Taxa de refinanciamento fixou-se nos 4,5%, o maior valor desde 2001. Créditos habitação vão sentir subida através da Euribor.
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Subida de juros pelo BCE
Christine Lagarde, presidente do BCE Getty images

Apesar dos vários alertas para o risco da economia europeia entrar em recessão (ou até estagflação), o Banco Central Europeu (BCE) decidiu voltar a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base esta quinta-feira, dia 14 de setembro. Assim, a principal taxa de refinanciamento – que tem efeitos sobre os créditos habitação - galopou para os 4,50%, o nível mais elevado desde maio de 2001. E a taxa dos depósitos fixou-se em 4,00%, o nível mais elevado de sempre.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, continua a levar a cabo a sua política monetária restritiva, de forma a descer a inflação na Zona Euro até ao patamar da estabilidade de preços: os 2%. Até agora, ainda há um longo caminho a percorrer, uma vez que a inflação se fixou nos 5,3% em agosto, tal como indica a estimativa provisória do Eurostat. "O combate à inflação ainda não está ganho", avisou a presidente do regulador europeu no final de agosto.

Embora Lagarde tenha deixado a questão da evolução dos juros diretores em “aberto”, alertou que, em função dos novos dados macroeconómicos, as taxas de juro diretoras poderiam manter-se no mesmo nível ou sofrer um novo agravamento. Agora, sabe-se que o BCE optou por a subir os juros diretores pela décima vez consecutiva desde o verão de 2022.

"A inflação continua a descer, mas ainda se espera que permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo", diz o BCE

"O Conselho do BCE está determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%. Com vista a reforçar o progresso para o seu objetivo, o Conselho do BCE decidiu hoje aumentar as três taxas de juro diretoras em 25 pontos base", lê-se no comunicado publicado esta quinta-feira. Com o novo aumento de 25 pontos base, as três taxas de juro diretoras vão passar a ser as seguintes a partir de 20 de setembro de 2023:

  • Taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 4,25% para 4,5%, o valor mais elevado desde maio de 2001;
  • Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez passa de 4,50% para 4,75%, igualando o patamar de outubro de 2008;
  • Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos passa de 3,75% para 4,00%, o valor máximo alguma vez registado.

"O BCE mantém a sua trajetória sem interrupções, transmitindo uma mensagem clara de que o seu objetivo principal é controlar uma inflação, que ainda se mantém demasiado elevada a a nível europeu. São más notícias para quem possui crédito habitação e para aqueles que planeiam comprar casa através financiamento bancário, pois é provável que a Euribor reflita rapidamente este aumento", admite Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. Agora, na sua visão, "resta saber como este último aperto afeta a atividade económica e a inflação, que são os indicadores que realmente nos dirão quando este ciclo de aumentos das taxas de juro diretoras chegará ao fim".

Qual será a decisão futura do BCE quanto às taxas de juro?

Tal como reforçam na mesma publicação, "o aumento das taxas de juro hoje decidido reflete a avaliação do Conselho do BCE das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros disponíveis, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária". E as próximas decisões sobre a evolução dos juros também dependerão destes dados.

Acontece que as projeções macroeconómicas de setembro para a área do euro, elaboradas por especialistas do BCE, revêm a inflação em alta para 2023 e para o próximo ano:

  • em 2023 a inflação média será de 5,6%
  • em 2024 descerá para 3,2%;
  • em 2025 cairá para 2,1%, estimam.

"A revisão em alta [da inflação] em relação a 2023 e 2024 reflete, sobretudo, uma trajetória mais elevada para os preços dos produtos energéticos", explicam no documento.

"As pressões subjacentes sobre os preços permanecem altas, embora a maioria dos indicadores tenha começado a abrandar".

O Conselho do BCE considera ainda que os anteriores aumentos das taxas de juro estão a ser transmitidos de "forma vigorosa", uma vez que as condições de financiamento tornaram-se "mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo", refere na publicação.

Já o crescimento económico previsto pelos especialistas do BCE não é animador. Revindo as previsões em baixa, espera-se agora que se observe uma expansão da economia de 0,7% em 2023, 1,0% em 2024 e 1,5% em 2025.

Tendo por base a atual avaliação, o Conselho do BCE considera que "as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo". E adiantam que as futuras decisões "assegurarão que as taxas de juro diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário". Tudo dependerá das perspetivas destes dados macroeconómicos.

Subida de juros esperada, mas temida dado os riscos para a economia europeia

Muito embora o BCE não tenha deixado pistas concretas sobre o rumo da sua política monetária em setembro, vários especialistas anteciparam um novo aumento dos juros diretores. “Penso que é muito cedo para pensar numa pausa”, disse Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, banco central da Alemanha, numa entrevista à Bloomberg TV no final de agosto.

Também o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, garantiu que estamos na “reta final” do aumento das taxas de juro, que considera um “remédio amargo, mas necessário” para ajudar a economia a curar-se da inflação e a voltar a crescer. 

Já Mário Centeno, membro do BCE e governador do Banco de Portugal (BdP), alertou no início do mês que novas subidas das taxas de juro diretoras poderão trazer riscos concretos para a economia, que já mostra “sinais de desaceleração e mesmo com dimensões recessivas”.

O risco de a economia da Zona Euro estar a caminhar para uma recessão ou até estagflação é real, sublinhou esta semana Vítor Constâncio, ex-vice-governador do BCE. “Penso que a área do euro está muito perto de uma recessão que, apesar de não ser muito marcada, criará uma situação de estagflação (inflação mais recessão) que é a situação mais difícil com que a política macroeconómica pode ser confrontada”, disse o também antigo governador do BCE.  Como “uma situação de estagflação nunca existiu desde a criação do euro”, poderá colocar o BCE em “dificuldades”, criando desafios acrescidos para a política monetária futura, avisou.

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