junto de mais de 10 mil europeus residentes nas seis maiores economias do euro. Isto porque, na visão dos inquiridos, a subida da inflação é mais influenciada por elementos "transitórios" - como a energia e fatores de produção intermédios - do que pelo aumento dos salários.
Como evolui a inflação nos países da Zona Euro?
Entre os 20 países da moeda única com dados disponíveis, as maiores taxas de inflação – medidas pelo Índice Harmonizado dos Preços no Consumidor (IHPC) – são estimadas na Eslováquia (8,9%), Croácia (7,3%) e Eslovénia (7,1%).
Já pela primeira vez em dois anos, um dos países da Zona Euro registou uma variação homóloga negativa: os Países Baixos (-0,3%). Esta inflação negativa naquela que é a quinta maior economia do euro é explicada pela nova fórmula de cálculo dos preços do cabaz no país - eram apenas usados os contratos mais recentes (e mais caros) para determinar o preço da luz e do gás. Além disso, também se observou uma descida dos preços da energia (do gás em especial), que compensou a subida de quase dois dígitos dos preços dos alimentos, escreve o Jornal de Negócios.
De notar ainda que as menores subidas da inflação no conjunto de países da Zona Euro foram registada na Bélgica (0,7%) e na Grécia (2,4%).
Já Portugal encontra-se a meio da tabela: a inflação, medida pelo IHPC, está estimada em 4,8% em setembro, 0,5 pontos percentuais acima da inflação da Zona Euro.
A taxa de inflação da Zona Euro está a abrandar consecutivamente desde maio de 2023, depois de uma ligeira aceleração em abril. Em junho de 2021, o indicador começou a subir principalmente devido ao aumento dos preços da energia, e atingiu valores recorde desde novembro de 2021, com o primeiro recuo a ser registado em novembro de 2022.
*Notícia atualizada dia 2 de outubro às 12h36 com declarações do vice-presidente do BCE, de Marcelo Rebelo de Sousa e com a perspetiva dos consumidores
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