
Quando se fala em casas de luxo, o que normalmente vem à cabeça são grandes moradias modernas, com acabamentos únicos. Mas nem sempre é assim.
Em Barcelona, Espanha, uma antiga fábrica de cimento foi transformada numa habitação singular, que se destaca tanto pela dimensão como pela originalidade.
O projeto é da autoria do arquiteto catalão Ricardo Bofill, que encontrou neste espaço industrial abandonado uma oportunidade rara de criar uma casa única.
Uma fábrica de cimento com 30 silos e uma chaminé de 105 metros

O edifício localiza-se em Sant Just Desvern, a poucos minutos do centro de Barcelona. Construído nos anos 20, funcionou durante décadas como uma fábrica de cimento, até ser desativado no final dos anos 60.
Quando Ricardo Bofill o descobriu, em 1973, o complexo estava em ruínas, coberto de vegetação e com mais de 30 silos em estado de abandono. A maioria teria olhado para aquela fábrica abandonada como um conjunto de estruturas obsoletas. Mas o arquiteto viu ali potencial para algo muito diferente.
Depois de adquirir a propriedade, Bofill iniciou um processo de transformação profunda. Algumas partes foram demolidas, mas muitos elementos estruturais foram mantidos.
A intervenção respeitou a escala monumental do edifício, aproveitando os volumes verticais para criar uma série de espaços habitacionais e de trabalho com características muito pouco comuns numa habitação tradicional.
Uma casa, um atelier e um espaço de inspiração
Ao longo dos anos, a antiga fábrica de cimento tornou-se a residência principal do arquiteto, mas também o local onde funcionava o seu atelier, o Taller de Arquitectura.
Com zonas habitacionais distribuídas por vários pisos, amplas salas com pé-direito de vários metros, jardins interiores e exteriores, e até espaços de trabalho integrados, a propriedade funciona quase como uma pequena cidade murada.
O betão à vista, que em muitos casos seria considerado um acabamento inacabado, aqui é protagonista. A vegetação, plantada de forma estratégica, cobre grande parte das fachadas e contribui para criar um ambiente que combina o industrial com o natural. Há salas dentro de silos, corredores que atravessam estruturas antigas e escadas que ligam zonas interiores e exteriores de forma fluída.
Ao longo dos anos, o projeto foi sendo adaptado e complementado. Hoje, é considerado uma referência internacional no que diz respeito à reconversão de edifícios industriais em espaços habitacionais. La Fábrica, como ficou conhecida, já foi capa de inúmeras revistas de arquitetura e design, e continua a atrair visitantes, estudantes e profissionais da área.

Exemplos semelhantes em Portugal
Embora em Portugal a escala dos edifícios industriais seja, por norma, menor do que em Barcelona, existem vários casos de recuperação notáveis. Eis alguns exemplos de espaços industriais que foram transformados em habitação ou em empreendimentos de uso misto, com grande impacto nas respetivas zonas urbanas.
Armazéns transformados em lofts no Porto
Na zona oriental do Porto, vários antigos armazéns ligados à atividade comercial e industrial da cidade foram reconvertidos em habitação, dando origem a lofts modernos com traços industriais.
Estes projetos mantêm elementos como vigas metálicas, paredes de tijolo e grandes janelas, proporcionando espaços amplos e cheios de luz natural. A zona de Campanhã e a Rua de Miraflor são dois dos pontos onde estas intervenções estão mais visíveis.
Village Underground, em Lisboa
Embora não seja uma habitação, o Village Underground é um exemplo de reaproveitamento criativo de estruturas pré-existentes. Localizado em Alcântara, junto à LX Factory, este espaço cultural e de coworking foi criado a partir de contentores marítimos e autocarros antigos.
É uma referência na área da arquitetura modular e reutilização de materiais, integrando-se perfeitamente no tecido urbano industrial da zona.
Antiga moagem em Marvila
Também em Lisboa, na freguesia de Marvila, há uma antiga moagem que foi transformada em espaço habitacional e cultural. O projeto de reconversão manteve a linguagem industrial do edifício, integrando-a com novas funcionalidades.
A zona, que outrora estava degradada, está agora em franca valorização, com vários empreendimentos a seguir o mesmo caminho.
Edifício “Fábrica 1921”, em Lisboa

Outro exemplo de sucesso é o empreendimento “Fábrica 1921”, também em Lisboa, onde uma antiga fábrica de lanternas foi reconvertida num condomínio residencial.
O projeto procurou manter a memória do edifício original, conjugando elementos como a fachada em tijolo, estruturas metálicas e grandes pátios interiores com as exigências do conforto moderno.
Reabilitação urbana e valorização do património
Estes projetos mostram que a reabilitação de espaços industriais pode ser uma mais-valia não só do ponto de vista arquitectónico, mas também urbanístico e económico.
Ao invés de demolir, opta-se por preservar e adaptar. Isto permite manter viva a memória das cidades, ao mesmo tempo que se responde a novas necessidades habitacionais e funcionais.
No caso da mansão de Ricardo Bofill, a intervenção foi muito além da simples recuperação. Foi uma reinvenção completa do espaço, com uma visão clara e ambiciosa. E essa visão é cada vez mais partilhada por arquitetos e promotores que procuram soluções sustentáveis, originais e com identidade.
Tendência em crescimento
A reconversão de edifícios industriais em habitação ou espaços culturais é uma tendência que tem vindo a ganhar força nos últimos anos. A escassez de terrenos disponíveis nas cidades, aliada ao aumento da procura por soluções habitacionais diferenciadas, está a levar muitos projetos neste sentido.
O exemplo da antiga fábrica de cimento em Barcelona mostra como é possível transformar um espaço abandonado, aparentemente sem valor, numa das casas mais extraordinárias da Europa. É um caso que inspira e que demonstra que, com visão e criatividade, é possível ir muito além do convencional.
Em Portugal, os exemplos acumulam-se e a tendência é para continuar. O que antes era considerado obsoleto pode agora ser o ponto de partida para criar casas com história, identidade e uma forte ligação ao contexto urbano.
E, num mercado cada vez mais competitivo, a originalidade e a autenticidade fazem toda a diferença.
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