Estudo da consultora Savills revela que surto da Covid-19 teve “impacto muito significativo no mercado imobiliário”, sobretudo nos setores de retalho e hotelaria.
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Investimento imobiliário cai 16% com a pandemia, mas há "fatores de força" para retoma célere
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O investimento imobiliário em Portugal caiu 16% no primeiro semestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, para 1,7 mil milhões de euros. Um relatório agora divulgado pela consultora Savills, e que faz um balanço da atividade na primeira metade do ano, revela que o mercado “sofreu com o impacto da Covid-19”, resultando em quebras quer no número de transações, quer no volume de investimento em vários segmentos. Ainda assim, a consultora prevê que existam alguns “fatores de força” que podem favorecer uma retoma mais célere do mercado, nomeadamente a manutenção das taxas de juro em níveis muito baixos e a elevada disponibilidade de capital.

“No mercado português de investimento, o 1º semestre de 2020 somou um total aproximado de 1.7 mil milhões de euros, sendo que 94% desse valor dizem respeito a transações fechadas ao longo do 1º trimestre”, indica o estudo. Nos primeiros três meses do ano foi registado um “montante de investimento total excecional de aproximadamente 1.5 mil milhões de euros, perto de metade do montante total do volume de investimento registado nos anos de 2018 e 2019, através do fecho de grandes transações nos segmentos de retalho, escritórios e hotéis”.  

Para Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, “a pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo no mercado imobiliário, sendo que os setores de retalho e hotelaria foram claramente os mais afetados”. “Apesar da incerteza quanto a uma potencial segunda vaga e o controlo da mesma, há uma dinâmica importante a nível dos ativos de promoção que sublinham a confiança dos investidores com o médio/longo prazo”, garante o responsável.

De acordo com a Savills, o capital estrangeiro “continua ser dominante” no mercado português, resultando em 76% do total de operações fechadas, com os investidores americanos a liderarem a tabela de nacionalidades estrangeiras com maior volume de capital investido. Os fundos de gestão de ativos de investimento foram os principais players, contribuindo para 40% das operações fechadas, num montante total aproximado de 350 milhões de euros.

Escritórios: Lisboa cai, Porto cresce

Com a pandemia a atingir Portugal no final do mês de março, o ritmo de atividade do mercado de escritórios deu sinais de “abrandamento significativo”, de acordo com o relatório da consultora. Nos primeiros três de 2020, o mercado de escritórios de Lisboa verificou uma descida de 24%, comparado ao ano anterior.

“Nos primeiros meses do ano, a expectativa de se registar o fecho de ano era positiva, consistindo numa procura ativa e prova de uma saúde financeira sólida do tecido empresarial. Já a partir do mês de abril, os valores de ocupação deixam prever um balanço final de ano com uma queda prevista na ordem dos 25%”, frisa o documento.

Já no mercado do Porto, no 1º semestre, registou-se um aumento do volume de absorção de 38%, face ao ano passado. Em comparação com os valores analisados no mercado de escritórios de Lisboa, “o mercado do Porto registou um começo de ano muito positivo”, indica a Savills.

Este ano já era esperado um ano record para a cidade do Porto em relação à eleição desta cidade como destino de grandes projetos de empresas multinacionais. Esta dinâmica continuou a verificar-se, embora as crescentes preocupações em torno do setor trazidas pela Covid-19 se tenham notado em todo o mundo. Em relação ao futuro, acreditamos que os escritórios continuarão a fazer parte fundamental dos modelos de produtividade das empresas, mesmo que venham a adotar estratégias de trabalho mais flexíveis.”, refere Rodrigo Canas, Offices Associate Director da Savills Portugal.

E-commerce põe logística e retalho à prova

De acordo com a Savills, o setor do retalho foi, “sem sombra de dúvidas,” o mais afetado pela pandemia, uma vez que atividades comerciais viram-se obrigadas a fechar as portas no mês de março, estando apenas disponíveis ao público os supermercados e hipermercados, e alguns serviços de primeira necessidade, como farmácias e postos de combustível, entre outras. “A oferta e a procura foram substancialmente afetadas pela crise atual causando uma descida significativa nos preços”, destaca o relatório.

“O aumento do consumo de produtos pela via digital veio a testar a capacidade de adaptação e resposta das empresas e operadores logísticos a esta nova realidade, obrigando retalhistas e fabricantes a fazer ajustamentos ao negócio ao nível de cadeias de distribuição, preços, produto, reforço e preparação de equipas no atendimento telefónico, condições de segurança nas entregas e devoluções, etc... Esta capacidade de adaptação será fundamental para a recuperação do setor” explica Cristina Cristóvão, Retail Director da Savills Portugal.

Segundo a consultora, o impacto crescente do comércio online poderá conduzir a uma redução das áreas de lojas físicas e consequentemente levar a um aumento da procura por áreas maiores de armazenamento, mais próximas possíveis do centro das cidades. “Ainda que o cenário atual tenha incitado uma diminuição na atividade na generalidade dos setores económicos, o segmento industrial e logístico tem demonstrado uma forte resistência, suscitando cada vez mais interesse nos investidores”, sublinha.

Venda de casas caiu 24%

A pandemia também surtiu efeitos no mercado residencial. Nos primeiros seis meses do ano, em Portugal Continental, as vendas sofreram uma quebra de 24%, com os preços a baixarem em média 8%. Em Lisboa e no Porto, a descida de preços no valor do imóvel por m2 foi de 11% e 9%, respetivamente.

“Apesar da incerteza que vivemos pelas razões que todos conhecemos, a resiliência do setor residencial leva a Savills a prever que não devam existir quebras significativas nos indicadores de performance deste setor sobretudo se falarmos em Lisboa e Porto, ainda assim o ajuste de preços e um abrandamento no crescimento que se verificou nos últimos 7 anos era já previsível antes da pandemia”, adianta Patrícia de Melo e Liz, CEO da Savills Portugal.

De acordo com a Savills, e perante o alívio das restrições impostas durante a quarentena, “o mercado residencial sentiu o impacto imediato” que se traduziu num aumento nacional de 0,8% ao nível dos preços e de 11% no volume de vendas, entre os meses de maio e junho de 2020.

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