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Sem falar, explicitamente, de uma bolha no setor imobiliário português, o Banco de Portugal tem vindo a reiterar, nos últimos meses, os avisos sobre os riscos de situações de euforia no mercado para a estabilidade financeira e para a economia nacional. Esta terça-feira, o governador Carlos Costa voltou a declarar que teme os excessos de concessão de crédito e a evolução dos preços das casas. No mesmo dia, os principais banqueiros do país vieram a público afastar, em uníssono, a existência de uma bolha em Portugal.

Banco de Portugal diz que está a vigiar de perto 

Para salvaguardar a estabilidade financeira, “não basta nem o acompanhamento das decisões individuais nem a regulação da conduta das instituições bancárias para com os respetivos clientes”, alertou o regulador numa conferência sobre supervisão comportamental bancária, em Lisboa.

Carlos Costa, citado pela imprensa, aproveitou a exposição para alertar que "os agentes económicos não têm em conta e, portanto, não contemplam as externalidades das suas decisões ou ações, em particular o risco sistémico. Esta constatação é particularmente relevante quando se desenvolvem situações de euforia no mercado, nomeadamente no residencial e hipotecário".

E rematou: "como regra, uma menor capacidade de interpretação desta intervenção gera um maior risco de bolha de mercado e, por consequência, determina a necessidade de medidas prudenciais mais interventivas do lado da concessão de crédito, ou do lado da aplicação da poupança, para garantir a estabilidade financeira".

No mesmo dia, também o Governo manifestou preocupação neste sentido, pela voz do secretário de Estado adjunto e das Finanças. Ricardo Mourinho Félix, citado pela Lusa, veio declarar, horas depois de o governador ter falado, que "o elevado nível de crédito malparado é ainda uma marca da crise anterior, sendo por isso fundamental a vigilância da evolução do crédito da nossa economia", disse na conferência a Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios.

Bancos garantem que há normalidade no setor, que está a recuperar da crise

Menos apreensivos parecem estar os principais banqueiros de Portugal, que no mesmo evento promovido pelo diário, passaram a mensagem de que não existe uma bolha no mercado imobiliário nacional. Avaliam com normalidade o atual ajustamento de preços, depois de anos de pouco investimento, e de os bancos terem retraído o crédito à promoção imobiliária e os empréstimos à compra de habitação.

O presidente do BCP, por exemplo, considera que o que está a acontecer é que Lisboa e Porto tornaram-se mercados internacionais no radar dos investidores, deixando de configurar no plano doméstico. Ainda assim, Miguel Maya admite algum ajustamento nas periferias. “Mas será marginal”.

““Não vejo grande problema no imobiliário. O que se passa é que mercado está mais quente”, vincou o CEO do banco, contando que "no BCP, estávamos proibidos de fazer promoção imobiliário. Voltamos a fazer promoção imobiliária, temos parcerias com promotores, mas temos critérios rigorosos e temos regras relacionadas com a capacidade de geração de cash flow e não com as garantias de colateral”.

O líder do Novo Banco, António Ramalho, argumentou que a situação atual é decorrente de anos em que havia muito pouco investimento em imobiliário, "sem autorizações para construir e licenciar".

Dando nota de que a elevada procura turística e a procura de residentes não habituais com outro poder de compra como fatores que estão a sustentar os preços, o CEO do Novo Banco garantiu que “o tema do imobiliário é perfeitamente gerível” para os bancos portugueses.

“Portugal mesmo no anterior momento não teve bolha imobiliária”, frisou Ramalho citado pela Lusa.

Já o espanhol Pablo Forero, que conduz o BPI desde que a Caixabank se tornou no acionista maioritário do banco de raiz portuguesa, recordou que viveu a bolha imobiliária que rebentou no país vizinho para declarar que “em Portugal a situação é bastante razoável”.

“Claro que há que evitar excessos, mas os bancos estão a fazer um trabalho sério e prudente”, assegurou em nome do setor.

O presidente do banco estatal CGD está em linha com a banca privada. Paulo Macedo realçou que há que distinguir os valores do “imobiliário residencial em Lisboa e Porto e do imobiliário industrial, que tem preços ainda baixos”. Mas admitiu que a instituição dá “muita importância” ao tema, sendo que tem no seu portefólio aproximadamente 20 mil imóveis que tem de vender.

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