Associação já apoiou mais de 700 famílias de jogadores que ficaram sem habitação e sem recursos. Abertura do centro de acolhimento vai acontecer em breve.
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Espaço Vida no Pinhal Novo vai ser "a casa" de futebolistas em dificuldades por causa da pandemia
Associação Do Futebol para a Vida

Chama-se Associação Do Futebol para a Vida e foi criada no início da pandemia da Covid-19, a 14 de abril de 2020, para ajudar vários futebolistas a ultrapassar as dificuldades financeiras devido à suspensão das competições não profissionais, imposta pelo estado de emergência. Criada por desportistas, como é o caso do luso-guineense Ibraím Cassamá (jogador do Real Sport Clube) e de Hugo Machado (jogador do GS Loures), o projeto ganhou dimensão através das redes sociais e tem vindo a apoiar vários futebolistas, sobretudo com bens alimentares. Até agora, no total, foram ajudadas cerca de 700 famílias da comunidade desportiva entre jogadores, dirigentes, equipas técnicas e outros elementos de 'staff' dos clubes.

Espaço Vida no Pinhal Novo vai ser "a casa" de futebolistas em dificuldades por causa da pandemia
Associação Do Futebol para a Vida

Em entrevista ao idealista/news, Hugo Machado, vice-presidente da associação, refere que desde o início deste processo foi visível que existem centenas de jovens atletas, que se encontram em situações precárias em Portugal, a precisar de apoio a vários níveis. Para dar resposta em termos habitacionais foi criado o projeto Espaço Vida: um lar com 16 camas para abrigar provisoriamente jogadores que necessitem de uma resposta rápida em termos de alojamento. Para dar suporte na formação e orientação profissional contam com o apoio da Sports Embassy | SE, através da criação de uma sala de formação e de reuniões que será utilizada para apoiar os jogadores no âmbito da sua vida fora do contexto desportivo.

Associação apoia jogadores em situação de dificuldade

De acordo com Hugo Machado, nos últimos meses, o apoio que a Associação Do Futebol para a Vida tem dado aos jogadores “não tem sido, infelizmente, só através de bens alimentares”.

Assim, enumera, “temos encontrado várias situações de jogadores que ficaram sem teto pelas mais diferentes razões: jogadores estrangeiros que vêm para Portugal e que, ou são enganados e abandonados, ou que ficaram sem clube e, por estarem em instalações do clube ficam sem sítio onde viver (esta última também tem acontecido igualmente a jogadores portugueses); jogadores portugueses que estão no estrangeiro em condições precárias ou que foram abandonados e que ajudamos a regressar ao país, mas precisam de um local para ficar temporariamente até resolverem a sua situação laboral e também com jogadores que, estando em Portugal, acabam por enfrentar situações provisórias em que temporariamente ficam sem local para residir”.

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Associação Do Futebol para a Vida

Até agora, diz, “temos encontrado formas alternativas, com muita criatividade e solidariedade de vários intervenientes, para resolver todos os casos que nos têm aparecido, mas percebemos que talvez pudéssemos ajudar mais e com melhores condições se fossemos mais além”.

Daí surgiu a ideia de criar um espaço físico e através da boa vontade de várias pessoas avançaram para o projeto Espaço Vida.

Casa no Pinhal Novo inaugurado até final da época

“Neste momento está a decorrer a adaptação de uma casa no Pinhal Novo que nos foi cedido para criarmos o primeiro Espaço Vida”, conta Hugo Machado, 38 anos, jogador ainda no ativo. Detalha que,“por nós, já queríamos ter tudo pronto e a funcionar, pois ainda agora surgiram novas situações de jovens jogadores que nos pediram ajuda e estão em apartamentos sem condições nenhumas e aquilo é desumano”.

Infelizmente, lamenta, “estas coisas não se fazem de um dia para o outro, a obra atrasou ligeiramente, mas estamos em crer que muito brevemente podemos começar a receber estes jovens e a dar-lhes as condições que todos os seres humanos merecem ter, pelo menos enquanto não resolvem a sua situação laboral ou enquanto não regressam aos seus países”.

Hugo Machado alerta, assim, que devido ao atraso que a obra sofreu, o projeto já não vai estar pronto em março de 2021 - como idealizaram -, mas acredita que até ao final da época vão conseguir fazer “a tão esperada inauguração”.

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Associação Do Futebol para a Vida

Refere ainda que “nesta situação específica, só a boa vontade não resolve o problema. O projeto está todo feito, sabemos exatamente o que queremos para o Espaço Vida tanto em termos de funcionamento como em termos decorativos”.

Projeto apoiado por vários jogadores e sociedade civil

A mobilização em torno do projeto, tanto por parte dos profissionais ligados aos desportos, como da sociedade civil, foi grande desde o seu lançamento.

