Para os fundadores do atelier Ding Dong, mais do que seguir tendências, as casas devem refletir quem as habita.
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Ding Dong
Michael Miranda & Davide Gomes Créditos: Cláudia Rocha

As casas devem contar o que somos – e por isso não há casas perfeitas ou ideais. Cada casa é uma casa e deve responder às necessidades reais de quem nela habita, fazendo com que nem sempre seja fácil encontrar o equilíbrio certo entre conforto e intemporalidade. Para os fundadores da Ding Dong, cada casa “é uma viagem” e não “há fronteiras que se imponham na concretização de sonhos”. Os fundadores deste atelier de arquitetura e design de interiores, Michael Miranda e Davide Gomes, acreditam que os espaços devem adaptar-se ao estilo de vida de cada um, e serem um espelho do que sentimos ou queremos transmitir.

A paixão pela decoração, arte e arquitetura uniu estes dois amigos para fundar a Ding Dong há 10 anos. Michael, arquiteto de formação, encontrou refúgio no design de interiores e nunca mais se afastou dessa área – as artes estão presentes na sua vida desde sempre. Já David passou grande parte da sua infância no meio da natureza, tende desenvolvido vários projetos nesta área depois de licenciar-se em Engenharia do Ambiente. Desde então, focaram-se em dar vida a projetos de interiores, cá dentro e lá fora, com uma “identidade singular” – desde uma casa de família na Foz do Porto ou St. Tropez até ao The Editory Boulevard Aliados Porto Hotel.

Não gostam de focar os seus trabalhos em tendências, até porque isso “pode levantar o risco de acabarmos com espaços que vão ao encontro de uma tendência, mais do que a um reflexo da pessoa que o vai habitar”. O grande objetivo dos seus trabalhos é criar atmosferas intemporais. Cada projeto, dizem, é encarado como oportunidade para “aliarem a história e a funcionalidade de um espaço em transformação às expetativas e possibilidades de um novo mundo feito de escolhas arrojadas e materiais nobres que perdurem no tempo”.

Procuram inspiração na música, no cinema, na arte, na moda, na arquitetura e nas pessoas, “uma fórmula abundante que se estende a cada espaço que recriam ou constroem desde o primeiro tijolo”, tal como explicam nesta entrevista que agora reproduzimos na íntegra.

Ding Dong
Foz Apartment - Créditos: Francisco Almeida Dias

A decoração, arquitetura e arte uniu-vos para fundar a Ding Dong. Dez anos depois, que balanço fazem da atividade?

Davide Gomes (DG): Em dez anos desenvolvemos inúmeros projetos residenciais e comerciais, extrapolamos o universo Ding Dong para o design de mobiliário, iluminação e decoração, e mais recentemente também para o lifestyle (lançámos uma fragrância para casa e estamos neste momento a preparar o lançamento de um outro novo produto com o qual estamos muito entusiasmados), abrimos portas a Lisboa e crescemos enquanto equipa.

Michael Miranda (MM): Os nossos projetos têm vindo a merecer o reconhecimento de algumas das publicações mais relevantes da área, o que nos deixa muito satisfeitos, mas é nos nossos clientes que revemos o verdadeiro valor do nosso trabalho. Temos uma base sólida de clientes, alguns dos quais trabalham connosco há vários anos e em mais do que um projeto. Não podemos deixar de fazer um balanço positivo, que nos deixa entusiasmados com o que ainda está para vir.

O que é que (mais) mudou no mundo do design de interiores e arquitetura? Já com uma pandemia pelo meio...

MM: A pandemia obrigou muitos de nós a passar mais tempo em casa do que alguma vez antes o fizemos. Talvez isso tenha levado as pessoas a valorizar ainda mais as suas casas, a forma como vivem os espaços e como estes as fazem sentir. Uma casa não é só uma casa, é (ou deveria ser) o nosso refúgio e, portanto, um reflexo daquilo que somos.

Uma casa não é só uma casa, é (ou deveria ser) o nosso refúgio e, portanto, um reflexo daquilo que somos.

A que tipo de projetos se dedicam atualmente?

DG: Desde o início que trabalhamos tanto no espectro residencial como no comercial. Em Portugal, estamos neste momento a trabalhar num escritório no Porto, o lobby e andar executivo de uma empresa internacional; nas zonas comuns, átrios e galeria de arte do The World Trade Center Lisboa. Paralelamente, temos vários projetos residenciais em Lisboa, Porto e Algarve. E, a nível internacional, temos um 'pied-à-terre' em Miami, e uma casa de família em St Tropez.

Ding Dong
Projeto Foz - Créditos: Francisco de Almeida Dias

Há algum, em particular, que gostassem de destacar?

DG: Todos os projetos merecem sempre toda a nossa dedicação, mas os de Miami e St. Tropez, por serem fora do país, acabam por exigir mais de nós. Estamos habituados a trabalhar fora de Portugal e atualmente, muito graças à facilidade em viajar e à facilidade de comunicação [as reuniões online banalizaram-se também nesta área], ter projetos do outro lado do oceano não é, de todo, um entrave. No entanto, não podemos deixar de reconhecer que são projetos com os seus desafios próprios.

