Beeple passou de ser um estranho a estar entre os três artistas vivos de maior sucesso do mundo, depois de a sua obra ter sido vendida online por 69,4 milhões de dólares.
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Comprador de obra digital de Beeple quer criar museu virtual para exibição imersiva
Everydays: The First 5,000 Days ("Todos os dias: Os primeiros 5.000 dias”, em tradução livre), a obra de Beeple. Christie's

O comprador de uma obra do artista socialmente conhecido como Beeple - recentemente vendida em leilão através da Internet por 69,4 milhões de dólares (58,4 milhões de euros), um valor recorde para obras não físicas - anunciou que pretende construir um museu virtual, para permitir ao público uma “experiência imersiva” na obra.

De acordo com a publicação The Art Newspaper, o proprietário, identificado como “Metakovan”, um investidor digital, fundador e financiador da Metapurse, o maior fundo mundial de NFT (ativos únicos digitais), como a leiloeira Christie's o apresentou, pretende criar um museu adequado para gerar experiências imersivas na obra.

Intitulada Everydays: The First 5,000 Days ("Todos os dias: Os primeiros 5.000 dias”, em tradução livre), a obra de Beeple, cujo verdadeiro nome é Mike Winkelmann, é uma colagem digital de fotografias tiradas desde 1 de maio de 2007, ao longo de 5.000 dias.

"Esperamos trabalhar com alguns dos melhores arquitectos do planeta para projectar algo verdadeiramente digno desta obra-prima”, disse Twobadour Paanar, administrador da Metapurse, falando em nome da empresa e de “Metakovan”.

A obra do artista, um enorme arquivo “jpeg”, que já pode ser visualizado em qualquer navegador da Internet, “tem uma beleza que pode ser experimentada em qualquer parte do mundo, porque é puramente digital, ao contrário da Mona Lisa, que está no espaço físico”, comentou, acrescentando que a empresa pretende criar “um monumento que esta peça em particular mereça, que só pode existir no “metaverso"”.

Segundo Twobadour Paanar, o público poderá, neste museu virtual, usar auriculares de realidade virtual “para uma experiência realmente imersiva” nas imagens reunidas ao longo de 5.000 dias pelo artista.

Viragem na história da arte

A Christie's classificou este como o primeiro grande leilão a apresentar uma obra digital certificada com um “token” não-fungível (NFT, na sigla inglesa), e também a primeira vez em que foi usada cripto-moeda para pagar a obra adquirida, recorrendo à tecnologia Blockchain, na autenticação e coleccionismo de arte. Segundo a leiloeira 22 milhões de pessoas assistiram ao final da licitação, em que participaram compradores de 11 países.

Everydays: The First 5,000 Days tornou-se a terceira mais cara obra de um artista vivo vendida em leilão, logo a seguir a Jeff Koons e David Hockney, e também foi mais valorizada do que as da maioria dos antigos mestres da pintura, incluindo Rafael e Ticiano.

Na altura, o artista declarou: “Acredito que estamos a testemunhar o início do próximo capítulo da história da arte, a arte digital”.

A comercialização de obras com NFTs tem vindo a disseminar-se rapidamente nos Estados Unidos, onde artistas estão a disponibilizar obras autenticadas com estes tokens, caso da banda Kings of Leon com o seu mais recente álbum.

Como se explica o fenómeno Beeple

Alguns fatores, resumidos pela norte-americana The Verge podem ajudar a explicar por que o trabalho de Beeple, cuja obra era de 100 dólares, se tornou tão valioso. Por um lado, tem uma grande base de fãs nas suas redes sociais: com cerca de 2,5 milhões de “seguidores”, que o seguem principalmente para um projeto denominado “Todos os dias”. Consiste em criar e publicar uma nova obra de arte digital todos os dias. O projeto tem 14 anos.

Ao mesmo tempo, os NFTs dispararam no último mês e, pelo menos por enquanto, muitos acreditam ser a forma como a arte digital será comprada e comercializada no futuro. Para os colecionadores que confiam nisto, a escalada de preços não é nada comparada ao que NFTs valerão no futuro, quando o resto do mundo tiver percebido o seu valor.

A Christie's também é um bastião tanto para a arte de Winkelmann quanto para os NFTs. A casa de leilões com 255 anos de história vendeu algumas das pinturas mais famosas de sempre, desde o único retrato conhecido de Shakespeare criado durante sua vida até a última pintura descoberta por Leonardo da Vinci. 

E na leiloeira já se está a planear trabalhar com mais artistas digitais para leiloar outros ativos únicos digitais. E alguns especialistas acreditam que a próxima onda de artistas e colecionadores verá os NFT simplesmente como a forma como a arte é comprada e vendida.

*Com Lusa

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