
Artigo escrito por joao.raposo@reorganiza.pt, partner da Reorganiza, para o idealista/news, no âmbito da rubrica “Trocado por Miúdos”.
É um dado objetivo que as decisões políticas têm consequências nos mercados. Na base dessa relação de causa-efeito está o fenómeno confiança. Talvez não tenhas reparado que há semanas que é comum ouvir falar nas perdas consecutivas da bolsa de Lisboa, ou talvez não tenhas reparado na notícia de ontem que dava conta que a “dívida portuguesa é a pior do mundo desde as eleições”. Mas sabes o quanto estas notícias afetam a tua vida?
Há uma tentação demagógica no discurso político de pôr em oposição as pessoas e os mercados. Mas esta oposição é uma falácia própria do discurso político. O pior é que de tantas vezes dita as pessoas começam a acreditar que pessoas e mercados são realidades em combate. O que são afinal os mercados? Ou melhor, "Quem são afinal os mercados?"
Dito de forma mais académica, os mercados financeiros são a plataforma de comércio de valores mobiliários, moeda entre outros, que permite a troca de bens e serviços.
Mas como funciona um mercado sem participantes? Não existe. Isto é, só podemos falar em mercados financeiros porque há pessoas que recorrem a eles para compra e venda de bens e serviços. O que acontece nos mercados tem sempre influência na tua vida.
Deste modo, sempre que ouvires a expressão “nós preocupamo-nos com as pessoas e vocês com os mercados” estás perante uma afirmação desonesta. Como se quem se preocupasse com os mercados estivesse desligado das pessoas e como se as pessoas pudessem viver fora da economia de mercado.
Quer dizer, poder até pode, mas não em Portugal. O teu país é um país que está assente numa economia de mercado. O ponto de equilíbrio dos mercados financeiros tem em linha de conta a oferta e a procura. Há um ajustamento que é procurado naturalmente, mediante o comportamento dos agentes económicos.
Se há aqui uma relação é porque há duas partes envolvidas e como em qualquer relação o elemento fundamental que a sustenta é a confiança. Se não há confiança as relações ressentem-se e isto é assim em todos os campos da vida: social, profissional, familiar.
O que tem levado a notícias como as que estão referidas acima é um reflexo da imagem que o nosso país está a dar. Não é uma questão ideológica nem política.
Não podemos ser simplistas e dizer que é um “complô” contra este ou aquele governo. O país está dependente desta relação de confiança e a instabilidade ou a indefinição dos próximos anos prejudica a vida de cada um.
A falta de confiança no país pode trazer consequências para a tua carteira, por isso, mais uma vez é altura de fazer o apelo a uma postura de prevenção. Se por algum motivo os nossos governantes não conseguirem tranquilizar os mercados, podemos vir a assistir a posturas mais duras dos nossos credores.
Para te salvaguardares da turbulência não deixes para amanhã a urgência de poupar e de teres a “almofada de conforto” tão necessária em épocas de crise. Os portugueses voltaram a reduzir os níveis de poupança familiar e isso é um sinal de alerta.
Ainda para mais se tivermos em consideração que o crédito voltou a estar na moda, porque os bancos têm incentivos a injetar dinheiro na economia real. Cuidado! Já vimos este filme há uns anos atrás e não podemos vir a cometer os mesmos erros do passado.
Para poder comentar deves entrar na tua conta