Conseguem eleger o projeto mais desafiante até hoje? Em Portugal e no estrangeiro.

MM: Cada projeto vem com os seus desafios muito próprios, mas talvez o do The Editory Boulevard Aliados Porto Hotel. Além de ter sido o nosso primeiro projeto para um hotel, foi parcialmente desenvolvido durante a pandemia.

hotéis Porto
The Editory Boulevard Aliados Hotel - Créditos: Montse Garriga Grau

Construir de raiz ou reabilitar? E porquê?

DG: Ambos permitem explorar diferentes possibilidades, mas a nossa predileção recai na reabilitação. A reabilitação permite-nos, de certa forma, juntar o melhor dos dois mundos: há sempre algo de único nos edifícios que reabilitamos, que de alguma forma conseguimos transpor para os nossos projetos, criando um equilíbrio entre o existente e o novo que nos permite desenhar espaços com uma personalidade e carácter muito próprios.

A reabilitação permite-nos, de certa forma, juntar o melhor dos dois mundos: há sempre algo de único nos edifícios que reabilitamos

É possível ter espaços inovadores, sustentáveis e intemporais, ao mesmo tempo?

MM: É para isso que trabalhamos. Espaços que possam passar a prova do tempo, em que o cliente se sinta confortável 10 anos depois. Não existe uma fórmula, mas acreditamos que escolher peças de qualidade e não cair em tendências seja um bom ponto de partida.

Hoje em dia, o que é que os clientes procuram, por exemplo, numa casa?

MM: Os clientes procuram uma casa que se adeque verdadeiramente ao seu estilo de vida, acolhendo as necessidades da sua família sem que isso exija um compromisso ao nível da estética. O conforto e intemporalidade também são incontornáveis.

Ding Dong
Teatro House - Créditos: Montse Garriga Grau

E onde é que a Ding Dong vai buscar inspiração? Qual é vossa filosofia criativa?

MM: Arquitetura, arte, música, cinema e moda fazem parte do quotidiano da nossa equipa e são uma fonte de inspiração, que se reflete nos espaços que criamos. Os próprios espaços que trabalhamos são, muitas vezes, a inspiração do próprio projeto, por exemplo, as características arquitetónicas originais, o espaço circundante, pequenos detalhes...

O que é que pode esperar uma pessoa que coloque a sua casa nas vossas “mãos”?

DG: Um total comprometimento com o desenvolvimento de um espaço que seja um reflexo do cliente, pensado ao detalhe para corresponder ao seu modo de vida.

Arquitetura, arte, música, cinema e moda fazem parte do quotidiano da nossa equipa e são uma fonte de inspiração, que se reflete nos espaços que criamos.

Quais são as principais tendências para este ano?

MM: Tentamos não nos esquecer do nosso mote que é o de nos dedicarmos à criação de projetos de arquitetura e interiores com atmosferas intemporais. Acredito que focarmos o nosso trabalho em tendências pode levantar o risco de acabarmos com espaços que vão ao encontro de uma tendência mais do que a um reflexo da pessoa que o vai habitar. Para nós, mais relevante do que tendências, é o método como um processo para alcançar resultados impecáveis que agradam tanto aos nossos clientes quanto a nós.

Ding Dong
Ding Dong Rio House

Continuam a trabalhar com artesãos para produção de mobiliário e têxteis? Por que é que este tipo de parceria é tão importante?

MM: Sim, estas parcerias são muito importantes, tanto para a produção de móveis da nossa autoria, como no desenvolvimento de peças de decoração. No caso do mobiliário, colaborarmos com artesãos permite-nos “beber da sua sabedoria” e criar peças com acabamentos de qualidade e realmente “construídos para durar”. No caso dos objetos de decoração, trata-se mais da liberdade de exploração, por exemplo, há cerca de um mês lançámos uma coleção limitada de jarras cerâmicas [a coleção Chloris], materializadas pelo ceramista português Joaquim Pombal. Dois anos após o lançamento das primeiras peças cerâmicas assinadas pelo estúdio, a mineralidade do barro, a manualidade da roda de oleiro, trabalhar e lidar com o imprevisto, continuam a ser uma atração para nós. A criação desta coleção de forma totalmente artesanal permitiu-nos chegar a um resultado irrepetível, o que torna estas peças ainda mais especiais.

No caso do mobiliário, colaborarmos com artesãos permite-nos “beber da sua sabedoria” e criar peças com acabamentos de qualidade e realmente “construídos para durar”.

No final de 2022, mudaram a “casa-mãe” da Ding Dong para Matosinhos... Porquê? Que espaço é este?

DG: A Ding Dong tem vindo a crescer consistentemente ao longo destes 10 anos, e, no ano em que assinalamos uma década pareceu-nos o passo natural mudarmos. A equipa cresceu e o volume de projetos também e este espaço permite-nos receber os nossos clientes de outra forma, mostrar-lhes o universo Ding Dong in loco. O edifício foi, em tempos, um armazém, agora acolhe o nosso estúdio no primeiro piso, e a nossa loja no rés-do-chão. Pode-se dizer que o nosso espaço de Matosinhos é agora o laboratório das nossas experiências criativas.

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Miramar House - Créditos: Montse Garriga Grau
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