Saúde, conforto e eficiência. Estas casas reúnem tudo isto e muito mais, explica o presidente da Associação Passivhaus Portugal.
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O que são casas passivas
João Marcelino, presidente da Associação Passivhaus Portugal | Primeiras Passive Houses certificadas em Portugal - Ílhavo Associação Passivhaus Portugal

Construir e renovar edifícios tendo em conta a sua eficiência energética é, hoje, uma prioridade cá dentro e lá fora. E é aqui que entram as Passive Houses (casas passivas, na língua portuguesa), soluções construtivas que garantem um elevado desempenho, sendo eficientes do ponto de vista energético, económico, da saúde, do conforto e da sustentabilidade.

As vantagens das casas passivas são "óbvias” e, hoje, vão ao encontro das necessidades atuais das famílias. É por tudo isto e muito mais que “a procura por construir Passive Houses tem sido cada vez maior” em Portugal, segundo avança João Marcelino, presidente da Associação Passivhaus Portugal, em entrevista ao idealista/news.

Hoje, a eficiência energética é uma “preocupação” para as famílias na hora de construir ou comprar casa. E a verdade é que não é a única, já que "a preocupação com o desempenho do edifício não está apenas na eficiência energética, mas também na questão do conforto, da saúde e do bem-estar nos espaços que habitamos", começa por explicar João Marcelino que também é um dos membros fundadores da associação.

É precisamente esta “maior consciencialização para a qualidade dos ambientes onde vivemos” – que ganhou ainda mais força durante a pandemia da Covid-19 – que tem levado as famílias a “priorizar aspetos que antes não eram tão valorizados, como a qualidade do isolamento térmico, das janelas, dos sistemas e equipamentos”, refere o responsável na mesma entrevista.

Casas sustentáveis
Passive House em Ílhavo (em reabilitação e certificação) Associação Passivhaus Portugal
Em resultado, “a procura por construir Passive House tem sido cada vez maior”, revela João Marcelino. E chega tanto por parte das famílias para a construção ou reabilitação de casa própria, como por parte de promotores e investidores imobiliários ao nível do mercado residencial e de escritórios. “O que tem motivado o interesse e o crescimento da Passive House são as vantagens óbvias do seu desempenho e o reconhecimento do valor em ter e viver numa Passive House”, esclarece o presidente da Associação Passivhaus Portugal, dando ainda nota de que não tem dados para avaliar se têm sido aproveitados ou não benefícios fiscais ou incentivos existentes nesta matéria.

A verdade é que desde o início da atividade da Associação Passivhaus Portugal já foram certificados 4 edifícios – o primeiro em maio de 2013 -, estando localizados em Ílhavo e Mindelo. E atualmente têm 6 imóveis em processo de certificação Passive House, situados em Loulé, Carregal do Sal, Penafiel, Vila Nova de Gaia e Ílhavo, de acordo com a informação disponibilizada no site da associação.

O processo de certificação das casas passivas é um caminho “muito longo e exigente”, já que acompanha as fases de projeto e de construção, mas necessário dado que “é a certificação que permite separar o trigo do joio”, sublinha ainda João Marcelino.Esperamos terminar o ano de 2022 com uma dezena de unidades certificadas”, conclui.

Mas quais são, afinal, os aspetos que se devem ter em conta na hora de construir uma casa passiva? E quais são as principais vantagens que apresenta? E desafios? Qual é o investimento associado? Em entrevista ao idealista/news, o presidente da Associação Passivhaus Portugal responde a estas e outras questões procurando esclarecer todas as dúvidas às famílias que procuram saúde, conforto e eficiência nas casas passivas.

Casas passivas em Portugal
Primeira Passive House certificada no sector do turismo em Portugal – Costa Nova, Ílhavo Associação Passivhaus Portugal

“A Passive House é um conceito construtivo que define um padrão de elevado desempenho que é eficiente, sob o ponto de vista energético, saudável, confortável, economicamente acessível e sustentável”, dizem. O que é preciso ter em conta na construção de uma Passive House?

Para conseguirmos ter um edifício com desempenho Passive House temos primeiramente de ter um projeto adequado, apto a cumprir os requisitos e com a necessária incorporação de inteligência, sobretudo se tivermos em conta a otimização do custo-benefício. O bom projeto significa - entre outras coisas - ter um balanço energético efetuado através do software Passive House Planning Package (PHPP), que cumpra os requisitos e adequar as soluções construtivas ao lugar, nomeadamente em relação à orientação do edifício, ao clima, à envolvente próxima do edifício e à economia local.

Depois teremos de assegurar a qualidade no processo de construção, de modo a cumprir as soluções definidas no projeto com especial atenção para a estanquidade ao ar.

"Devemos ter uma envolvente do edifício o mais estanque ao ar possível para garantir que não temos fugas de ar através de infiltrações e exfiltrações, podendo levar a patologias, correntes de ar, trocas energéticas desfavoráveis, a contaminação do ar".

Quais são os grandes desafios por detrás da construção de uma Passive House?

