A Casa Tambor, em Cabo Verde, transformou as casas de "bidão" e chapa num sofisticado e atrativo turismo ecológico.
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Este hotel de lata fez um "milagre" em São Vicente
Casa Tambor
Lusa

O hotel Casa Tambor Cabo Verde transformou uma imagem de pobreza para muitas famílias da ilha de São Vicente num negócio sofisticado e atrativo, combinando o conceito de casas não clássicas, em bairros de lata, com turismo ecológico. "O que atrai os hospedes é a calmaria e a simplicidade. Percebem que há muitas coisas que poderiam ser reaproveitadas no dia-a-dia", explica à Lusa Elisabete Rodrigues, gestora do hotel, instalado em Ribeira de Vinha, São Vicente, desde 2019.

Dois dos cinco quartos do pequeno hotel dão nome ao empreendimento por estarem forrados a chapa ou tambor, à semelhança das casas dos bairros informais naquela ilha - à base das chapas de tambores, madeira, algumas pedras e normalmente uma base de cimento -, mas garantem o conforto necessário aos hóspedes.

"Ainda não decidimos se iremos forrar os outros quartos, mas a ideia é construir mais quartos para termos pelo menos todas as ilhas de Cabo Verde representadas, já que cada quarto leva o nome de uma ilha", acrescenta.

O espaço conta ainda com uma horta onde cultivam produtos utilizados na preparação das refeições do hotel. "Se alguém quiser ajudar a cuidar da horta ou plantar uma arvore, terá toda autonomia para isso", refere.

Casas humildes que escondem interiores de outra categoria

Este hotel de lata fez um "milagre" em São Vicente
Casa Tambor

Apesar de o exterior aparentar casas humildes, no interior o cenário é diferente, com estruturas normais e cómodas. Ainda tem o restaurante, em torno de contentores, um parque com cadeiras e mesas feitas com materiais reciclados e piscina.

O espaço fez parte de um 'reality show' holandês, filmado em São Vicente, em que as três famílias que participaram teriam a tarefa de implementar um negócio. Quando o grupo partiu, Elisabete Fortes e o marido compraram o empreendimento, em 2019.

"Gostei muito do espaço logo que conheci e mudei a minha vida toda para poder morar na Ribeira de Vinha. Aqui não ligo muito para a televisão e nem Internet e trabalho muito na terra", assegura a jovem, de 33 anos.

Apesar do desafio que tem sido atrair hóspedes em período de pandemia, a gestora garante que tem servido para quebrar tabus acerca de casas de "bidão".

Um cenário de barracas e casas de "bidão" 

Este hotel de lata fez um "milagre" em São Vicente
wikimedia_commons

O cenário de informalidade, com bairros de casas de chapa, é visível em alguns pontos daquela ilha, a segunda mais importante de Cabo Verde e considerada a capital cultural do arquipélago, mas foi também confirmado pelos dados preliminares do quinto Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH-2021), realizado em julho pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Cabo Verde.

É que dos 23.976 edifícios recenseados na ilha de São Vicente, apenas 68,5% estão concluídos, o terceiro pior registo dos 22 concelhos (nove ilhas habitadas). E desse total, 7,3% são considerados como edifícios "não clássicos", que o INE descreve como barracas ou casas de bidão, a percentagem mais elevada do país e que corresponderá a 1.750 desses edifícios só em São Vicente, mais de metade das 2.977 que o INE contabilizou em Cabo Verde (crescimento de 85,7% face a 2010).

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