A reabilitação de fábricas de cimento e outras estruturas industriais abandonadas tornou-se uma das grandes tendências urbanas do século XXI, com o objetivo de preservar o passado dando-lhe uma nova interpretação.
Estes vastos espaços de produção ganham uma segunda vida como centros culturais e comerciais, habitações ou locais de encontro para a comunidade.
Em diversos países, o património industrial está a ser recuperado, transformando estruturas de ferro, betão e tijolo para novos usos contemporâneos.
Em Xangai, um dos exemplos mais ambiciosos é o Gate M West Bund Dream Center, um projeto que converteu uma antiga fábrica de cimento e os seus silos, situados nas margens do rio Huangpu, num espaço cultural multifuncional.
Este projeto segue a mesma linha de muitas outras cidades em pleno crescimento que procuram repensar a forma como as estruturas industriais podem ser transformadas para servir novos propósitos e tornar-se melhores vizinhas, passando de polígonos industriais isolados a bairros prósperos e integrados.
Do betão ao laranja
O design do Gate M West Bund Dream Center foi desenvolvido pelo estúdio MVRDV, conhecido pelo seu espírito experimental e pela defesa da arquitetura circular. A equipa optou por celebrar a história do local em vez de a apagar.
“Desde o início ficou claro que os edifícios existentes tinham muito valor. Não queríamos demolir coisas só porque seria mais simples, já que isso significaria mais carbono e mais resíduos”, explicaram no estúdio.
A intervenção transforma os antigos volumes industriais nos grandes protagonistas do conjunto, destacando-os com escadas de emergência e percursos verticais em cor laranja que serpenteiam pelo exterior das estruturas.
Estes percursos, formados por escadas e elevadores, funcionam como guias visuais que conduzem os visitantes através dos diferentes níveis e espaços culturais do complexo.
Dentro do complexo, o edifício M Factory, antiga unidade de produção de cimento, ergue-se como o coração do novo distrito. No piso térreo encontra-se um mercado gastronómico e um restaurante, enquanto a parte superior acolhe um amplo espaço cultural, preparado para exposições, conferências e eventos artísticos.
A ligação entre os diferentes níveis faz-se através de uma espetacular escada laranja, construída a partir de uma antiga correia transportadora, hoje transformada num percurso arquitetónico icónico.
Nova vida para os silos
Junto à fábrica principal, também os silos de cimento originais foram transformados em espaços de lazer e desporto. Um deles converteu-se num centro de escalada vertical, onde percursos em laranja serpenteiam pela estrutura até um miradouro e uma plataforma de observação no topo. A ideia é permitir que os visitantes sintam fisicamente a escala dos antigos depósitos industriais.
O ambiente envolvente foi projetado pelo gabinete de paisagismo Field Operations, que desenhou um espaço público com vista para o passeio fluvial do West Bund, uma zona que deixou de ser um enclave fabril para se tornar uma das áreas culturais mais dinâmicas de Xangai..
Além de reabilitar os edifícios históricos, o projeto integrou também estruturas inacabadas de um desenvolvimento anterior. Estas foram revestidas com fachadas neutras e coberturas verdes, adaptando-as para acolher lojas, restaurantes e hotéis.
Segundo o atelier, o desafio era “unir estas peças e fazê-las funcionar como um único espaço, porque eram uma combinação desconfortável”. Para o conseguir, transformaram os edifícios mais recentes no pano de fundo, permitindo que os elementos industriais originais assumissem o verdadeiro protagonismo.
O Gate M West Bund Dream Center insere-se no plano diretor do Dream Center, desenvolvido pelo próprio atelier, que pretende transformar toda a margem do rio Huangpu num corredor cultural.
A norte, o atelier Atelier Deshaus reabilitou outras estruturas industriais, enquanto Schmidt Hammer Lassen projetou o West Bund Dome Art Centre e o Shanghai West Bund Theatre, consolidando a área como uma referência do urbanismo contemporâneo na China.
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