FMI aconselha Portugal e outros países a estarem “vigilantes” sobre crise na habitação e medir riscos à estabilidade financeira.
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preço das casas
Foto de Mario Esposito no Unsplash

Os preços das casas em Portugal duplicaram desde 2015, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI), que assinala que a diferença entre estes e as rendas acentuou-se desde a pandemia. Num relatório regional sobre a Europa, o FMI dá nota de que os mercados imobiliários revelam crescentes sinais de sobrevalorização em toda a região, apontando cinco países como exemplo deste cenário, nomeadamente Portugal.

“Os preços reais das casas duplicaram desde 2015 na República Checa, na Hungria, na Islândia, no Luxemburgo, na Holanda e em Portugal”, pode ler-se no relatório. Os técnicos do FMI sublinham que “desde a pandemia, a divergência entre os preços das casas e os rendimentos, e entre os preços das casas e as rendas, aumentou ainda mais”.

Segundo as contas da instituição de Bretton Woods, os rácios preço das casas/rendimentos situam-se atualmente em mais de 30% acima das tendências de longo prazo, enquanto os rácios preço das casas/rendas “também excedem em muito as normas históricas, incluindo em economias do Norte da Europa ou de países europeus emergentes.

O FMI indica, neste sentido, que os modelos empíricos apontam para uma supervalorização de 15-20% na maioria dos países europeus, mas com as rendas ao banco ainda a aumentar e os rendimentos reais a serem prejudicados pela inflação, “os preços das casas caíram recentemente em muitos mercados”.

Na mesma análise, assinala ainda que o aumento do custo de vida e as prestações ao banco das casas estão a “esticar” o equilíbrio familiar, que se pode deteriorar ainda mais caso existem mais choques adversos. Em cenários adversos com maiores custos de vida e prestações mais altas, cerca de 45% das famílias - e mais de 80% de baixos rendimentos – poderia enfrentar maiores dificuldades económicas.

FMI
Diretora do FMI, Kristalina Georgieva/Getty Images

FMI prevê "grande correção no preço das casas"

Ainda assim, o FMI acredita que “os impactos nos balanços dos bancos devem ser geralmente contidos”, mas considera que esta “fotografia fica mais sombria sob uma combinação de choques, incluindo uma grande correção nos preços das casas”.

“Sob o padrão de referência (Common Equity Tier 1), a diminuição de capital do aumento do incumprimento da dívida das famílias não ultrapassaria 100 pontos-base na maioria dos países, mas uma desaceleração de 20% no mercado imobiliário aumentaria as perdas para um intervalo entre 100 a 300 pontos base, com os países do Sul e Leste da Europa a serem os mais severamente afetados”, acrescenta.

Neste cenário, tais perdas podem levar a padrões de crédito mais rígidos, aumentando as hipóteses e ciclos adversos entre os balanços dos bancos, os preços de imóveis (e outros ativos) e economia real.

Crise na habitação: FMI aconselha Portugal e outros países a estarem “vigilantes” 

O diretor do FMI para a Europa aconselha as autoridades de países europeus com problemas de habitação, como Portugal, a “estarem vigilantes” sobre os riscos para a estabilidade financeira, propondo soluções no lado da oferta.

“Os preços das casas aumentaram bastante em vários países ao longo da última década e isso aconteceu em função das baixas taxas de juro durante um período relativamente longo e, depois, em vários países, tivemos outro impulso durante a pandemia porque as pessoas passaram para o teletrabalho”, contextualizou Alfred Kammer, em entrevista a agências de notícias europeias, incluindo a agência Lusa, em Estocolmo.

casas em Portugal
Foto de Madu Dourado no Unsplash

Confrontado pela Lusa com os atuais problemas de habitação verificados em Portugal, o responsável apontou ser necessário acautelar “os riscos para a estabilidade financeira”. “Os supervisores têm de ser vigilantes e realizar testes de stress”, sugeriu Alfred Kammer. Ainda assim, o diretor do FMI para a Europa salvaguardou que “não se trata apenas de um problema do lado da procura”.

“Tem havido na Europa, em muitos países, um problema do lado da oferta e isso tem de ser abordado, independentemente do que estamos a ver na frente dos preços das casas”, defendeu. Segundo Alfred Kammer, este cenário no mercado habitacional “tem sido muito mau para o crescimento porque quando se olha para os jovens, eles não podem se mudar para os centros urbanos porque é muito caro”.

“Essa é uma questão mais vasta fora das atuais correções a que estamos a assistir, que muitos governos europeus têm efetivamente de tratar”, concluiu.

*Com Lusa

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