Dada a realidade do setor da construção em Portugal, diria que o maior desafio está em alcançar o requisito da estanquidade ao ar, uma vez que é algo que não é exigido regulamentarmente, ao contrário de grande parte dos países europeus, nem é medido regularmente nas construções.

Não se deve confundir o conceito de estanquidade ao ar com a ventilação ou com a difusão do vapor de água. São conceitos diferentes e que deverão ser tratados de forma integrada e adequada. Há o mito de que com uma envolvente estanque ao ar não há renovação do ar ou a casa não consegue respirar… E não há nada mais falso. Por exemplo, com uma elevada estanquidade ao ar conseguimos assegurar que a renovação do ar irá ocorrer apenas onde queremos que ela ocorra, ou seja, através dos processos e meios definidos para esse fim.

Deveremos ter uma envolvente do edifício o mais estanque ao ar possível para garantir que não temos fugas de ar através de infiltrações e exfiltrações, podendo levar a patologias, correntes de ar, trocas energéticas desfavoráveis, a contaminação do ar, com radão por exemplo.

Como tornar a casa mais eficiente
Passive House em Cascais (em construção e certificação) Associação Passivhaus Portugal
Construir uma Passive House requer um maior investimento do que a construção de uma casa convencional? Como é que são selecionados os materiais?

A resposta é fácil. Tudo depende da inteligência incorporada no projeto. Pode não existir um acréscimo no custo de construção se o projeto for otimizado para o desempenho. É no projeto e no papel da equipa de projeto que está o maior potencial de poupança, porque é possível otimizar a forma e orientação do edifício, minimizar as pontes térmicas, estandardizar as soluções, entre outros aspetos. No entanto, se a decisão de obter o desempenho Passive House ocorrer após a conclusão do projeto de arquitetura dificilmente se evitará o acréscimo do custo de construção.

"Durante a pandemia (...) houve uma maior consciencialização para a qualidade dos ambientes onde vivemos".

Como tem sido a procura por Passive House até agora em Portugal? Aumentou ou diminuiu durante a pandemia? Há mais famílias ou investidores a procurar estas soluções? Como descreve a oferta destas casas em Portugal?

A procura por construir Passive House tem sido cada vez maior. Por um lado, há uma maior procura por parte do público em geral para a construção ou reabilitação de casa própria. Por outro lado, verifica-se uma procura crescente por parte de promotores e investidores tanto ao nível do mercado residencial, como de escritórios. Esta procura tem sido acompanhada por um crescimento na procura da formação oficial Passive House e pelo aumento dos parceiros e soluções da rede Passive House, sobretudo ao nível das janelas, sistemas e equipamentos e soluções para a estanquidade ao ar.

Durante a pandemia não verificamos nenhum abrandamento, bem pelo contrário. Durante esse período houve uma maior consciencialização para a qualidade dos ambientes onde vivemos.

Como melhorar a eficiencia energética do escritório
nZEBoffice+, o primeiro escritório Passive House em Portugal (reabilitação em Ílhavo não certificada) Associação Passivhaus Portugal

Que conselhos daria às famílias que ponderam construir ou comprar uma Passive House?

No caso de alguém que está a pensar construir, eu diria que coloque todo o esforço na obtenção de um projeto otimizado para o desempenho. Esse é o primeiro e crucial passo em todo o processo. A listagem dos projetistas e consultores certificados Passive House está disponível no nosso site.

No caso de alguém que queira comprar ou arrendar um imóvel Passive House eu diria que deve procurar ter toda a informação que comprove que de facto se trata duma Passive House. Foram desenvolvidos, em parceria com a Deco Proteste, conteúdos e ferramentas para informar o mercado e evitar que se compre gato por lebre.

"A preocupação com o desempenho do edifício não está apenas na eficiência energética, mas também na questão do conforto, da saúde e do bem-estar nos espaços que habitamos".

A eficiência energética é uma prioridade a nível nacional e internacional. Sentem cada vez mais preocupação das famílias para este tema? Estão dispostas a investir em soluções mais sustentáveis?

Atualmente essa é uma preocupação em todas as tomadas de decisão das famílias, sobretudo quando se trata do maior investimento que é feito a nível familiar, como a construção ou aquisição de casa própria. A preocupação com o desempenho do edifício não está apenas na eficiência energética, mas também na questão do conforto, da saúde e do bem-estar nos espaços que habitamos. Esta maior consciencialização leva à priorização de aspetos que antes não eram tão valorizados como a qualidade do isolamento térmico, das janelas, dos sistemas e equipamentos.

Casas eficientes em Portugal
Primeira Passive House certificada no sector do turismo em Portugal – Costa Nova, Ílhavo Associação Passivhaus Portugal

Desde o início da vossa atividade, têm 4 edifícios certificados como Passive Houses. Fale-nos um pouco sobre como foi o processo de certificação da primeira Passive House em Portugal em maio de 2013. O que significou para vocês?

