Casas passivas made in Portugal: para viver melhor, consumindo menos

Com os preços da construção e da energia elevados e condições meteorológicas cada vez mais extremas – de cheias e tempestades até ondas de calor – , a sustentabilidade está na ordem do dia. Uma preocupação que se estende a vários setores, como é o caso da construção e imobiliário, focados na procura de soluções para construir edifícios eficientes e com menor impacto ambiental.

As casas passivas são um bom exemplo. Ganharam popularidade no país, motivando a proliferação de negócios para dar resposta à procura. É o caso da Ecoconcept, uma empresa portuguesa especialista neste tipo de construção, que explica em entrevista ao idealista/news as vantagens deste método e o que o distingue dos demais.

Na hora de construir ou comprar casa, há uma preocupação cada vez maior com a desempenho do edifício, não só ao nível da eficiência energética, mas também no conforto e qualidade dos ambientes em que vivemos. E o conceito de casa passiva, que surgiu na Alemanha nos anos 90 e que se espalhou por todo o mundo, já é uma tendência, uma vez que permite reduzir a pegada energética de uma residência a um nível mínimo. Para António Alves, CEO da Ecoconcept, trata-se de um tipo de construção que permite “viver numa casa que privilegia a qualidade de vida e a poupança energética”, sem abdicar da estética e conforto.

Trata-se de casas “estanques, altamente isoladas”, que procuram eliminar as pontes térmicas, utilizando “caixilharias com excelente corte térmico e VMC duplo fluxo com o sistema de ‘freecooling’ incorporado que permite uma recirculação de ar controlada e que elimina a necessidade de abrir as janelas para “arejar” a casa e ajuda a manter a humidade em valores muito inferiores ao habitual”, segundo explica o responsável. O tempo médio de construção de uma moradia deste tipo ronda os 8/9 meses, mas o objetivo é chegar a tempos de 6 a 8 meses. Os preços andam em linha com os da construção tradicional, mas neste caso, tal como refere António Alves, na entrevista que agora reproduzimos na íntegra, a diferença das casas passivas não está no preço, mas na qualidade.

Ecoconcept

Quando é que surgiu a Ecoconcept?

A Ecoconcept surgiu durante a pandemia. Nasceu de uma associação feliz entre três elementos e fatores: um gestor, adepto convicto do planeamento e do rigor no controlo de processos; um técnico com experiência de construção civil de mais de 40 anos; um ‘know-how’ de mais de 20 anos de construção em ICF em França.

Esta associação proporcionou a aliança perfeita para lançar um projeto disruptor, onde se pretende aliar as melhores práticas de gestão à construção. A fase da pandemia atrasou, mas ajudou a preparar da melhor forma o lançamento do projeto. Começamos do zero e passado pouco mais de 18 meses temos mais de 50 clientes adjudicados e mais de 100 moradias a lançar em empreendimentos próprios.

E a que tipo de projetos se dedicam? Exclusivamente residencial ou também outros segmentos?

A Ecoconcept é um projeto agregador que nasceu com o intuito de fazer evoluir a construção em Portugal. Não temos propriamente um cliente alvo. Privilegiamos qualquer cliente, desde que este se reveja no nosso conceito, nos nossos valores e que se identifique com a Ecoconcept. Um cliente Ecoconcept é sobretudo um cliente que procura uma construção ecológica, sustentável, altamente eficiente termicamente, e que valoriza viver numa casa que privilegia a qualidade de vida e a poupança energética.

Temos clientes para projetos desde 100.000 euros até 10 milhões. Não diferenciamos clientes. Procuramos tratar todos da mesma forma. Temos uma visão a médio/longo prazo. Não criamos a Ecoconcept apenas para nós. Queremos criar um ícone que perdure por muitos anos.

Ecoconcept

Constroém casas passivas em ICF. Quais são as vantagens deste método de construção? O que é que o distingue dos demais?

Uma construção em ICF (Isolated Concrete Forms) como indica as siglas, consiste na utilização de blocos isolantes que depois de empilhados são cheios com betão armado. A real vantagem não está na utilização dos blocos, mas a metodologia e as técnicas que a Ecoconcept está a desenvolver, apoiada na experiência dos nossos parceiros e associados, utilizando a filosofia japonesa ‘kayzen’ na procura da melhoria contínua e na constante otimização de processos que possam ajudar a evoluir não só os associados Ecoconcept como todos os “concorrentes”.  Concorrentes entre aspas porque acreditamos que a concorrência, desde que leal e responsável, é imprescindível para o crescimento global da construção em Portugal. A Ecoconcept criou a ecobuild+ que será a empresa do grupo que garantirá a qualidade e a certificação de todos aqueles que pretendam pertencer à “Família Ecoconcept”. Temos no horizonte criar uma academia para formação de técnicos neste processo de construção.

A nossa construção aposta sobretudo na melhoria das condições ambientais, onde procuramos a melhor relação qualidade/preço

A nossa construção aposta sobretudo na melhoria das condições ambientais, onde procuramos a melhor relação qualidade/preço. As nossas casas seguem os padrões e a lógica de uma casa passiva. As nossas casas são estanques, altamente isoladas, procuramos eliminar as pontes térmicas, utilizámos caixilharias com excelente corte térmico e usamos VMC duplo fluxo com o sistema de ‘freecooling’ incorporado que permite uma recirculação de ar controlada que elimina a necessidade de abrir as janelas para “arejar” a casa e ajuda a manter a humidade da casa em valores muito inferiores ao habitual. A construção em ICF, quando bem utilizada, permite reduzir o tempo de construção e diminui a necessidade de mão de obra específica.

