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O risco sísmico do parque edificado em Portugal está a aumentar devido à atual reabilitação urbana. O alerta é dado pela Ordem dos Engenheiros (OE), que defende ser necessário criar um enquadramento regulamentar e um sistema de fiscalização. E também os arquitetos estão preocupados com esta situação.

"Hoje em dia, há uma transferência da atividade da construção nova para a reabilitação, mas essa atividade de reabilitação, se não tiver em conta a verificação da vulnerabilidade da estrutura do edifício e a sua diminuição, em termos práticos, está a aumentar o risco sísmico no país”, analisa, citado pela Lusa, o coordenador da especialização Estruturas da OE, Eduardo Cansado Carvalho, frisando que a situação “parece paradoxal, mas é real”.

O problema da reabilitação sísmica “é um assunto que não é nada fácil”, pelo que “não é para resolver em cinco anos, é para resolver numa geração”, considera o responsável.

“Não podemos é aceitar que o risco sísmico esteja a aumentar”, reforçou, criticando as obras de reabilitação urbana que ampliam a estrutura do edifício e as que intervêm isoladamente numa fração de um prédio.

“Sismos são inevitáveis, consequências não”

Eduardo Cansado Carvalho defende que, em obras de reabilitação com expressão, devia ser “obrigatório haver uma avaliação da segurança sísmica do edifício”, propondo “um texto regulamentar para enquadrar este problema”, uma vez que o Regime Excepcional de Reabilitação Urbana (RERU), em vigor desde 2014, “incentiva a reabilitação, mas sem acautelar a questão da reabilitação sísmica”.

“Uma certificação sísmica seria ideal”, sugeriu o responsável da OE, lembrando que “os sismos são inevitáveis, mas as consequências não”.

Já a vogal do Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Arquitetos (OA), Alice Tavares, também citada pela agência de notícias, explica que as principais preocupações dos arquitetos são “a adaptação da conceção da arquitetura para melhorar ou, pelo menos, para evitar aumentar a vulnerabilidade do edifício”.

Alice Tavares defende que é necessário “estabelecer regras para a reabilitação e, especificamente, para os municípios que estão localizados em áreas sísmicas”, lamentando que “nunca se conseguiu trazer a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) para este debate”.

Lisboa e Algarve com maior risco sísmico

Estas são as regiões mais problemáticas por terem “uma concentração de edifícios mal construídos, mal projetados”, revela o chefe do Núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica de Estruturas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Segundo a Lusa, Alfredo Campos Costa alerta que o sismo de Áquila, que provocou mais de 300 mortos e figura como um dos mais mortíferos dos últimos anos em Itália, “não é nada” em comparação com o que pode acontecer em Portugal.

Se acontecesse um sismo similar em Lisboa, o impacto seria “cerca de 30 a 40% de perda do Produto Interno Bruto (PIB)”, antecipa o responsável.

Jacuzzi custa mais que reforço sísmico

Já o presidente da sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES), Aníbal Costa, considera que é fundamental fazer uma avaliação sísmica do edifício na altura do projeto e depois da obra, quer na construção nova, quer na reabilitação.

O reforço sísmico de um edifício pode custar “25 a 30% do total da obra” e fazer “aumentar cerca de 2%” da segurança do imóvel, avançou Aníbal Costa, referindo que “custa mais meter um ‘jacuzzi’ ou uma banheira de hidromassagem do que o reforço do edifício”.

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