A construção das primeiras Passive Houses certificadas em Portugal representou o primeiro passo para a implementação da Passive House em Portugal, a que se seguiu a monitorização do seu desempenho e a criação da Associação Passivhaus Portugal. Este primeiro projeto, a construção de duas moradias geminadas, foi um grande desafio uma vez que a tomada de decisão ocorreu quando a obra estava a iniciar-se e o projeto não pôde ser alterado. Foi, por isso, um momento de formação intensiva para todos os envolvidos no projeto e na construção e um laboratório prático, com mais de uma centena de visitantes à obra.

"À semelhança do que ocorre a nível internacional, os edifícios certificados representam uma pequena fração de todas as Passive Houses".

Têm atualmente 6 edifícios em processo de certificação. Que critérios devem cumprir para obter a certificação? O processo de classificação é longo?

À semelhança do que ocorre a nível internacional, os edifícios certificados representam uma pequena fração de todas as Passive Houses. O processo de certificação representa a garantia do cumprimento de todos os requisitos, com a verificação por parte dum certificador acreditado pelo Passivhaus Institut. É um processo que acompanha as fases de projeto e de construção, sendo por isso muito longo e exigente. Mas é a certificação que permite separar o trigo do joio.

Por um lado, a certificação representa um esforço e um investimento adicional que, por vezes, os donos de obra não querem suportar por não obterem o retorno comercial.

Por outro lado, devido às lacunas do sector na generalidade para assegurar a estanquidade ao ar da envolvente do edifício, verifica-se que alguns edifícios acabam por não cumprir esse requisito, que tem de ser verificado através de ensaio próprio realizado por uma entidade independente ao processo.

Casas com eficiência energética
Passive House em Ílhavo (em reabilitação e certificação) Associação Passivhaus Portugal

Quantas casas esperam certificar em 2022? E nos próximos anos? A procura por certificação Passive House tem ido ao encontro das vossas expectativas?

Esperamos terminar o ano de 2022 com uma dezena de unidades certificadas. Estes 10 primeiros anos representaram um crescimento sustentável do setor Passive House em Portugal. Como é natural, houve momentos de menor e de maior aceleração, houve parcerias e envolvimento em redes e grupos de trabalho que não partilhavam a mesma visão, mas sempre a crescer e fortalecer a rede em Portugal.

"O crescimento da Passive House em Portugal foi feito até aqui apenas com o interesse e envolvimento dos agentes do setor e sem qualquer tipo de apoio público ou de financiamentos europeus".

Os benefícios fiscais para Passive Houses certificadas mantém-se? Têm atraído famílias e investidores? São adequados?

O que tem motivado o interesse e o crescimento da Passive House são as vantagens óbvias do seu desempenho e o reconhecimento do valor em ter e viver numa Passive House. Não temos dados para aferir o aproveitamento dos benefícios fiscais ou incentivos existentes. Como o crescimento da Passive House em Portugal foi feito até aqui apenas com o interesse e envolvimento dos agentes do setor e sem qualquer tipo de apoio público ou de financiamentos europeus mostra que a Passive House veio para ficar.

Melhorar desempenho energético da casa
Passive House em Santa Maria da Feira ( em construção e certificação) Associação Passivhaus Portugal

Estão previstos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência para apoiar o desenvolvimento deste tipo de casas?

A Associação Passivhaus Portugal tem dado aos decisores, de forma continuada, o seu contributo e defendido a transição do parque edificado em Portugal para níveis de desempenho Passive House. Não temos conhecimento de concursos especificamente focados no desempenho Passive House.

Aliás, os apoios que têm estado a ser disponibilizados têm o nosso repúdio porque descuram a visão holística sobre o desempenho dos edifícios e incentivam a mudança avulsa dos componentes construtivos sem o aconselhamento ou consultoria técnica. Este tipo de intervenção avulsa pode levar ao surgimento de patologias que antes não ocorriam.

"Não temos conhecimento de concursos especificamente focados no desempenho Passive House" no PPR.

O que é preciso fazer mais para que a procura por Passive House aumente em Portugal? Quais são as vossas estratégias de ação para 2022 neste sentido? E para o futuro?

O foco está e estará no fortalecimento da rede Passive House em Portugal. É esse o nosso compromisso e iremos continuar esse trabalho. É fundamental que haja massa crítica e que haja capacidade para implementar em todo o país.

Este fortalecimento da rede Passive House passa por trabalhar junto dos fabricantes para promover os componentes e produtos adequados à Passive House, por continuar a divulgar a Passive House para o público geral, continuar a fazer crescer o número de profissionais e técnicos com formação Passive House e por trabalhar junto das universidades com atribuição de bolsas para a formação oficial Passive House e no desenvolvimento de teses e investigação sobre a Passive House.

Vamos também continuar a demonstrar através da plataforma de monitorização online, de acesso livre, os resultados dos edifícios Passive House inseridos nesse programa.

Casas mais confortáveis em Portugal
Passive House em Ílhavo, que nasceu de uma reabilitação (não certificada) Associação Passivhaus Portugal

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