“Tem sido incrível. Há muitas pessoas que têm sido incansáveis desde o início do Futebol para a Vida, ainda antes de constituirmos como associação”, destaca o atleta, partilhando que “assim que criámos o grupo de WhatsApp, que deu depois origem a tudo isto, houve logo vários jogadores a envolverem-se. E falamos de todo o tipo de jogador. Desde jogadores internacionais, a jogadores de campeonatos abaixo do Campeonato de Portugal. Cada um vai ajudando como pode e isso é tudo aquilo que precisamos”.

A sociedade civil juntou-se também à causa e “tem sido algo muito bonito de se ver”, acrescenta Hugo Machado.

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Associação Do Futebol para a Vida

E alerta também para o facto de estarem a chegar “muitos pedidos de ajuda fora da comunidade do futebol e nós gostaríamos de poder responder positivamente a todos, mas é muito difícil porque os recursos não esticam”, afirmando que “é muito duro ver que as instituições que existem para dar apoio aos cidadãos que passam por dificuldades já não estão a conseguir dar a resposta apropriada”.

Neste momento, diz, “continuamos a precisar de bens alimentares. Temos entregas diárias e não podemos falhar”.

Quartos com o nome dos profissionais que apoiam projeto

Cada quarto do Espaço Vida terá uma designação que irá corresponder ao nome dos craques de futebol, mas também de outros que, ao longo dos últimos meses, têm ajudado a associação.

“Os profissionais ligados ao futebol que têm apoiado, aqueles que têm sido mais interventivos, de alguma forma, com o projeto, darão o nome a diferentes espaços do Espaço Vida, quer os quartos quer salas de convívio, por exemplo”, explica Hugo Machado, argumentando que esta "é uma forma de reconhecermos a sua ajuda, já que todos os agradecimentos nunca serão suficientes, mas também para que todos aqueles que precisarem de ficar no Espaço Vida e que de braços abertos possamos receber, saibam quem tornou tudo aquilo possível e que isso lhes dê o alento e motivação necessários para irem à luta e não desistirem dos seus sonhos”.

Assim, cada quarto e espaço da casa terá uma designação que irá corresponder ao nome de alguns desportistas, mas também de outros que, ao longo dos últimos meses, têm ajudado a associação de forma incansável, como é o caso de José Mourinho, Sérgio Conceição, Duarte Gomes, Paulo Futre, Bruno Fernandes entre muitos.

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Jogadores não precisam só de comida

A pandemia obrigou a que muitos jogadores que antes viviam só do futebol tivessem de começar a trabalhar ou até outros que optaram por deixar o futebol.

Por isso, “quando criámos o Futebol para a Vida percebemos que os jogadores não precisavam só de comida ou que alguém lhes pagasse as contas”, indica o seu responsável, explicando que “numa altura difícil como esta, a Sports Embassy tem ajudado os jogadores a fazer os seus CV’s, contribuindo na busca ativa de emprego. Tem sido um apoio essencial, em alguns casos também para as famílias”.

A Sports Embassy, entidade que apoia atletas na preparação para a transição de carreira, “continua a fazer o que já fazia com outros desportistas, mas sabemos que podemos encaminhar os jogadores para alguém que se dedica a ajudar atletas a encontrar um caminho e uma vida quando termina o desporto ou uma alternativa para manter durante a carreira desportiva”, refere.

Na opinião de Hugo Machado esta é uma experiência que está a correr bem apesar de, “infelizmente, o mercado de trabalho não ajuda e todos queríamos poder estar a fazer mais. Talvez seja uma boa oportunidade para sensibilizar as empresas que estão a recrutar para não se esquecerem dos jogadores e atletas em geral”.

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“Nós queremos deixar de existir tão breve quanto possível”

Sobre os projetos futuros da Associação Do Futebol para a Vida, o seu vice-presidente é perentório: “nós queremos deixar de existir tão breve quanto possível. Será o sinal que as situações precárias no futebol desapareceram e nós ficaríamos muito felizes por isso”.

Até lá, garante, e enquanto este tipo de casos existirem, “nós cá estaremos a fazer as nossas entregas de bens alimentares diariamente, a recolher donativos e a fazê-los chegar a quem mais precisa”. Segundo o futebolista “sempre que nos for possível tentaremos contribuir com a sociedade civil, mas sempre sem por em causa a família do futebol que são aqueles por quem e para quem criámos o projeto”.

O objetivo agora é “inaugurar o Espaço Vida até ao final da época e poder focar depois num segundo espaço que já está sinalizado e que queremos também concretizar. Depois, é irmos adaptando a nossa atividade consoante o tipo de casos que vamos encontrando”, destaca Hugo Machado.

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