Especialista em psicobiologia explica por que é que a perceção mental ou subjetiva do tempo afeta tanto os estados de espírito.
Comentários: 0
saúde mental
unsplash

Viver a vida em contra relógio. Viver preocupado com o tempo que se tem, que sobra, ou com o tempo que falta - ou nos escapa. Viver pendente do tempo é uma fonte de stress; pelo contrário, saber controlá-lo é uma fonte de bem-estar. Mas para saber encarar o tempo, é preciso diferenciá-lo: aquele que é marcado pelos relógios (o tempo objetivo), e aquele que percebemos em cada estado ou situação – e por isso às vezes parece que o “tempo voa” e outras tantas passa muito devagar.

Ignacio Morgado Bernal, Catedrático Emérito de Psicobiologia no Instituto de Neurociência e na Faculdade de Psicologia da Universidade Autónoma de Barcelona, explica num texto de opinião no El País que “o ser humano possui um grupo de neurónios no cérebro, o núcleo supraquiasmático do hipotálamo, que funciona como um relógio biológico com ciclo de 24 horas que serve para ajustar o funcionamento do corpo, a sua fisiologia, às mudanças externas”.

São neurórios, explica, “que funcionam de forma bastante autónoma, preparando o cérebro e outros órgãos do corpo para funcionar de forma diferente, dependendo se é dia ou noite. Dessa forma, eles sincronizam os nossos ritmos de sono e vigília, temperatura corporal e produção de certas hormonas com o ciclo diário de luz e escuridão, o que permite um melhor funcionamento das funções fisiológicas e uma melhor saúde corporal”.

relógio
pexels

O especialista refere, contudo, que o sentido que temos da passagem do tempo, a sua perceção mental ou subjetiva, nem sempre coincide com o que dizem os relógios. “Juntamente com a memória, esse sentido contribui para que, em vez de vivermos numa espécie de eterno presente, tenhamos uma noção do passado, do presente e do futuro. Graças a ele, apreciamos a velocidade de qualquer coisa que se mova e o tamanho de um objeto quando o exploramos pelo toque. A prosódia, o tom de voz que carrega a verdadeira mensagem das palavras, também requer uma perceção subjetiva do tempo, que também usamos para prestar atenção às coisas que acontecem, tentar resolver problemas, tomar decisões, fazer planos para o futuro, até mesmo para entender as mentes e o comportamento de outras pessoas”, aclara Ignacio Morgado Bernal.

Viver preso ao tempo

O especialista indica que “somos treinados para distinguir muito bem o que aconteceu anos ou dias atrás do que aconteceu há pouco ou acabou de acontecer e podemos distinguir minutos de segundos e estes de milissegundos, ou seja, podemos fazer avaliações, ainda que imprecisas, do tempo objetivo”, mas que a nossa capacidade subjetiva de perceção do tempo varia consideravelmente dependendo dos sentidos envolvidos nela, e é tão variável quanto influenciada por múltiplos fatores, externos e internos, que também podem convergir no hipocampo. Assim, às vezes gostaríamos que o tempo passasse rápido e outras vezes devagar.

E é por isso que o tempo voa “quando estamos ocupados e motivados e quando gostamos do que fazemos e nos divertimos”, mas demora mais quando esperamos impacientemente, estamos com dor, estamos doentes ou estamos a passar por um momento difícil. Também o sentimos correr muito devagar quando estamos cansados ​​e desconfortáveis, quando estamos entediados, ou quando nos sentimos em perigo.

Conhecer todos esses fatores, segundo o especialista, é muito importante para gerir o tempo que apreciamos subjetivamente. É essa gestão que nos pode ajudar em cada circustância a “ajustar ao máximo o tempo percebido mentalmente ao tempo real decorrido, evitando que a não coincidência se torne, como tantas vezes nos acontece, uma fonte de stress”.

Ignacio Morgado Bernal deixa um conselho: “Em geral, um bom conselho para garantir a saúde somática e mental é não viver muito dependentes do tempo”.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta