
Muito se discute hoje em dia sobre o que é que as pessoas procuram numa casa. A pandemia trouxe mudanças que vieram para ficar e despertou até os mais desatentos, para o que lhes fazia falta. Com mais ou menos tendências à mistura, as casas vivem-se de forma diferente. E essas diferenças nada têm que ver com as nacionalidades – sejam portugueses ou estrangeiros –, mas sim com os estilos de vida. São eles que ditam os essenciais de uma casa. Modas à parte, há três critérios transversais que é preciso cumprir: “conforto, espaço e funcionalidade”. Quem o diz é a arquiteta de interiores Cristina Jorge de Carvalho, uma apaixonada pelos designs contemporâneos, intemporais e únicos.
Cristina gosta de pensar os projetos de decoração para lá das tendências, de uma forma orgânica e até instintiva, revela ao idealista/news. Ao longo dos anos, a designer procurou uma assinatura distintiva, que já lhe valeu vários prémios: desde casas particulares, hotéis, até lojas de luxo. O seu atelier é conhecido pela estética sóbria e exclusiva, num jogo inteligente de volumes, materiais e texturas.
A verdade é que este mundo não foi, desde logo, uma escolha óbvia. Cristina Jorge de Carvalho formou-se em Gestão de Empresas, em Lisboa, mas a paixão pela arquitetura e design de interiores falou mais alto que os números. Esta vontade levou-a até Londres para estudar na Inchbald School of Design. Por uma questão de gosto pessoal, ainda faz muitos desenhos à mão - é na folha em branco que encontra maior facilidade de expressão.
O uso de cor nas casas, diz, “é sem dúvida uma tendência”, bem como as "formas curvas nas peças de mobiliário, texturas e/ou trabalhados nas paredes, mármores e pedras com cor e com muitos veios, tecidos mais ricos, quer em texturas quer em padrões": Além disso, procuram-se casas “onde o conforto seja a premissa máxima”.
Apesar de trabalhar o segmento de luxo, e de o seu foco ser a exclusividade e não a massificação, Cristina considera que, mesmo para quem tem menos orçamento, é essencial “que se opte sempre pela compra de peças boas, duráveis e intemporais”, isto é, peças necessárias, que tenham uma função específica. E o que é que não pode mesmo faltar nunca numa casa? A arquiteta de interiores dá a resposta na entrevista escrita que agora reproduzimos na íntegra.

Formou-se em Gestão de Empresas, em Lisboa, mas a paixão pela arquitetura e design de interiores levou-a até Londres. Quando e por que é que a Cristina decidiu dar um novo rumo à carreira?
Desde sempre fui apaixonada por Arquitectura e Design de Interiores. Depois de 7 anos a trabalhar em diferentes áreas em Gestão, concluí que tinha que seguir a minha paixão e fui para Londres estudar Interior Design na Inchbald Scholl of design. Foi em 1997. Fazer aquilo de que mais gostamos é um privilégio. “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás de trabalhar nem um dia na tua vida”, dizia Confúcio... é assim que me sinto hoje.
O que é que tanto a atrai neste universo?
As paixões não se explicam… Poder criar de forma constante é apaixonante. Cada projeto é uma forma de poder dar expressão à minha criatividade e tornar a vida dos meus clientes mais inspiradora e funcional. Poucas coisas me fazem sentir tão realizada como criar espaços de raiz que tornam os sonhos dos nossos clientes realidade e as suas vidas mais felizes. Pensar nos diferentes espaços, explorar cada ângulo e fazê-los alcançar o seu potencial máximo são desafios que me preenchem.
Poucas coisas me fazem sentir tão realizada como criar espaços de raiz que tornam os sonhos dos nossos clientes realidade e as suas vidas mais felizes.
Em 2000, funda o seu próprio atelier. Qual a importância deste “passo”?
Criar o meu atelier, que tem morada fixa no coração de Lisboa, na Avenida da Liberdade, foi um marco importante, definiu o arranque de uma nova carreira. Foi a concretização de uma mudança completa na minha vida. Mais de 20 anos depois, o atelier consegue responder a diferentes necessidades e conta com uma equipa de profissionais especializados – arquitetos, designers de intereriores e designers de produto –, além de prestar serviços de consultoria em várias disciplinas do design e arquitetura paisagista. Tem sido, sem dúvida, uma viagem muito completa e desafiante.

Como era a arquitetura e design de interiores há mais de 20 anos, quando tudo começou? Quais as principais diferenças, face à atualidade?
No essencial acho que era igual, embora existissem menos ferramentas de design do que hoje em dia. Ainda assim, é notória a evolução natural na arquitetura e no design de interiores, à semelhança do que acontece em outras áreas das nossas vidas. Atualmente temos mais ferramentas, programas que nos facilitam no desenvolvimento dos projetos. Há 20 anos ainda desenhávamos quase tudo à mão. É verdade que, por uma questão de gosto pessoal, ainda faço os desenhos à mão, uma vez que descubro uma maior facilidade de expressão no desafio de uma folha em branco – posteriormente, a minha equipa passa os meus desenhos para os vários programas com que trabalhamos.
E quais foram os principais desafios que teve de enfrentar ao longo destes anos?
Ao longo destes mais de 20 anos, um dos grandes desafios foi saber manter-me fiel à minha linha estética, mesmo quando tendências distintas iam marcando este universo tão suscetível à mudança. Sem desvalorizar, acredito que a estética sóbria e funcional, que define o meu trabalho, prevalece para lá do que é moda em determinado momento.
O tipo de design que desenvolvo é-me bastante orgânico e até instintivo.
Onde procura inspiração para os projetos a que se dedica?
A inspiração surge muito naturalmente em cada projeto e é necessário deixá-la fluir sem grandes obstáculos. Por vezes, é determinada pela arquitetura pré-existente, mas uma peça de mobiliário também pode servir de inspiração, bem como a localização geográfica do projeto. O mais importante é enquadrá-la sempre com os propósitos e objetivos definidos pelo cliente.
Designs contemporâneos e ecléticos, mas também sóbrios e confortáveis. Como é que se concretiza esta premissa, na prática?
Essas características estéticas refletem, de facto, a minha assinatura e surgem naturalmente. A escolha dos materiais, das peças, das cores, das texturas é feita de forma a conseguir-se este equilíbrio entre contemporâneo e ecléctico mas também sóbrio e confortável. O tipo de design que desenvolvo é-me bastante orgânico e até instintivo.

Com vários projetos dentro e fora de Portugal, há algum que lhe tenham ficado na memória? Por algum pormenor ou história em particular...
O projeto de arquitetura de interiores que desenvolvi para um Loft de 400 m2 em Nova Iorque, feito durante a pandemia Covid-19 com as consequentes limitações. Na impossibilidade de viajarmos para Nova Iorque as obras foram acompanhadas através de reuniões por WhatsApp. Apesar de todas as limitações e desafios, o projeto correu lindamente.
Qual a parte do processo de criação que mais gosta?
Criar o conceito de um projeto. Procuro sempre desenvolvê-lo de forma a que se diferencie de tudo o que fiz anteriormente. Procurar os materiais base e as peças-chave, definir as linhas de cada projeto são, sem dúvida, as etapas que mais gosto no processo criativo.
No mundo da arquitetura e design de interiores, há um antes e pós pandemia. As casas mudaram mesmo?
Sim, sobretudo para as pessoas que não viviam tanto as suas casas. De repente, foram confrontadas com a sua realidade em casa e aperceberam-se de tudo o que lhes fazia falta. As áreas de trabalho passaram a ser muito importantes, as cozinhas tornaram-se num espaço de encontro para a família e tornou-se claro que as crianças precisam de espaços para brincarem. A somar a isso, revelou-se evidente a necessidade de espaços exteriores, como varandas ou terraços desafogados.

O que é que as pessoas procuram nos dias de hoje numa casa?
Conforto, espaço e funcionalidade.
Há diferenças entre os clientes nacionais e estrangeiros? Se sim, quais?
Não me parecem existir diferenças significativas entre uns e outros. Existem sim formas de viver as casas diferentes, mas isso não tem que ver com nacionalidades, mas sim com estilos de vida diferentes.
E quais são as tendências do momento?
O uso de cor nas casas é sem dúvida uma tendência, bem como as formas curvas nas peças de mobiliário, texturas e/ou trabalhados nas paredes, mármores e pedras com cor e com muitos veios, tecidos mais ricos, quer em texturas quer em padrões, e a procura de uma casa onde o conforto seja a premissa máxima.
O uso de cor nas casas é sem dúvida uma tendência, bem como as formas curvas nas peças de mobiliário, texturas e/ou trabalhados nas paredes (...)
O foco do vosso atelier é a exclusividade e não a massificação. O negócio posiciona-se, sobretudo, no segmento de luxo? Apenas residencial, ou também outro tipo de espaços, como escritórios e hotéis?
Projetos exclusivos em áreas tão diferentes como casas particulares, hotéis, escritórios e lojas refletem, de facto, o posicionamento do nosso atelier. Desenvolvemos um trabalho exclusivo no segmento high-end. Também temos uma linha de mobiliário e uma linha de tapetes exclusiva, as quais se posicionam no mesmo segmento. São peças desenhadas por mim e trabalhadas por artesãos nacionais.

E para quem tem menos orçamentos, que conselhos daria?
O essencial é que se opte sempre pela compra de peças boas, duráveis e intemporais. E que se opte apenas pelas peças necessárias, isto é, que tenham uma função específica.
Quais os erros a evitar sim ou sim no momento de decorar uma casa? E o que é que não pode faltar e merece a mesmo a pena investir?
O erro mais comum talvez seja não comprar a peça correta, seja porque ainda não a encontrámos ou porque a consideramos cara. Será preferível comprar mais tarde a peça certa. E o que é que não pode faltar nunca? Um colchão e sofá excelentes, duas peças que merecem sempre o investimento.
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