Como sabemos a construção tradicional está a passar por uma crise de falta de mão de obra qualificada. A construção de uma maneira geral está muito mal vista na população. Quem quer fazer carreira na construção? Os bons profissionais cada vez são menos e o custo da mão de obra está a disparar em flecha. Pretendemos abrir a construção aos jovens e sobretudo ao setor feminino.

De que forma é que a construção passiva pode ajudar a combater a falta de oferta habitacional no país?

Para termos uma construção passiva reconhecida e certificada será necessário cumprir diversos procedimentos que terão de ser reconhecidos e validados pelas entidades competentes. No entanto, podemos ter habitações seguindo as boas práticas que levam à excelência energética e térmica. Construindo casas passivas e autossustentáveis podemos, inclusive, atingir as chamadas “casas positivas”.

Qual o tempo médio de construção de uma casa?

O tempo médio de construção de uma moradia anda nos 8/9 meses. Estou convicto que quando tivermos equipas altamente formadas, todo o processo otimizado, utilizando ferramentas de planificação e controlo à imagem do que se faz na indústria automóvel, chegaremos a tempos de 6 a 8 meses.

Ecoconcept

E qual o intervalo de preços?

O preço depende muito do que estamos a construir. Na verdade, os preços andam na linha da construção tradicional. A diferença não está no preço, mas na qualidade. Como diz muitas vezes o meu sócio e amigo, estas casas não se veem, sentem-se.

Além de projetos individuais, dedicam-se à construção de empreendimentos. Qual das duas vertentes tem mais peso no negócio?

A Ecoconcept tem diferentes áreas de negócio. Umas já implementadas e outras que estamos a implementar. Podemos dividir nas seguintes áreas de negócio:

• P&C - Projetos e Construção. Onde trabalhamos para clientes diretos. Podemos entrar em qualquer ponto do processo. Desde o cliente que não tem terreno e pretende construir uma casa até o cliente que tem um projeto aprovado.
• P&I - Promoção Imobiliária. Temos diversos projetos em todo país, que estamos a desenvolver e que brevemente serão lançados no mercado.
• M&I Mediação Imobiliária. Esta área de negócio é fundamental pois temos nas imobiliárias os nossos principais parceiros.

Temos muitas mais áreas de negócio. Refiro apenas a Ecoconcept Comercial onde trabalhamos sobretudo cliente investidor e os projetos de grande dimensão. O nosso conceito é uma mais valia na construção de hotéis, hospitais, lares de terceira idade, escolas e todas as construções onde a poupança energética e a qualidade do ambiente são uma preocupação acrescida.

E qual o perfil da procura? Mais nacional ou estrangeira?

O nosso cliente é diversificado. Temos diversos clientes nacionais e muitos estrangeiros que nos procuram pelo conceito que estamos a desenvolver.

Ecoconcept

O “Eco Village Porto Circunvalação” segue um modelo de “casas positivas”. Podem explicar em que consiste este conceito?

O projeto Eco Village Porto Circunvalação consiste num projeto que estamos a desenvolver numa das zonas nobres da cidade do Porto. Pretendemos que este empreendimento seja verdadeiramente autossustentável. Com uma gestão de condomínio assegurada pela Ecoconcept em que o cliente praticamente não terá custos com condomínio e energia.

Quais as tipologias e intervalo de preços das moradias deste empreendimento?

As tipologias serão sobretudo T3.

Que impacto está a ter o contexto atual (alta inflação, subida dos juros, a guerra...) na vossa atividade?

O contexto atual e na conjetura em que vivemos afetam obviamente a economia mundial e a construção não foge à regra. Afetará sobretudo aqueles que precisam de recorrer ao credito bancário. O financiamento está mais caro e mais seletivo. No entanto, o fluxo de estrangeiros que pretendem viver em Portugal não parou e acredito que continuará a aumentar. Este movimento, apesar de ter contribuído para disparar a inflação da venda dos imóveis em geral, provocou um fenómeno interessante na construção. Temos diversos clientes que viviam em casas e/os apartamentos que foram vendidos por valores muito superiores ao da sua compra que originou mais valias que obrigam a investir. Como o mercado de segunda mão tem falta de produto e o que há está a valores proibitivos, muitos clientes viraram se para a construção.

Ecoconcept

Apesar da vossa área de atuação ser a região Norte do país, acabam de inaugurar uma nova delegação em Faro. Porquê a região do Algarve?

O projeto Ecoconcept consiste em criar ecossistemas em diferentes regiões. Estamos em Vila Nova de Gaia, Espinho, Lisboa, Madeira, Açores e Faro. Pretendemos abrir mais regiões. A razão prende-se com levar a todos as mais valias que queremos dar aos nossos clientes.

E têm planos de expansão para outras zonas do país?

Conforme referi acima temos planos para expandir em todo o país. Estamos já na Madeira onde vamos construir diversas moradias e em meados do próximo ano vamos lançar alguns empreendimentos. Nos Açores estamos a trabalhar com parceiros na construção de empreendimentos turísticos e temos já vários potenciais clientes para iniciar já no primeiro trimestre do próximo ano.